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Cover Story

Através do Portal: Markus Schulz e a Evolução Sônica que Está Moldando o Futuro da Música Eletrônica

Uma jornada pelas frequências, amizades e visões de futuro de um dos nomes mais respeitados da música eletrônica

  • Mixmag Team
  • 7 May 2025

Quando você passa mais de três décadas moldando pistas de dança e ondas sonoras, ganha o direito de desacelerar. Mas Markus Schulz não demonstra nenhuma intenção de fazer isso. Na verdade, ele está trocando de marcha — mergulhando mais fundo, mais sombrio e mais emocional do que nunca.

Da tensão explosiva de “Enter the Portal” à hipnose crua de seu novo single techno “Get You Higher”, em parceria com Pavlo Vicci, Schulz continua a evoluir sem abandonar aquilo que ele chama de “teatro da mente”. Em 2025, ele não está apenas dominando os horários de pico — está arquitetando jornadas completas, que vão da narrativa progressiva a paisagens sonoras cinematográficas para as horas mais tardias da noite.

Este ano marca um novo e ousado capítulo. Schulz assumiu o posto de curador principal da icônica série In Search of Sunrise, se preparando para conduzir a lendária coletânea à sua quarta era, com uma trilogia de discos moldada por suas próprias produções. Seu programa Global DJ Broadcast celebra 20 anos no ar, conectando gerações de ouvintes por meio de episódios temáticos, gravações ao vivo e experimentações sonoras que antecipam o futuro da música eletrônica.

Mas por trás de todos esses marcos está uma missão pessoal que o move: se conectar através da música. Seja mentorando a nova geração via Coldharbour Recordings, produzindo álbuns imersivos ou cultivando amizades duradouras com vocalistas como HALIENE e Sarah de Warren, Schulz é mais do que um headliner — é um elo vital para quem vive a música de forma emocional.

Nesta entrevista exclusiva, mergulhamos fundo na mente, na música e no propósito de uma das figuras mais duradouras do trance e do techno.

The Cover Story: Markus Schulz

Três décadas na ativa e ainda como headliner. O que te mantém inspirado a explorar novas fronteiras sonoras sem perder o DNA melódico que define sua trajetória?

Minha crença ao longo de tudo isso é que meu propósito no mundo é inspirar pessoas por meio da música. Apesar de já ter construído uma carreira marcante, ainda sinto que tenho muito a contribuir e realizar — através de paisagens sonoras cinematográficas e voltadas para o futuro.

Continuo completamente fascinado pelo que chamo de “teatro da mente”. Todos os dias no estúdio, estou atrás daquele tom intocável — aquela frequência que arrepia e ressoa lá no fundo. Mas hoje, estou ainda mais fascinado com a ideia de fundir profundidade emocional com ambientes imersivos. Se a sua alma está codificada na música, as pessoas vão sentir — seja trance, techno ou algo que transcenda os dois.

De “The Rabbit Hole Circus” aos sets maratona em Montreal e Amsterdam — qual é o segredo por trás dessas lendárias jornadas open-to-close?

Os sets solo open-to-close, na verdade, são um retorno às minhas origens como DJ residente. Eu tocava por cerca de seis ou sete horas toda sexta e sábado à noite, e isso me deu uma experiência inestimável sobre como ler o público, programar musicalmente a noite através de suas fases, cometer erros e aprender com eles.

Em uma noite tradicional, o ideal seria escalar três DJs — o que abre, o headliner e o que fecha a noite. Mas quando você assume a responsabilidade de tocar do início ao fim, acaba exercendo os três papéis numa só noite. Essas experiências são valiosas para qualquer DJ. É uma tela em branco, onde o passado e o futuro se misturam.

Hoje, minha visão para esses sets é começar com uma narrativa progressiva, alcançar picos eufóricos e encerrar com texturas mais escuras e hipnóticas que refletem a direção para onde meu som está indo.

“Enter the Portal” parece uma viagem no tempo em movimento. Você pode nos contar mais sobre a energia e a ideia por trás desse instrumental feito para o horário de pico?

“Enter the Portal” foi uma faixa de transição para mim — uma ponte entre a intensidade de “Ram Attack” e a narrativa emocional mais profunda que quero explorar daqui pra frente.

Criei “Ram Attack” para o EDC em Las Vegas, e ainda adoro sua energia crua; mas me tornei obcecado pelo conceito de tensão e liberação — aquele tipo de pressão que move o corpo e a mente ao mesmo tempo. “Enter the Portal” permitiu isso ao se apoiar na emoção do trance clássico, impulsionada pela força do techno moderno de horário nobre.

