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DJ Glen fala sobre retorno da Discotech, nova collab com Shady Jones, relação com a Dirtybird e autenticidade artística

Com colaborações internacionais, turnês e a reativação de sua gravadora, o artista vive um dos momentos mais maduros e livres de sua trajetória

  • Lau Ferreira
  • 27 October 2025

Entre renovações cíclicas e beats que atravessam décadas, DJ Glen segue em movimento constante, e o retorno da Discotech, seu próprio selo, é prova disso.

Lançada originalmente em 2013 e pausada em 2017, a gravadora ressurge em 2025 com o single “Close Your Eyes”, inaugurando um novo capítulo na trajetória do artista paulista que se tornou um dos nomes mais respeitados da cena house/techno brasileira.

A nova fase da label reflete a maturidade e a liberdade artística de Glen, que hoje se divide entre o estúdio, turnês internacionais e uma série de colaborações que expandem seu alcance pelo mundo.

Seu último release, por exemplo, foi “Hypnotize”, nova collab com o produtor americano Shady Jones pela gravadora Basement 909, braço rítmico da berlinense Nomade Records. O som marca um novo momento na trajetória do brasileiro, que busca sair de mercados e cenas nas quais já é consolidado para conquistar novos públicos no circuito europeu e global.

Em conversa com a Mixmag, ele fala sobre a retomada e o impacto da Dirtybird em sua jornada, as experiências que moldaram sua visão criativa, o compromisso em repassar conhecimento para as próximas gerações e o retorno da Discotech ao mercado. Confira!

Q+A: DJ Glen

A Discotech marcou época entre 2013 e 2017. O que te motivou a reativar o selo agora, sete anos depois, e o que mudou na proposta musical da gravadora nessa nova fase?

Dizem que vivemos certos loops de sete em sete anos. Coincidência ou não, este é o momento que sinto que uma grande mudança está em curso, no mundo todo, e a gravadora é a liberdade que eu tenho pra mostrar isso musicalmente.

Desde quando a Discotech nasceu, a necessidade de renovação era a base de tudo, mas naquele momento o foco eram os eventos, depois as músicas. Agora, vamos começar pelo inverso.

“Close Your Eyes” foi o single de retorno da Discotech. Fale um pouco sobre a música e por que ela foi escolhida para este retorno ao mercado.

Ficamos um pouco na dúvida de como começar a esquentar os motores. A segunda opção era um release que marcou a minha carreira, continua muito atual e estranhamente saiu dos catálogos de streaming. Decidimos pelo fresh e seguramos o remake do “Boogie Mafioso” para uma próxima etapa.

Depois de “Close Your Eyes”, já temos a caminho “From Out of Space” e “Tom Honks”. Como essas três faixas se conectam artisticamente, existe uma linha conceitual entre elas?

Desde que entrei para o cenário de produtores reconhecidos mundialmente, fiz uma linha conceitual entre todas as minhas tracks, com um estudo profundo de timbragem e comprometimento a evoluir os gêneros sem perder a minha própria sonoridade. Me sinto bem-sucedido nisso, e apesar dos temas serem diferentes, a estética segue fiel.

Inclusive a “Close Your Eyes”, com baterias equilibradas orgânica e analogicamente, timbres mais abertos e muito referenciados no electro dos anos 2000, que é minha maior base musical. Electro underground, não “Summer Electro Hits”, que fique bem claro.

Além dessas faixas, o que mais podemos esperar da Discotech nos próximos meses?

A gravadora vai viver seu desenvolvimento naturalmente, comigo participando em todos os lançamentos pelo menos nesta primeira fase, sempre com a ideia de família por trás de tudo.

A Discotech também vai trazer músicas de outros artistas (nacionais e internacionais)? Quais os critérios para ter um lançamento pela label?

Com certeza, a quantidade de artistas conectados a nós é imensa, mas é importante que esse ideal de estética sonora venha antes de tudo.

