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Interviews

Entrevistamos Ricardo Caminha, artista que transforma emoções pessoais em música

Numa era em que a música eletrônica busca sucesso e perfeição, Ricardo Caminha se destaca pela abordagem mais humana na produção

  • Redação
  • 15 April 2025

Nascido em Florianópolis, o DJ e produtor vem desenhando uma trajetória marcada por experimentações, sempre alinhado à evolução do seu próprio processo artístico.

Com seu mais recente álbum THERAPY, lançado no último dia 28 de março, Ricardo Caminha leva sua música a um território mais vulnerável e pessoal, explorando os altos e baixos de sua própria saúde mental.

Produzido a partir de sessões terapêuticas em busca de curar feridas pessoais, cada faixa carrega uma parte da vivência de Ricardo – das fragilidades às epifanias, passando por perdas e auto-descobertas.

O projeto traz referências e elementos do Pop, Hip Hop e Future Bass, seguindo uma linha mais comercial, mas é na honestidade de suas histórias que THERAPY realmente se destaca. Através das músicas, Ricardo se expõe sem filtros, oferecendo ao ouvinte uma experiência crua e real.

O álbum oferece um respiro, convidando os ouvintes a refletirem sobre suas próprias batalhas internas e a não esconderem suas vulnerabilidades, enquanto critica indiretamente o uso massivo das redes sociais e o papel dos influencers.

Em nossa entrevista exclusiva com ele, destrinchamos mais detalhes de como o álbum ganhou vida, entendemos sua evolução sonora e revelamos o que há pela frente no horizonte de Ricardo Caminha:

Q+A: Ricardo Caminha

Olá, Ricardo. Obrigado por nos receber. Gostaríamos de começar falando, claro, sobre o seu novo álbum. THERAPY parece ser um projeto muito pessoal e introspectivo. Como surgiu a ideia do disco e qual foi o ponto de partida para a criação?

Olá, eu quem agradeço. Bom, em 2016 eu tive um problema de saúde um tanto preocupante na qual o meu sistema imunológico estava zerado, muito preocupado o médico que me atendeu disse que um dos motivos disso acontecer poderia ser o excesso de stress ou ansiedade e que isso deveria ser ajeitado o quanto antes, foi quando entrei para o milagroso mundo da terapia.

De 2016 para 2019 foram diversas sessões, muitos questionamentos sobre a vida e a forma como a nossa sociedade tem ficado cada vez mais difícil de compreender.

Mas o gatilho surgiu mesmo quando em Maio de 2019 meu avô, já debilitado, começou a ter um quadro de piora e numa sexta-feira de noite, como num passe de mágica eu fiz uma música que seria a primeira faixa produzida para o álbum, a “Keep Me Closer”.

Eu havia começado ela naquela mesma noite após um projeto frustrado e eu a terminei poucas horas depois, no sábado eu mostrei para o meu avô, que a aprovou e no dia seguinte ele deu entrada no hospital. Aquela havia sido a última vez que o veria com vida.

Depois de sua partida decidi que faria mais músicas como a que havia feito, pois ela tinha reverberado dentro de mim como nenhuma outra obra minha havia sido e apesar da temática ser trágica, ela era verdadeira e nem sempre na arte são só flores.

O que eu não sabia é que naquela noite de Sexta eu estava iniciando esse que seria um dos projetos mais intensos da minha vida, e faixa por faixa eu expressava todas aquelas coisas que eu dizia em terapia, é como se fosse uma fonte inesgotável de inspiração. THERAPY obedece uma cronologia, as faixas são estrategicamente posicionadas no álbum e todas as músicas tem um motivo para estarem lá.

Você comentou que a ideia começou ainda em 2019, certo? No processo de composição, quais foram os maiores desafios que você enfrentou? Traduzir as emoções em música foi um deles?

Além de mixar os snares? (risos). Bom, eu sempre fui da opinião de que uma música, projeto ou até um álbum devem partir da “verdade” do artista, afinal é decepcionante (a meu ver) descobrir que um artista fala de alguma coisa sem nem ao menos entender ou vivenciar o mínimo sobre aquilo que expressa.

Eu precisei passar por alguns anos de terapia para começar a me entender e transmitir isso para o instrumental das composições foi relativamente fácil, porém, como não sou cantor e nem compositor, eu sabia o que eu queria mas não sabia como falar e tão pouco explicar para uma pessoa que não viveu a minha verdade, por sorte todos os compositores que eu trabalhei foram excelentes profissionais e depois de contar a história de cada música eles conseguiram compor o que eles entenderam e acertaram em cheio.

Mas encontrar estes profissionais não foi tarefa fácil, eu passei mais tempo procurando a voz e a composição perfeita do que a produção em si.

A saúde mental ainda é um tema pouco abordado na indústria da música eletrônica, mas que está cada vez mais presente. Como você enxerga essa questão e qual impacto espera gerar ao trazer isso à tona com seu álbum?

Não tenho a pretensão de causar um grande impacto, até porque terapia é uma opção muito pessoal, apesar de ser um grande devoto da prática.

