
Falamos com The Alexsander sobre seu segundo álbum de estúdio, Awareness
Com 12 faixas originais, o LP foi assinado pela própria label, Hypnotic Rhythm, e reforça a busca pela própria identidade fugindo de comparações
Misterioso por escolha e inquieto por natureza, The Alexsander construiu sua trajetória artística longe do óbvio. Desde o início, optou por manter sua identidade fora dos holofotes, preferindo direcionar a atenção para o que realmente o move: a música.
Apesar de hoje concentrar seus lançamentos na própria gravadora, a Hypnotic Rhythm, o artista já emplacou faixas por selos como Suara, Spinnin’ Deep e AFTR:HRS - etapas anteriores de uma carreira que tem evoluído constantemente.
Também colaborou com nomes como Miss Monique e CamelPhat, consolidando um estilo marcado por atmosferas densas, influências cinematográficas e um equilíbrio preciso entre o analógico e o digital.

Seu novo álbum, Awareness, que chegou ao público via Hypnotic Rhythm no final de junho, representa um passo significativo dentro dessa caminhada.
Com 12 faixas conectadas por um conceito poético, futurista e existencial, o trabalho propõe uma escuta que vai além da pista - combinando techno introspectivo, experimentações com inteligência artificial, heranças culturais persas e mensagens sobre autoconhecimento.
Criado ao longo de dois anos, o disco traz desde vocais gerados por IA até sintetizadores vintage, como o Roland SH-101 e o Korg MS-20, compondo uma obra que busca provocar reflexão, expandir sentidos e inspirar mudanças.
Nesta entrevista exclusiva, The Alexsander fala sobre o processo de criação, a filosofia por trás do disco, sua relação com o estúdio e os próximos passos da carreira. Confira:
Q+A: The Alexsander
Olá, Alexsander. Obrigado por nos receber. Gostaríamos de começar falando sobre o seu novo LP, Awareness, que propõe uma escuta mais conceitual, quase como uma jornada. Em que momento essa ideia surgiu e como ela se desenvolveu ao longo do seu processo criativo?
Obrigado - é um prazer compartilhar isso com vocês. A ideia do "Awareness" começou mais como um sentimento do que um conceito. Eu estava passando por uma fase em que comecei a questionar tudo - minhas crenças, minha identidade, até minha relação com o som. Ao longo dos anos, essa busca interior se tornou mais intencional.
Eu não queria só fazer tracks; queria criar uma experiência. A jornada se desenvolveu naturalmente, às vezes em momentos de caos, outras em momentos de quietude. Virou uma espécie de documentário pessoal em som — explorando as camadas da autoconsciência, da tecnologia e da cultura.
Cada faixa do disco tem um título simbólico… "DNA", "Soul", "Observer", "Jumpin". Como esses nomes se conectam com a mensagem que você quer transmitir ao ouvinte?
Cada título representa uma camada da experiência humana. "DNA" fala sobre as origens que carregamos em nossas células. "Soul" aborda a parte intangível de nós. "Observer" reflete aquela parte que está sempre observando - o eu consciente.
E "Jumpin" é como o momento em que você finalmente decide agir com base no que percebeu. Esses títulos não são só nomes - são portais de entrada. Eu queria que o ouvinte sentisse como se estivesse desdobrando algo dentro de si a cada faixa.
Em uma publicação no seu Instagram, você apresentou um poema que resume o conceito do álbum. As letras e os vocais são uma parte importante das obras que você cria? Elas geralmente influenciam o caminho que as músicas irão tomar?
Com certeza. Mesmo trabalhando principalmente com música instrumental e eletrônica, as palavras têm peso. Às vezes, uma única frase define a carga emocional de uma faixa inteira.
Para o Awareness, experimentei muito com vocais gerados por IA que recitam citações curtas ou fragmentos poéticos - muitas vezes escritos por mim ou inspirados em artistas que admiro.
Essas vozes ajudaram a ancorar a emoção e guiar a energia de cada peça. Então sim, as palavras influenciam a direção das minhas composições, mesmo quando são sutis.
Talvez uma das faixas mais diferentes do disco seja “DNA”, já que traz elementos da sua ancestralidade persa somadas ao prisma do Techno industrial. Pode nos contar mais sobre essa herança cultural presente no álbum?
"DNA" é provavelmente a faixa mais pessoal que já fiz. Minhas raízes persas sempre viveram dentro de mim - nos ritmos, nos tons, na filosofia. Para essa faixa, quis misturar elementos vocais e escalas tradicionais com uma estrutura mais mecânica e sombria.
Esse contraste entre herança e futurismo tornou-se simbólico para o álbum inteiro: uma fusão de onde venho e para onde vou. É uma forma de honrar o passado enquanto permaneço enraizado no presente.