Queremos uma gravadora que tenha uma cara nos sons, imagens nos timbres e atitude inovadora e raiz ao mesmo tempo, mas sabemos que não será tarefa fácil.

A cena eletrônica mudou bastante desde o hiato da Discotech. Como você enxerga a transformação do mercado nesse período, e como pretende posicionar o selo dentro desse novo contexto?

Procuro evitar visões simplistas de mercado como um todo. Vejo hoje em dia um cenário muito mais ramificado, vários estilos e tribos rolando simultaneamente, é tudo mais complexo e ao mesmo tempo mais inspirador.

Desde o hiato da Discotech, eu também mudei bastante, adquiri muito conhecimento e experiências surreais. Sinto que não é mais que a minha obrigação compartilhar com as pessoas o melhor que aprendi com isso tudo.

O retorno da Discotech também representa uma fase de renovação pessoal na sua carreira? Como você enxerga esse momento artístico, tanto em estúdio quanto nas pistas?

A renovação vem mais das pessoas novas que surgem no cenário do que de mim. Eu sou sempre o mesmo. Cada dia que passa tenho mais facilidade em dizer o que penso e gosto, as pessoas me veem como um professor e eu curto isso. Artisticamente, isso se reflete. Cada vez mais consigo fazer as coisas que gosto e ver pessoas me seguindo por isso. Tudo que aprendi até hoje precisa ser repassado, para a roda continuar girando.

Você se tornou o único artista a se apresentar cinco vezes nos festivais da Dirtybird - só este ano tocou no Dirtybird Campout (Califórnia) e Dirtybird CampINN (Orlando). Como foi conquistar esse espaço e se tornar parte da família, e de que forma essa conexão com a Dirtybird influenciou sua trajetória?

Acho que não vai muito na questão dos números, mas como os festivais foram vividos. Desde sempre, temos brasileiros nos lineups de festivais da Dirtybird, mas poucos vivem de fato o festival.

Eu vou lá, levo minha esposa, fico acampado, sou o primeiro a chegar e o último a ir embora, convido meus amigos, faço novas amizades, vejo DJs que nunca vi, vejo DJs que vejo sempre, sinto novas músicas, sinto as clássicas, e tudo isso se converte em novas tracks no estúdio quando volto pra casa.

Um festival em outro país tem um aditivo de ser em outro país, cultura diferente, comidas diferentes, novos lugares e novos sentimentos. Quem vive de criatividade, como eu, sabe o quão necessárias são estas experiências. Sentir-se parte da família é muito legal, principalmente quando você admira a arte dos “parentes”.

Tendo participado de diversas edições dos eventos da gravadora nos Estados Unidos e outros festivais importantes pelo mundo, como você enxerga o intercâmbio entre as cenas brasileira e internacional?

Como eu disse antes, eu vejo o mundo muito mais ramificado e plural do que eu imaginava que seria. Quanto mais eu viajo, mais eu vejo que meu ponto de vista é muito pequeno em relação a um todo, e não tem o que fazer, é impossível ter uma visão sobre tudo.

O que cabe a mim neste momento é mostrar a minha visão das coisas que eu vivi através da minha música, ou em entrevistas legais como esta.

Você está confirmado nas edições brasileiras da Dirtybird, que acontecem em novembro e dezembro. O que está preparando de especial para essas datas?

Ah, se eu for ficar pensando antecipadamente nas datas, eu acabo ficando ansioso. Meu antídoto é deixar tudo pra última hora mesmo, foi pra isso que aprendi a produzir rápido.

No último DBC eu fiz duas tracks de abertura pro meu set enquanto estava arrumando minha mala algumas horas antes do voo, minha esposa quis me matar. O lado positivo é que as tracks são realmente frescas.