Em uma ocasião, com um grande amigo meu, também DJ e produtor musical, Renan Soares do duo CATTCH (@cattchmusic), falávamos sobre a terapia e ele disse que a grande terapia dele era no Jiu Jitsu, brinquei que se ele fizesse terapia iria apanhar dentro e fora dos tatames, rimos muito sobre isso, mas me fez pensar no quão doloroso é para algumas pessoas acessar lembranças e traumas, causando um certo receio de iniciar um trabalho psicológico e afins.

Queria muito que as pessoas não tivessem problemas o suficiente que justificasse ir para a terapia, mas o mundo em que vivemos é muito louco e não colabora com a nossa sanidade, porém, se o meu álbum der o mínimo de conforto para alguém que o escuta eu já fico feliz, mas se porventura alguém tomar coragem de enfrentar terapia, aí eu ganharia o dia e faria valer todo meu empenho para a produção desse álbum.

Seu som já passou por diferentes fases ao longo dos anos. Como você enxerga sua evolução musical desde os primeiros lançamentos até o momento atual? Quais são suas principais influências musicais e de que forma elas se manifestam no álbum?

Meu som já foi muito focado no Electro House, Melbourne Bounce e outras coisas que nem sei como descrever *risos*, mas com o passar dos anos a gente vai amadurecendo (em teoria) e algumas coisas começam a perder o sentido, eu parei de beber em 2019 porque não via mais graça em beber e aprontar todas, isso me ajudou a moldar meu estilo musical também, o que era super agitado e descontraído agora tem um jeito mais sério e intimista. Mas claro, ainda é divertido e pode ser cantado num show ou club e fazer a galera agitar da mesma forma.

Essa mudança não ocorreu necessariamente do dia pra noite, apesar de que “Keep Me Closer” (primeira música produzida para o álbum) foi fruto de uma epifania. As influências foram captadas dentro e fora da música, tive principalmente muitas influências de séries de TV, que neste caso vejo o álbum como uma temporada de uma série em que os episódios se complementam, por exemplo, “There Will Be Sunshine” é uma continuação de “Keep Me Closer”, “#IWokeUpLikeThis” é o início da história de “Great Escape” e que influencia diretamente em “Vertigo”, “Layers” e “Till The End”. E “Incertus Epilogus” são os créditos finais, digamos assim...

Sempre fui fã de álbuns, tenho coleção de CDs ainda e ficava fascinado em como eles contavam uma história, desde o Rock ao Hip Hop e posso até citar o clássico “Interstella 5555” do Daft Punk que tem toda uma história por trás dos seres alienígenas com “Discovery” como trilha sonora, senti que em “THERAPY” não poderia ser diferente deste formato. Neste período eu escutava muito The Chainsmokers com o álbum “Memories...Do Not Open”, Calvin Harris e Avicii e estes moldaram a sonoridade do álbum.

Um dos diferenciais é que você trouxe vocais originais e instrumentos reais para o disco. As letras também foram todas composições autorais?

Sim, fiz questão que tudo nesse álbum fosse o mais original possível, sem uso de samples ou vocais prontos e aquilo que eu não conseguia fazer eu fiz parcerias para realizá-las, assim como as letras e os cantores como o solo de guitarra em “Vertigo” feito pelo talentoso Dudu Pimentel, que se apresentou no Rock In Rio de 2015 com o lendário Steve Vai (pra quem não conhece, foi o guitarrista do Frank Zappa, e se você não sabe quem é, SAIBA!!!) e a Camerata de Florianópolis.

Mas enfim, tudo PRECISAVA ser o mais original possível, se isso foi um diferencial ou não, prefiro deixar o público opinar (risos).

Existe algum conselho que você daria para artistas que estão começando agora e que estão esbarrando em dificuldades para conquistar o próprio espaço na indústria?

É aquela velha história, se conselho fosse bom a gente vendia, não é mesmo? Mas vou lhe dizer o que funcionou pra mim... Busque a sua autenticidade!!!

É legal imitar o bass do artista X ou Y? Sim, é ÓTIMO, indica progresso, mas isso não quer dizer que as pessoas vão te associar com esse bass. Então como resolver essa treta? VÁ VIVER!!! Experimente coisas novas, não necessariamente na frente do computador.

Tim Maia uma vez disse para o Ed Motta (seu sobrinho) que ele seria um compositor melhor “no dia que tomasse uns chifres por aí”, não precisa ser nesse extremo, mas ficar só na frente do computador vai te fazer um bom técnico, mas o artista precisa viver para ter inspiração e aí sim o lado técnico vai te ajudar a ser um artista ainda melhor.

Para fechar, o que podemos esperar de Ricardo Caminha para 2025 e além? Obrigado!

É engraçado me perguntar isso quando um dos motivos para fazer este álbum foi ter pensamentos em excesso sobre o futuro (ansiedade) (risos), mas o quê esperar?

Bom, um segundo está em andamento e por enquanto isso é tudo que posso dizer até o momento...AGUARDEM NOVIDADES!

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Imagens: Divulgação

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