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Synth lover: DJ Glen e o amor pela manipulação dos sons

Técnicas inusitadas e busca incessante por timbres originais

  • Ágatha Prado
  • 24 August 2021

Provavelmente você já deve ter se perguntado: “existe algum instrumento capaz de criar uma sonoridade do 0?” A resposta é sim e essa é a grande magia por trás de um sintetizador.

O instrumento é capaz de manipular as ondulações de correntes elétricas e transformá-las em ondas sonoras, possibilitando uma ampla liberdade na criação de novos timbres e do que chamamos de “sound design”.

Não à toa, o sintetizador é o grande queridinho dos produtores de música eletrônica, especialmente do DJ Glen, que cultua uma paixão especial pelo instrumento.

Com uma assinatura voltada aos grooves de impacto e melodias complexas que trazem sonoridades distintas e originais, o artista usa e abusa dos sintetizadores em suas faixas, trabalhando de forma criativa e muitas vezes imprevisível.

Entre diversos modelos, dos clássicos aos digitais, Glen não economiza na criatividade na hora de trabalhar com timbres sintetizados dentro de estúdio.

Para saber um pouco mais dessa relação entre “homem e máquina”, nós trocamos uma ideia com ele:

Mixmag: Como começou sua paixão pela síntese sonora?

DJ Glen: Para entender de onde vem toda esta paixão por sintetizadores, temos que voltar um pouco no tempo e ver como compreendi a música dance.

Quando adolescente, nos anos 90, era inevitável o contato com as bandas de rock e os timbres rebeldes das minhas bandas favoritas (Rage Against the Machine, Nofx, Offspring, etc.) tinham um pé no som das bandas eletrônicas favoritas também, como Prodigy, Chemical Brothers e Altern 8.

Quando descobri as raves de techno, pouco os sintetizadores eram utilizados, praticamente o som era feito de baterias sujas e muita distorção, a atitude era punk, mas a guitarra do rock fazia falta.

Um certo dia descobri o tal do electro, que apresentados para mim por artistas como Vitalic, DJ Hell, The Hacker, Anthony Rother e Etienne De Crecy, conectaram a paixão adolescente do rock com o mundo raver-dancer-undergrounder tão fresh pra mim no começo dos anos 00.

Me agradava tanto o estilo que foi natural ter curiosidade para saber como tudo era feito, quais instrumentos usados e como — infelizmente era uma época de pouca informação disponível, foi colocando a mão na massa com o mínimo que eu sabia que descobri como as coisas eram feitas e pude também ter a minha própria forma de fazê-la, muitos anos depois.

Ao longo do tempo, as dificuldades para se fazer um som no nível das referências que eu tinha eram numerosas, mas posso pontuar a principal: dinheiro.

Os estúdios e acesso aos melhores sintetizadores beirava o impossível, e estamos falando de um nível nacional, quase não tínhamos empresas que desenvolviam estes equipamentos no Brasil, não tinha como importar a não ser que a pessoa fosse pro exterior e trouxesse na mala, uma realidade longe da minha.

Graças à evolução dos sintetizadores virtuais e à pirataria, um cara como eu, no Brasil, pôde ter um mínimo de chance de fazer algo parecido sem investimento.

É claro que ser brasileiro e aceitar o fato de produzir um som com instrumentos roubados é uma vantagem que outros produtores no mundo jamais ousariam, pelo menos os que conheci. Hoje em dia, felizmente, não preciso mais usar os piratas, a consciência agradece.

E um sintetizador favorito para produzir, existe? Você tem preferência em usar um analógico clássico em detrimento de um digital?]

Não sei dizer qual meu favorito, mantenho a coleção enxuta e vendo aqueles que não consegui evoluir, mas vou arriscar em dizer que o Korg Ms-20 tenha um peso especial pra mim, consigo chegar em tudo que quero numa velocidade impressionante, ele é bem intuitivo e com uma coloração timbral que me agrada muito, lembra os electros lá do começo da minha vida.

E claro que quase sempre prefiro usar um dos analógicos pra produzir, também aprendi que é melhor ter menos sintetizadores e dominá-los do que ter muitos e fazer praticamente o mesmo som com todos. O fato de preferir sempre usar os sintetizadores ao invés dos digitais bate nesse lance do minimalismo e na rapidez que consigo fazer o que quero.

Os vsts são melhores quando você está apenas procurando idéias aleatórias para uma track, aí baixar uma infinidade de presets compensa muito mais do que uma infinidade de vsts. Sou fã da Arturia desde sempre, felizmente ela começou a fazer controladores midi, sintetizadores e componentes para eurorack, tenho tudo.

Você já possui um preset desenvolvido por você ou a cada nova faixa você procura desenvolver um timbre diferente?

Desenvolver os presets é essencial para tudo fazer sentido, usar presets de outros artistas é bastante limitado, talvez funcione se você estiver num momento sem inspiração.

A maioria dos meus sintetizadores nem presets tem, pra eu salvar alguma loucura eu tenho que lembrar de cabeça ou tirar uma foto, mas já dá pra lembrar de cabeça hoje em dia, o que faz sentido sobre dominar bem os synths que escrevi acima.

E guardar todo esse conhecimento só pra você não é o que acontece agora, certo? Soubemos que recentemente você integrou o time de professores da comunidade de áudio de Andre Salata. Conta como são as aulas e o que de mais legal essa experiência tá trazendo pra você e aos alunos?

No começo da quarentena me empolguei em fazer meu próprio masterclass, assisti vários de artistas que gosto e achei que seria bacana fazer o meu. Até cheguei a gravar umas 40 horas em vídeos, editei, organizei em assuntos e até que estava indo bem, mas encanei com uma limitação técnica que tive.

Então recrutei cobaias para aulas particulares, levantei o investimento para desbloquear as limitações técnicas e acabou meu tempo, pois a quarentena relaxou um pouco e voltei a tocar. Então veio o convite do Salata, achei muito maneiro e pensei que talvez animaria com isso para voltar ao projeto masterclass.

Foi legal a experiência com as cobaias pois a maioria de alunos particulares que tive foram gringos, então pude desenvolver uma linguagem mais direta e simples, também organizei e continuo organizando as principais dúvidas e o que as pessoas mais se interessam. Meio que já me sinto preparado para recomeçar as gravações neste momento.

Novo Lançamento

Com o potencial criativo sempre latente e a todo vapor, Glen exibe sua capacidade inventiva e intrigante também na sua nova faixa “Motion Sickness”, que saiu recentemente pelo catálogo da UP Club Records.

Experimentando técnicas inusitadas, a track é um reflexo de sua criatividade ilimitada na construção de beats para as pistas de dança, com riffs de synths que se desarranjam propositalmente e levam o ouvinte ao delírio.

O que mais vem pela frente? Agora é esperar pra ver (e ouvir)!

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Photos: Divulgação

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