“Se a sua alma estiver codificada na música, as pessoas vão sentir — seja trance, techno ou algo que transcenda os dois.”

Seu novo single “Get You Higher”, com Pavlo Vicci, é mais intenso e profundo — isso é um sinal de que o espírito techno do Dakota está se infiltrando no seu som principal?

Sim, essa faixa foi uma demonstração de propulsão em vez de clímax. Pavlo é extremamente talentoso e estamos todos empolgados em acompanhar seu desenvolvimento nos próximos anos. Ele trouxe esse vocal hipnótico de “Get You Higher”, e eu o inseri sobre uma linha de baixo techno densa para dar à faixa essa força impulsionadora.

É uma música menos sobre levantar as mãos para o alto e mais sobre hipnose corporal — deixando o groove e a linha de baixo carregarem todo o peso emocional.

Vamos falar sobre o “In Search of Sunrise”. Como novo curador dessa série icônica, como você pretende deixar sua marca enquanto respeita o legado que ela carrega?

É uma enorme honra estar associado a uma peça tão importante na história da nossa cena, e não encaro isso como algo garantido. Estamos entrando em uma quarta era do In Search of Sunrise — tivemos Tiësto no início, depois Richard Durand, e então a abordagem com múltiplos DJs da edição 14 até a 20; da qual tive orgulho de fazer parte.

Agora, nessa quarta era, serei curador dos três discos pela primeira vez, e sinto que isso vai me permitir mostrar toda a paleta do meu som.

Sinto que é meu dever conduzir o In Search of Sunrise para uma nova era. Esta próxima edição foi concebida para ser um portal — onde texturas tribais, cinematográficas e hipnóticas convergem em uma jornada emocional e cheia de significado.

O Global DJ Broadcast está completando 20 anos. Em um mundo de atenção cada vez mais volátil, qual é a fórmula para manter um programa de rádio semanal tão relevante?

Acredito que o rádio é um dos maiores presentes que temos na Terra. Você pode estar transmitindo para uma audiência de milhões, mas ao mesmo tempo existe um laço de comunicação um a um.

Tive uma infância solitária, porque me mudava com frequência para diferentes regiões da Alemanha, e isso dificultava criar amizades duradouras. Mas houve uma amizade que permaneceu para sempre — o rádio — aquele amigo que está sempre lá, não importa a hora do dia ou da noite.

É por isso que o Global DJ Broadcast continua sendo tão importante para mim: ele pode inspirar quem está ouvindo, ajudar as pessoas a esquecerem seus problemas e ser esse amigo que nunca falha.

Hoje, o Global DJ Broadcast tem três vertentes principais — as edições regulares de estúdio, onde apresento novas músicas e observo quais faixas realmente conectam com os ouvintes; os episódios mensais World Tour, com gravações ao vivo dos meus sets em clubes e festivais ao redor do mundo; e sete edições especiais colecionáveis, cada uma baseada em um estilo ou tema específico.

Mais do que nunca, o programa é meu laboratório de experimentação sonora. É onde antecipo músicas voltadas para o futuro e destaco artistas que, na minha visão, estão moldando o novo cenário da música eletrônica.

“Os sets solo open-to-close são uma tela em branco, onde passado e futuro se misturam.”

“Afterdark 2024” teve um magnetismo hipnótico. Você aborda esses sets mais profundos e introspectivos de forma diferente dos seus sets de clube mais explosivos?

Com todos os sets temáticos, a preparação acontece ao longo de todo o ano. Tenho pastas específicas organizadas no meu computador, e conforme vou mixando os episódios regulares de estúdio e percebendo quais músicas conectam com os ouvintes, vou copiando certas faixas para essas pastas individuais, deixando que elas se acumulem ao longo de 12 meses.

Mesmo dentro do Afterdark, por ser um set anual de quatro horas, tento programá-lo como se fosse uma transição — partindo das faixas techno intensas de horário de pico para sonoridades mais dub, distorcidas e quase meditativas. O BPM vai caindo gradualmente, e o clima vai ficando cada vez mais sombrio. Existe uma atenção especial em selecionar músicas que fervilham, em vez de simplesmente explodirem em energia.

Afterdark é um reflexo da minha evolução — e do ponto onde o techno e o trance se encontram.

A Coldharbour acaba de alcançar seu 500º lançamento — o que esse marco significa para você pessoalmente, e o que podemos esperar do selo daqui pra frente?