Desde 2022, todos os seus releases saíram pela Hypnotic Rhythm, sua própria gravadora. Claro, isso te permite uma maior liberdade no momento de produção e lançamento das faixas, mas é algo que você deseja manter após o lançamento do álbum? Ou a ideia volta a ser encontrar espaço em outras labels também?
Ter a Hypnotic Rhythm me dá controle criativo total - não só sobre a música, mas sobre a linguagem visual e a mensagem por trás de cada lançamento. Essa liberdade não tem preço.
Mas não sou contra trabalhar com outros selos de novo, se for a parceria certa e as visões se alinharem. No momento, a Hypnotic Rhythm é minha casa, mas estou sempre aberto a colaborações, especialmente quando elas ampliam os limites artísticos.
Em termos de estúdio, o que você poderia destacar de recursos mais interessantes utilizados na produção de Awareness? Qual foi a parte mais desafiadora de todo esse processo?
Acho que o mais interessante foi combinar o velho e o novo - sintetizadores analógicos como o SH-101 e o MS-20 com sintetizadores digitais, vozes de IA e cadeias de processamento personalizadas. Adoro criar tensão entre o orgânico e o artificial.
A parte mais difícil, porém, foi emocional: abandonar o perfeccionismo. Algumas dessas faixas foram retrabalhadas centenas de vezes ao longo de 2 anos. Em certo ponto, tive que aceitar que a imperfeição faz parte da história - que o Awareness já estava completo na sua essência, não só na estrutura.
É possível notar que seu som tem uma pegada bastante cinematográfica, introspectiva… essa é uma identidade que você sempre busca manter nos seus trabalhos?
Sim, acredito que sim. Sempre fui mais atraído por histórias do que por fórmulas. Mesmo quando faço uma faixa para a pista de dança, ela precisa ter um arco emocional - uma pulsação além do ritmo.
Minhas influências vão de Hans Zimmer à poesia sufista antiga, então essa dimensão cinematográfica e introspectiva entra naturalmente na música. Não é algo forçado. É simplesmente quem eu sou.

Read Next | Albuquerque lança seu segundo álbum repleto de referências e de retrospectiva sobre seus 17 anos de carreira
A Hypnotic Rhythm também abriga novos artistas e propostas mais experimentais, não é? Quais são os planos para o selo nos próximos meses?
Isso mesmo. A Hypnotic Rhythm é um espaço para música profunda, reflexiva e, às vezes, não convencional. Depois do Awareness, planejo lançar alguns EPs de artistas emergentes que exploram terrenos semelhantes - misturando texturas orgânicas com produção moderna.
Também teremos uma série limitada em vinil e conteúdo visual curado para expandir a estética do selo. Além de eventos audiovisuais onde cocriamos com outros criadores e nossa comunidade. A ideia é criar um mundo em torno do som - não só mais um catálogo.
Uma mensagem muito importante que você busca transmitir e reforçar é a questão de não se sentir pressionado ou seguir fórmulas, de encontrar o próprio caminho. Que conselho você daria para os novos artistas que estão lendo até aqui?
Não corra. Deixe que o silêncio entre as notas te guie. Não persiga tendências - persiga a verdade. A indústria vai tentar te definir, mas só você conhece sua frequência.
Construa sua visão como uma catedral - camada por camada, tijolo por tijolo, e não tenha medo de ficar sozinho com ela. É aí que a mágica começa.
E se você pudesse resumir sua carreira até aqui em uma só palavra ou frase, qual seria? Obrigado.
"Becoming."
Porque ainda estou me desdobrando, ainda aprendendo e ainda buscando algo que nem consigo nomear.
Follow The Alexsander on Instagram
Imagens: Divulgação