Um “cérebro” artificial cultivado a partir do sangue de um compositor vanguardista está criando música póstuma
Alvin Lucier faleceu em 2021. Agora, seu cérebro “ressuscitado” está compondo novas músicas em uma exposição de arte na Austrália

Uma equipe de artistas e cientistas uniu forças para criar um "mini-cérebro" cultivado em laboratório a partir de células sanguíneas do compositor experimental americano Alvin Lucier, que faleceu em 2021 — e esse cérebro está fazendo música.
O projeto, chamado Revivification, está em exibição na Art Gallery of Western Australia, em Perth, onde a mostra gratuita permanece aberta até o dia 3 de agosto deste ano.
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Lucier foi um verdadeiro pioneiro na geração sonora a partir de
estímulos neurológicos. Sua obra de 1965, Music for Solo Performer, fez
dele o primeiro compositor a usar ondas cerebrais para criar música.
A equipe do projeto Revivification começou a conversar com Alvin Lucier em 2018, e ele acabou concordando em doar seu sangue em 2020, aos 89 anos, já enfrentando o mal de Parkinson.
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O artista se reunia com os integrantes da equipe — composta por Guy Ben-Ary, Matt Gingold e Nathan Thompson, e pelo
neurocientista Stuart Hodgetts — quinzenalmente via Zoom até falecer,
aos 90 anos, em 2021, em decorrência de complicações após uma queda.
Agora, o projeto foi concluído e está em exibição.
O processo envolveu técnicas avançadas de neurociência: as células brancas do sangue de Lucier foram reprogramadas em células-tronco, que, por sua vez, foram transformadas em estruturas celulares tridimensionais que imitam a atividade cerebral — conhecidas como organoides cerebrais.
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Esses organoides estão agora alojados dentro de uma escultura que abriga 20 placas de latão, conectadas aos dois "cérebros in vitro" — que se assemelham a massas brancas e produzem sinais que enviam pulsos por meio de transdutores e atuadores.
Esses pulsos atingem as placas de latão e geram “ressonâncias complexas e sustentadas que preenchem o espaço com som”, segundo a Art Gallery of Western Australia (AGWA).
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Segundo o The Guardian: “O mais importante é que os organoides de Lucier não apenas produzem som — eles também o recebem. Microfones instalados na galeria captam o ruído ambiente, incluindo vozes humanas e os tons ressonantes das placas. Esses dados de áudio são convertidos em sinais elétricos e enviados de volta para o cérebro.”
Em entrevista ao The Guardian, o artista Guy Ben-Ary comentou:
“Estamos muito interessados em saber se o organoide vai mudar ou aprender com o tempo.”
E completou com uma observação tocante:
“Quando contei à filha de Lucier, Amanda, sobre o projeto, ela riu. Ela achou que isso era a cara do pai dela. Pouco antes de morrer, ele deu um jeito de continuar tocando para sempre. Ele simplesmente não consegue parar. Ele precisa continuar tocando.”
A equipe do projeto Revivification tem refletido profundamente sobre as questões éticas em torno da autoria e da inteligência artificial que o projeto levanta.
“Como trabalhadores da cultura, estamos realmente interessados nessas grandes questões. Mas esta obra não oferece respostas. Em vez disso, queremos convidar o público ao diálogo,” disse Nathan Thompson.
“A criatividade pode existir fora do corpo humano? E será que é ético permitir isso?”
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[Via: The Guardian]
Imagens: Reprodução
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