Você acaba de lançar “Hypnotize”, sua segunda collab com Shady Jones em dois meses, abrindo-se para novos públicos e cenas, especialmente na Europa. Como surgiu essa parceria e como a faixa reflete essa nova fase da sua carreira, mantendo sua identidade enquanto explora novos territórios?

Se eu disser que já tenho mais umas sete collabs com Shady Jones prontas aqui na manga, ou praticamente prontas, acredite, esse jovem tem ideias dinamicamente fantásticas para serem trabalhadas. Deu muito bom!

Em julho, ficamos em um estúdio em Los Angeles por uma semana, e saiu até uma track fortemente influenciada pelo rock americano, inclusive com a presença de um guitarrista conhecido na cena da cidade por ter trabalhado com bandas heróicas da minha adolescência, como Limp Bizkit e Slipknot.

Ele estava no estúdio com a gente e emprestou a própria guitarra, da época em que gravou os álbuns dessas bandas, e que usamos na nossa última collab. Foi um dos momentos mais icônicos da minha vida em produção musical.

Com relação à Europa, eu sempre tive uma conexão forte com a cultura italiana, cidadania, família e viagens, fiz algumas tours por lá antes mesmo de ir pros EUA, lancei discos e discos em gravadoras europeias, gigs insanas em festivais em Berlim, Londres, Paris… Mas por algum motivo, deu uma esfriada depois do primeiro filho nascer. A ideia é reconectar mesmo, quanto mais desenvolvemos personalidade artística, mais temos que viajar. É a vida.

Olhando tudo que já aconteceu até aqui em 2025, quais foram os momentos mais especiais?

Em 2019, uma das coisas que senti foi que minha carreira deu um grande boom - tudo foi acontecendo muito acelerado, rápido demais ao ponto de não conseguir absorver. Em 2025, está sendo diferente.

As coisas estão em um ritmo saudável, está grande, mas com um clima de que “eu sei o que está acontecendo, vou curtir mais desta vez”.

Estou na maioria das vezes com minha esposa, e às vezes os filhos também. Até minha mãe já fez umas tours nos EUA comigo. Isso é especial.

A naturalidade também é especial. Em pouco mais de um ano, foram sete ou oito saídas internacionais, chegando em outros países, pegando o transporte no aeroporto para a casa de algum amigo ou parente, alugando carros e tendo uma vida não turística nesses lugares - uma sensação de liberdade insana.

Também conheci e fiz amizade com pessoas muito famosas, o que é engraçado e interessante.

Quais são os próximos passos da sua carreira? Podemos esperar por novas colaborações, foco na Discotech ou novas gigs e projetos internacionais?

Todo mundo sempre diz que o difícil não é chegar em algum lugar, mas se manter nele, e faz muito sentido. Esta já é uma grande meta pra mim, nem que pra isso eu tenha que continuar crescendo e chegando em lugares novos, o que faz mais sentido ainda.

Collabs, gravadora, gigs, tours, novas tracks… Tudo isso é necessário, mas tem algo a mais: a sorte. Que nos acompanhe sempre!

Sobre DJ Glen

Um dos artistas mais completos e consolidados nacionalmente, DJ Glen vem da raiz da discotecagem e se expandiu pelo cenário produzindo inúmeras tracks de grande relevância global.

Indicado em 2022 como "Futuro da Dance Music" pela 1001Tracklists, Glen toca seu próprio club, seus festivais, sua gravadora, é tutor da maior comunidade de produtores de dance music do país e ainda escreve colunas para veículos de comunicação especializados.

Por gravadoras como Relief, Dirtybird, Armada, Spinnin', Musical Freedom, assinou colaborações com criadores da house music, como Chuck Roberts, Fast Eddie e Cajmere, e com astros brasileiros, como Illusionize e Vintage Culture.

O resultado é uma vasta legião de admiradores por todo o mundo, e suportes que vão de Mochakk a Maceo Plex, FISHER a Claude VonStroke e Green Velvet a Tiësto.

Instagram @djglendj

Imagens: Divulgação

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