Falamos com o duo Bruce Leroys sobre o seu remix para Gal Costa, autorizado pela própria

Em novembro de 2022, o Brasil perdeu uma de suas artistas mais célebres, aquela cujo legado perpetuará eternamente na cultura brasileira: Gal Costa.

Suas canções são um acalento à alma e todo o seu trabalho segue inspirando artistas e dando fruto a novos trabalhos, como é o caso de “Flor de Maracujá” que acaba de chegar às plataformas em versão remix, desenvolvida pelas mentes talentosas do duo Bruce Leroys.

Marcelo Abreu e Diogo Vaille, os artistas por trás do projeto, são grandes admiradores da música brasileira e cresceram acompanhando a carreira de Gal. Até que, há cerca de um ano, a dupla começou a desenvolver sua visão dançante para a faixa, lançada originalmente em 1974.

O resultado final dessas experimentações com a canção foi tão positivo que enviaram a faixa para Gal e sua equipe, recebendo o aval para o lançamento, além de um feedback afirmando que a cantora tinha adorado o trabalho.

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Em seguida, Bruce Leroys começou o planejamento para que “Flor de Maracujá (Aureum Remix)” fosse lançada em 11 de novembro, mas na mesma semana, Gal Costa nos deixou, aos 77 anos.

Em respeito ao falecimento da artista, a música foi adiada para 2023 e, depois de tanta espera, a hora chegou. Convidamos Marcelo e Diogo para contar um pouco sobre este projeto em uma entrevista exclusiva. Confira:

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Olá, Marcelo e Diogo! Obrigada por toparem conversar com a gente. Para começarmos, queríamos saber um pouco mais dessa influência da Gal Costa na vida e na carreira de vocês. É quase impossível ser brasileiro e não ser inspirado por ela…

Diogo: A música brasileira já passou por muitas fases e transformações. Dos anos 60 até os 80 nossa música foi de uma complexidade e inteligência que não se via em quase nenhum lugar do mundo.

Eu nasci no início dos anos 80 e me lembro que quando escutava as gravações da Gal de anos anteriores, me soavam como algo muito diferente de tudo que estava acostumado a ouvir na rádio e sempre parecia que o ritmo e as harmonias tinham personalidade e fugiam de regras.

As letras não eram óbvias e as mensagens passavam sempre muita verdade. Essa filosofia dela sempre foi uma coisa que me guiou na minha carreira: fugir das regras e tentar sempre fazer algo diferente do que a maioria fazia.

Marcelo: o som da Gal não era exatamente o som que eu ouvia na adolescência, a Gal estava na minha vida na discoteca dos meus pais, era o som deles no fim de semana e nas festas da família, na minha adolescência a gente ouvia Rock Nacional e Internacional, a Tropicália e a Bossa apareceram profundamente na minha vida bem mais tarde, já como pesquisador e colecionador de disco, o interesse pelas raízes e fases musicais do meu país se tornaram imperativos para entender pra onde eu deveria apontar o nosso trabalho, entender a nossa posição, digo do país, de disrupção criativa no Jazz com a Bossa Nova e o poder da influência dos ritmos africanos/latinos na música dançante global, que temos em abundância dado a nossa miscigenação.

E a Gal é essencial na Bossa e no explorar criativo dos ritmos de origem africana na sua discografia, uma das maiores vozes do Brasil de todos os tempos, além de potente e super afinada, que estaria em qualquer lista das melhores cantoras do Mundo, dona de um timbre muito particular, para além da música, era uma cidadã consciente e projetava no palco, para além da arte, seu ativismo essencial desde a década de 80. Uma artista que daria orgulho a qualquer país!

E “Flor de Maracujá”? Por que, dentre tantos sucessos de Gal, vocês resolveram desenvolver uma versão em House Music desta canção? Algum motivo especial?

Bruce Leroys: Primeiro o clima da música é fantástico, pra cima, dançante. Segundo o BPM original já casava muito bem com o BPM que estamos acostumados a tocar nas pistas e terceiro que a letra fala de mar, natureza e reflete muito a vibe nossa carioca.

Como foi o processo criativo para o remix da música? Quais elementos vocês buscaram ressaltar nesta produção?