Tenho muito orgulho da Coldharbour, porque ela vai muito além de ser apenas uma gravadora. Sempre procurei enxergar a Coldharbour como uma família — você não simplesmente assina uma faixa, você constrói uma relação com o produtor e o orienta com base na minha experiência de pista. Estamos constantemente buscando aquele próximo talento que podemos acolher, e isso é algo que fazemos desde o início e seguimos fazendo até hoje.

A nova dimensão tem sido desenvolver esses produtores para que também ganhem experiência como DJs, através dos nossos eventos Coldharbour Night em clubes e festivais. Nem sempre é fácil, porque muitos desses produtores surgem com uma faixa brilhante, mas ainda não têm experiência em se apresentar ao vivo para um público.

Trazer esses artistas como parte do coletivo Coldharbour Night lhes dá a chance de adquirir essa vivência essencial. Musicalmente, vejo o próximo capítulo da Coldharbour como uma plataforma voltada para a música de pista com carga emocional — não apenas trance ou techno, mas aquele ponto de equilíbrio perfeito entre os dois.

Você trabalhou com vocalistas como Sarah de Warren e HALIENE em faixas com uma carga emocional e cinematográfica. Como você sabe quando um vocal realmente se encaixa na sua visão?

Um dos aspectos mais importantes ao trabalhar com vocalistas é conhecer a pessoa em um nível pessoal — o que está dando certo na vida dela, quais são suas preocupações ou dificuldades, como ela enxerga o mundo pelos próprios olhos, quais são seus sonhos.

Tive a sorte de conhecer a Sarah e a Kelly (HALIENE) e de me tornar amigo próximo das duas; o mesmo com a Emma Hewitt e, mais recentemente, com a Linney. Acredito que essa abordagem — de realmente sentir, em um nível mais profundo, o que cada um quer expressar com a faixa — é o que transparece quando a música chega aos ouvidos de quem escuta.

“O rádio foi meu primeiro amigo de verdade — e o Global DJ Broadcast ainda carrega esse espírito até hoje.”

Suas colaborações da “X series” já contaram com gigantes como Oakenfold, BT e Ferry Corsten. Alguma pista do que vem por aí?

O mais interessante da X series é que ela não tem um cronograma ou estrutura definidos. Muitas dessas colaborações surgem de forma espontânea — como encontrar outro DJ em um festival, bater um papo e dali nascer a ideia de trabalhar juntos no estúdio.

Mesmo estando há bastante tempo na cena, ainda sinto que aprendo e me inspiro com as pessoas com quem colaboro — nomes como BT, Paul Oakenfold e Ferry Corsten — caras que criaram algumas das melodias mais marcantes que já ouvimos em qualquer gênero musical.

E por outro lado, também há a oportunidade de ajudar novos talentos a se desenvolverem por meio dessas colaborações. Uma das coisas que espero para o futuro da X series é envolver mais de um artista colaborador — juntar artistas de gêneros diferentes e fundi-los nesse híbrido futurista.

Você sempre teve uma visão global — seja em turnês, no rádio ou na descoberta de novos talentos. Quais cenas ou cidades mais têm te inspirado no momento?

Preciso fazer uma menção ao Brasil aqui, porque um dos seus — o Victor Ruiz — tem sido uma das minhas maiores inspirações ultimamente. Eu adoro tudo o que ele vem lançando, e ele apresenta uma gama bastante diversa dentro da sua visão única de techno. É alguém com quem eu adoraria colaborar no futuro. Também tem a ANNA, que vem lançando materiais excelentes nos últimos anos.

Acho que a Itália está passando por um momento de ouro na música eletrônica, com produtores incríveis como Anyma e Meduza, além de novos talentos promissores como Mattia Saviolo.

E o Reino Unido continua evoluindo de geração em geração. Tem nomes impressionantes como CamelPhat e Massano, e o Daxson — da própria Coldharbour — é alguém de quem tenho imenso orgulho pelo que ele vem conquistando.

2025 já começou com tudo, mas o que ainda está no seu quadro de visão? Algum projeto dos sonhos, novo alias ou evolução surpresa que deveríamos ficar de olho?

Em novembro passado, participei de um acampamento de composição em Los Angeles, pouco antes de me apresentar no Dreamstate, onde comecei a rascunhar ideias com vocalistas para um novo álbum. Uma dessas colaborações foi com a Sarah de Warren novamente, então teremos um novo single juntos ainda este ano.

Mas o foco principal entre agora e o verão será o In Search of Sunrise 21, que vai incluir produções originais minhas para moldar os três discos. Estou empolgado para mergulhar nesses projetos que vão representar mais uma evolução musical na minha carreira.

Photos: Edward Aninaru

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