Search Menu
Home Latest News Menu
Interviews

Ric Rulie celebra set no Aurea Tour: ‘Existe uma mensagem poderosa de olhar para o coletivo, de lembrar que todo gigante já foi pequeno’

Antes dos drones, luzes e lendas, Ric Rulie mostrou por que o começo da noite também pode ser o ponto alto da pista

  • Victor Flosi
  • 7 July 2025

Não é sempre que vemos um artista celebrar a oportunidade de fazer um warm-up. Mas Ric Rulie faz questão de agradecer por ter sido o nome escolhido para abrir a Aurea Tour em São Paulo no último sábado (28).

O espetáculo audiovisual de Alok, que contou com Urban Theory e ícones da música como Gilberto Gil, chamou atenção por unir inovações tecnológicas, como a quebra de recorde latino-americano pelo uso de 1.080 drones, mas também por ressaltar a importância da criatividade humana com o manifesto “Keep Art Human”.

Contando com artistas estabelecidos na indústria no line-up, como Felguk b2b SUBB e Bhaskar, o evento também teve talentos emergentes como Ric Rulie e Soulfie, que fizeram o b2b que iniciou os trabalhos no Mercado Livre Arena Pacaembu.

Mas o que poucos reparam é que ao convidar nomes em ascensão para fazer a abertura da data, Alok fomenta e realimenta a cena eletrônica nacional.

Conversamos sobre isso com Ric Rulie, que também deu mais detalhes sobre sua carreira. Leia:

Q+A: Ric Rulie

Sua participação na Aurea Tour foi muito mais do que um set de warm-up. Como você enxerga o impacto simbólico e real de artistas consagrados como o Alok darem visibilidade para nomes em ascensão?

Quando um artista do tamanho do Alok abre espaço para nomes desconhecidos, o impacto vai muito além do palco. Existe uma mensagem poderosa de olhar para o coletivo, de lembrar que todo gigante já foi pequeno.

Estar no mesmo line que ele - que pra mim é o maior nome da música eletrônica no Brasil hoje - traz uma chancela importante. Para a minha carreira, isso gera confiança em contratantes, abre portas e ajuda a me posicionar de forma mais sólida na cena.

Para quem está correndo atrás do sonho, é uma injeção de ânimo. Mostra que os grandes também olham pra base. E quando a arte é usada como plataforma de transformação, todo mundo cresce junto.

⁠Seu som transita entre o house, tech house, EDM e o funk brasileiro. Como você constrói esse mix tão eclético sem perder coerência? E como enxerga o papel da cultura brasileira dentro da música eletrônica global?

Meu som tem sempre a música eletrônica como base, mas adapto o set de acordo com o evento. Em festivais mais eletrônicos, como o Deep Please, aposto em uma linha mais intensa e internacional.

Já em eventos populares, com funk e pagode no line-up, trago uma pegada mais acessível: vocais em português, mashups e remixes com funk. É uma forma de dialogar com diferentes públicos sem perder minha identidade, que é sempre alegre e vibrante.

Acredito que um dos papéis do artista de música eletrônica é justamente esse: abrir pontes com outros estilos, tornar o som mais amigável e convidar mais gente pra dentro do nosso universo.

Existe ainda uma ideia equivocada de que, se não for underground, não é eletrônico “de verdade”. Isso é limitante e prejudica o crescimento do mercado. Quanto mais gente, mais palcos, mais visibilidade e mais trabalho pra todo mundo. Não à toa, grandes nomes internacionais estão cada vez mais colaborando com artistas do pop e do funk.

O Brasil tem um papel gigante nesse cenário, mas pouca gente valoriza. Nossa música, da bossa nova ao funk, já inspirou artistas de todos os estilos possíveis. De Fatboy Slim a Adele.

A diferença é que aqui a música eletrônica ainda é nichada, enquanto lá fora ela é o mainstream. Somos um povo criativo, com ritmo nas veias. Gostamos de gente, muvuca, de calor humano e isso é algo que só a música brasileira consegue transmitir.

Com passagens por festivais gigantes e também por eventos corporativos, sua carreira parece navegar bem entre diferentes tipos de palco. O que muda e o que permanece igual quando você toca para 200 ou para 40 mil pessoas?

O que muda entre tocar para 200 ou 40 mil pessoas é a dinâmica do set, o tempo de resposta do público e o nível técnico da entrega. Mas no fim, o objetivo é sempre o mesmo: criar conexão entre o palco e a pista.

Sem dúvidas, a experiência de palco é a maior escola. Não dá pra aprender isso só em estúdio ou vendo vídeo. Eventos gigantes impressionam, mas às vezes são mais fáceis de tocar porque você já vai com um set bem planejado e faz pequenos ajustes de rota ao vivo.

Por incrível que pareça, acho que o maior desafio está nas pistas pequenas. Você está mais exposto, sem estrutura, sem efeitos e pertinho do público. Precisa conquistar no detalhe, música a música, lendo a pista em tempo real. O set vira quase uma conversa onde você entende o que agrada ou não.