Bruce Leroys: O processo passou por dois momentos. A primeira versão fizemos mais focada nas pistas, só enfatizando o vocal da Gal sobre uma base percussiva do House. O resultado foi surpreendente e vimos que a faixa merecia algo mais profundo.

Nossa equipe achou que valia a pena lançar oficialmente e começou o contato com as editoras e responsáveis para liberar o fonograma, que inicialmente seria lançado pelo nosso selo Aureum, mas a Universal tinha outros planos…

Após aprovação da Gal e do seu time, a Flor de Maracujá foi encampada pela major e a partir daí entendemos a necessidade de criar algo mais abrangente e tentar sair do nosso nicho.

Convidamos o Maurício (teclados) e o Marcinho (guitarra) para levar a música pra esse resultado que vocês podem conferir nas plataformas desde sexta (27/01/23) passada. Fizemos 3 versões, a Aureum Remix que é versão para rádio e para as plataformas de streaming e duas versões para DJs, a extended e uma versão Dub, essa última ainda está guardada para ser ainda lançada futuramente.

Tivemos o atraso do release devido à prematura passagem da Gal dois dias antes da primeira data do lançamento, fato que transformou totalmente o caráter do lançamento. A arte imita a vida, mas às vezes é a vida que imita a arte, adicionando drama à nossa profunda alegria e gratidão por ter essa participação na grandiosa obra da Gal.

E como foi o contato com a Gal, sua equipe e gravadora?

Bruce Leroys: Lee Martinez, o cara que dirige o nosso Selo Aureum, cuidou dos trâmites com a equipe da Gal e a gravadora de forma muito suave, achamos que a música ajuda muito nestes trâmites e cria uma “boa vontade” de todas as partes, no fim é a música que importa pro artista!

E a reação de vocês quando ficaram sabendo que a Gal não só tinha aprovado, mas também adorado a produção? Imagino que deve ter sido uma honra receber uma notícia dessas.

Bruce Leroys: Somos DJs e a gente sempre tenta fazer música dançante, mas que, obrigatoriamente, antes de ser dançante seja música…(risos).

É uma retórica provocativa que usamos no nosso programa (de rádio), mas que tem o objetivo de valorizar um trabalho musical mais sofisticado, esse caminho(musical) vem renovando a cena dançante global e trazendo mais gente, que antes não curtia a e-music, para as pistas e festivais… Não estamos sozinhos neste caminho, outros selos nacionais e internacionais estão nesta jornada, tais como Razor-N-Tape, Toy Tonics, Heist, Cocada, Mareh, Dekmantel, entre vários outros…

Voltando à pergunta, neste sentido, a aprovação de uma artista da dimensão da Gal pra nossa música pra gente significa muito! Significa que a música dançante não tem regras nem barreiras. Pra gente foi mais uma luz no nosso caminho, dando mais certeza que estamos no caminho certo!

Com o lançamento do single, vocês também têm planos de fazer um live concert, com convidados, para fazer uma homenagem à artista. Conta um pouco para a gente sobre como será esse projeto, algum spoiler que vocês podem nos adiantar?

Bruce Leroys: Em breve traremos mais detalhes, mas o que podemos dizer é que a música sempre será a nossa prioridade. ;)

Para finalizar, queremos saber o que podemos esperar de Bruce Leroys para 2023. Obrigada pelo papo!

Bruce Leroys: Nós que agradecemos! Esse ano será foco total no nosso próprio selo, o Aureum. Já temos prontos dois releases com dois artistas internacionais considerados entre os 10 maiores do nu-disco e deep house mundial. Além de produzir artistas nacionais e remixes com esse sotaque dançante que vocês começaram a ver na faixa “Flor de Maracujá”.

O selo é a nossa plataforma 360 de trabalho artístico, vamos fazer eventos, continuar com nosso programa de rádio na Mood FM - Rio de Janeiro, expandir os conteúdos do nosso site, sem deixar de colocar o máximo de músicas pra fora que conseguirmos, e esperamos vê-los frequentemente nas pistas, estamos muito gratos pelo espaço, obrigado e pedimos aos fãs e amigos que continuem ouvindo, tocando, baixando, comprando e mostrando a “Flor de Maracujá” aos amigos, isso é a coisa mais importante que vocês podem fazer pra apoiar a nossa música!

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Photos: Divulgação

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