Entrevista: Lutgens e a potência do Techno nacional
Mais um “garoto” representando o estilo lá fora com suas produções
A cena Techno no Brasil vive um momento de inquestionável crescente. A nova geração tem abraçado cada vez mais o movimento, até mesmo de forma mais profunda, consciente e inclusiva.
Além dessa evolução na forma de conduzir o processo, há também um avanço perceptível na capacidade de criação de alguns artistas que, mesmo com pouca experiência, avançam casas rapidamente e mostram que um futuro promissor está por vir.
Henrique Dutra, ou melhor, Lutgens, começou há pouco tempo, mas já encabeçou charts do Beatport em posições relevantes, o que fez sua carreira “pular casas”.
Com uma estreia bastante consistente na Back In Black, com “Running From Fear”, ele já trouxe em uma sequência cadenciada outros lançamentos em selos como Cartel Recordings (collab com 2STROKE), Compacto Records, Phobiq, Klubinho, Synthétique e Panterre Musique.
Pela gravadora francesa, onde retornou recentemente, emplacou o EP Fear Of The Dark no 14º lugar no chart de Techno Peak Time do Beatport.
Com a retomada de eventos rolando, o convidamos para um papo buscando entender melhor sobre sua história até aqui, entender o momento presente e os passos para o futuro que parece prometer pra ele. Segue o fio!
Lutgens, queremos saber sua história desde o começo, então conte-nos como foi seu start com a música?
Lutgens: Olá, pessoal! Tudo ótimo, obrigado pelo convite, agradeço pela oportunidade. Bom, desde criança eu amo música. Eu era fissurado em baixar novas músicas no Kazaa e Aries.
Andava com meu mp4 pra cima e pra baixo sempre ouvindo muito rock e rap, isso com uns 10 anos… e segui assim, ouvindo e buscando por novas músicas até hoje.
E a música eletrônica entrou em cena quando? Sabemos que você começou curtindo Psy. Teve algum momento marcante que você percebeu que iria trabalhar com isso?
Numa dessas pesquisas músicas, com 14, 15 anos eu encontrei as músicas do Wrecked Machines (primeiro projeto do Gabe), aí conheci Growling Machines, Astrix, Liquid Soul e fui ficando louco com aquilo, eram as melhores músicas que eu tinha escutado em toda minha vida.
Passei a ouvir somente psy-trance pra jogar video game, "tc" no msn, orkut e etc., hahaha. Com 19 anos, em 2013, comecei a frequentar as raves e ficar muito mais ligado ao psy-trance e vertentes, mas só com em 2016 eu conheci o techno, também através de pesquisas na internet.
Ali eu senti novamente aquele sentimendo de descobrir algo novo muito foda, porém foi muito mais forte e eu comecei a buscar mais e mais músicas, artistas, pesquisar sobre eles e fui me aprofundando nesse mundo (sozinho) pois meus amigos não gostavam e na região que eu morava não tinha festas de techno — ou eu não sabia onde eram hahaha.
Enfim, foi ouvindo techno que eu tive certeza que queria fazer música, viver da música, então em 2017 tranquei minha faculdade de jornalismo para poder focar na produção musical e não parei mais.
Aliás, falando sobre esse tema: você tem uma carreira jovem, mas já deu alguns passos bem interessantes, como o lançamento pela MKT. Teve algumas aparições nos charts também. Como você tem se percebido até aqui?
Sou muito feliz por estar conseguindo realizar um grande sonho que era poder fazer minhas músicas.
Lançar por boas gravadoras e estar nos charts são detalhes que fazem dessa realização mais especial, pois percebo que estou no caminho certo e isso é muito gratificante.
Saber que outras pessoas gostam do que faço é sensacional, não tem coisa melhor para mim do que isso.
Quem te inspira na profissão e fora dela? Tanto em termos de som, como atitude. E na hora de produzir: qual o ritual para “entrar no personagem”?
Chorão é uma grande inspiração pra mim, sempre assisto coisas relacionadas a ele, serei eternamente fã da pessoa, do artista e da banda Charlie Brown Jr.
Me inspiro muito também em minha namorada e minha mãe, mulheres de muita atitude, estilo e que acreditam no que querem e lutam até o final.
Na profissão eu tenho muitas referências das quais as músicas e atitudes me inspiram, como Carl Cox, Joseph Capriati, Matt Sassari, Boris Brejcha, Wehbba, Victor Ruiz, Anna e mais um monte.
Mas quem realmente me inspira a produzir é o Andre Salata. Eu gosto muito das músicas dele, mas além disso, vejo o quanto ele sabe sobre produção musical. Um dia espero ter 10% do conhecimento dele.
Seu último EP, Divine Identity, pela Panterré Musique, marcou um retorno ao selo. Como aconteceu essa conexão com eles?
A conexão começou a partir do meu primeiro release por lá em 2020, o EP "Fear of the dark". Acredito que houve uma forte identificação entre mim e meu som com a gravadora.
Vieram dois EPs em 2021 e virão mais em 2022.
A nova geração está muito engajada com a Dance Music, mas especialmente o Techno, por que você acha que isso acontece?
Eu sou relativamente novo no mundo do techno, mas vejo as pessoas mais velhas dizerem o quanto o techno se profissionalizou de uns anos pra cá e com isso foi se expandindo para mais pessoas.
Além disso, há uma grande variedade de estilos, de grooves, características. Músicas mais rápidas, mais lentas, densas, melódicas, retas.
Não é um estilo musical quadrado em que todas as músicas precisam seguir o mesmo padrão, tem para todos os gostos. E claro, junto com a música vem o lifestyle, as pessoas se identificam e assumem para si.
E falando sobre esses movimentos, você percebeu que cada vez mais artistas do estilo tem trazido o Psy Trance e o Trance para os sets? Isso mostra uma versatilidade e tanto. O que você pensa sobre isso, é algo que você pensa em fazer ou faz?
Eu acho isso muito dahora e inclusive a Nina Kraviz faz com perfeição. Adoro quando ela solta algum prog dark no meio de seus sets recheados de techno.
Minhas produções bebem bastante da fonte do psy trance. Direto estou escutando full on ou prog dark e tenho muitas ideias para minhas músicas.
Agora sobre os planos futuros: o que vem aí que você pode nos antecipar em termos de produção? E as gigs?
Em 2022 tenho releases confirmados pela IAMT e Panterre mas tem mais músicas aguardando o sinal verde das gravadoras. 2022 será um ano de muitas músicas.
Trabalhei bastante, fiz muita música e agora estou dedicando maior parte do meu tempo para treinar minhas habilidades com as mixagens pois em 2022 as gigs vem aí.
O que você espera para as pistas nessa retomada consciente? Que hábito você acha que devemos deixar no passado que não combina com a pista de dança? E o que devemos adotar daqui pra frente? Obrigada!
Eu tenho frequentado algumas festas nos últimos dias e o que eu faço é simplesmente desligar o celular, esquecer do mundo lá fora e simplesmente focar na música.
Espero que as pessoas possam fazer isso também. Manter a postura, respeitar as pessoas e principalmente as mulheres e claro, não se esquecer de fazer boas amizades que só a música nos dá.
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Photos: Divulgação