Essas pistas te ensinam a ter repertório, sensibilidade e jogo de cintura. E quando você chega num palco imenso, toda aquela estrutura vira um bônus e não uma bengala.

⁠A música eletrônica ainda é vista por muitos como uma cena fechada ou repetitiva nos line-ups. O que você acredita que falta para mais nomes novos entrarem no circuito, e como os grandes artistas poderiam colaborar mais com isso?

Falta espaço, mas também falta uma mentalidade mais aberta na própria “cena”. O mercado ainda gira em torno das mesmas pessoas e headliners. Grandes artistas podem mudar isso, convidando novos nomes para abrir shows, como o Alok fez comigo. Mas a mudança precisa vir dos dois lados: produtores e artistas.

Muitos DJs iniciantes acreditam que precisam ter um único tipo de som e seguir à risca os “dogmas” da vertente que escolheram. Isso é limitante. Por exemplo, se você toca progressive e recebe um convite para um evento mais popular, talvez precise adaptar o set. Isso não é “trair a cena”, é inteligência de mercado.

Ao mesmo tempo, produtores e agências nem sempre querem “arriscar” colocar um desconhecido que pode interferir na evolução daquele evento. E tem a questão das agências sempre empurrarem o próprio casting.

A cena eletrônica ainda é muito crítica com ela mesma. Existe uma série de tabus: “não pode funk”, “não pode ser comercial”, “não pode ser em português”. Cada bolha tenta descredibilizar a outra, e isso enfraquece o coletivo.

O comercial fortalece o underground e vice-versa. Mochakk tocando funk, Diplo produzindo com Ana Castela, Alesso com Anitta… Quando os grandes fazem, são inovadores. Quando os pequenos fazem, estão traindo a cena? Essa lógica precisa mudar.

Depois de abrir um dos maiores shows da sua carreira, qual é o próximo passo que você quer dar? O que o Ric produtor ainda quer explorar e com quem você sonha dividir um som?

Acredito que o próximo passo é manter a consistência da minha música e reforçar minha identidade como artista. Já tenho organizados alguns lançamentos de remixes e faixas autorais dentro da minha sonoridade mais comercial, alegre e acessível, com vocais em português, inglês e espanhol. Também quero lançar por gravadoras com maior alcance e estrutura de divulgação.

Espero que a visibilidade da Aurea Tour me conecte a mais contratantes, tanto no Brasil quanto fora. No Brasil, já tenho uma agenda em festas de médio porte, mas ainda existem muitos clubs e eventos nos quais quero estrear. No exterior, é um mercado ainda inexplorado pra mim. Já fiz alguns shows internacionais privados, como casamentos, mas quero alcançar também pistas abertas, festivais e clubs.

Algumas colaborações estão em andamento, mas como artista emergente, ainda é difícil acessar os grandes nomes. Queria ter entregado um pendrive com músicas novas pro Alok, mas nos falamos muito rápido na chegada dele ao estádio e acabou não rolando. Quem sabe numa próxima.

No Brasil sonho em fazer collab com Dubdogz, Zerb e o próprio Alok. E tenho um lançamento para sair com a cantora Amanda Magalhães. Lá fora, admiro muito o Hugel, Blond:ish, Kungs e Becky Hill. Não são só DJs, tem muitos cantores que ainda estão na minha lista de metas.

Sobre Ric Rulie

Ric Rulie é DJ e produtor carioca que se destaca na cena da música eletrônica comercial. Seu set surfa entre house, tech house, EDM e elementos do funk brasileiro, criando experiências dinâmicas e conectadas com diferentes públicos: de festivais a festas corporativas, de eventos de marca a clubs pelo Brasil e exterior.

Entre suas apresentações de destaque, estão: Rock in Rio; Corona Sunsets; Camarote Allegria; Privilège; Camarote Arpoador; Réveillon Amoré; Arca de Noé; CarnaRildy; Neon Jungle com Diplo; Provocateur; Expo Itaguaí; Instituto Neymar Jr. e Alok Aurea Tour (experiência imersiva com recorde de lasers, drones e apresentações audiovisuais, ao lado de nomes como Gilberto Gil, Matue, Bhaskar, Felguk, Zeeba e representantes de culturas indígenas brasileiras).

Com forte presença de palco e sensibilidade para leitura de pista, Ric já se apresentou em diversas regiões do Brasil, incluindo Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia, Distrito Federal, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte, Espírito Santo, Ceará, entre outras. Fora do país, levou sua música para Estados Unidos, Itália, Uruguai e República Dominicana.

O artista também já dividiu line-ups com Diplo, Claptone, Cat Dealers, Dubdogz, Dennis, Watzgood, Pontifexx, entre outros nomes da cena nacional e internacional. Suas músicas já acumulam mais de 500 mil plays no Spotify, entre remixes - como o oficial de “Pescador de Ilusões”, da banda O Rappa - e e faixas autorais, sendo uma ponte entre a música eletrônica e a cultura brasileira.

Nas redes sociais, Ric também acumula alguns milhares de plays em suas postagens de música, produções e vídeos de humor sobre a vida dos DJs.

Load the next article
Loading...
Loading...