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Entrevista: Na contramão da indústria, Ivory segue surpreendendo ao se reinventar de forma autêntica a cada novo lançamento

Conversamos com o italiano que acaba de lançar um inebriante álbum de estúdio pela Innervisions

  • Marllon Eduardo Gauche
  • 13 May 2023

Sons fora do comum, inovação, dinamismo, versatilidade e autenticidade. Essas são algumas das características que encontramos para tentar descrever de forma fiel a identidade sonora do italiano Daniel Tagliaferri, mais conhecido como Ivory.

Enquanto muitos produtores estão fazendo mais do mesmo, soando cada vez mais repetitivos e cansativos, Ivory vai pelo caminho contrário. Cada produção sua é uma grata surpresa aos ouvidos, você nunca sabe exatamente o que vai encontrar ao longo dos próximos minutos.

Uma prova disso é o seu primeiro álbum de estúdio, Feelin’, assinado por nada menos que uma das gravadoras mais conceituadas da cena underground, Innervisions. Em 10 faixas, ele conseguiu criar uma montanha russa de sensações e sentimentos, flutuando com harmonia entre diferentes estilos… mas falaremos mais sobre isso adiante.

Claro que o disco acima é apenas a “ponta do iceberg” quando falamos de seu trabalho, já que suas músicas foram parar em outras gravadoras do calibre de Afterlife, Kompakt, Multinotes e Renaissance.

A expectativa é que possamos vê-lo em ação em breve aqui pelo Brasil, mas enquanto isso não acontece, você pode se divertir e conhecê-lo um pouco mais nessa entrevista exclusiva:

Q+A: Ivory

Olá, Daniel! Muito obrigado por fazer essa entrevista com a gente. Queremos começar falando, é claro, do seu álbum, Feelin’. É o seu “primeiro filho”, certo? Quando você começou a produzi-lo exatamente? O que te deu o "estalo" de pensar: “Ok, este é o momento de lançar meu primeiro álbum”?

Olá e obrigado por me convidar! Na verdade, nunca pensei em fazer um álbum, apenas aconteceu. Enviei para Kristian e Steffen (Ame e Dixon) as primeiras demos que seriam incluídas no álbum em junho/julho de 2021.

Então comecei a coletar mais e mais demos com esse estilo house, que é o som característico de todo o disco. Meses depois, Steffen me disse "Ok, você está enviando muita música boa, acho que temos faixas suficientes para lançar um álbum, então começamos a trabalhar nisso.

O que mais impressiona é como você passeia por diferentes estilos e cria tantas sensações ao longo das faixas. Destacar essa versatilidade do seu som era um dos objetivos?

Honestamente, de início eu não sabia se queria mostrar o quão multifacetada poderia ser minha produção musical.

Mas, com certeza, preciso experimentar coisas diferentes no estúdio e basicamente tudo que sai das minhas sessões de estúdio apenas refletem todas as muitas inspirações, audições diferentes e ideias de onde vem minha música.

Também devo dizer que fazer música é um ato criativo, então por que fazer sempre as mesmas coisas?

O LP foi assinado pela Innervisions, gravadora por onde você já havia lançado em 2020, com “Dreamers”, e novamente em 2021, com “Lost”. Como começou exatamente esse relacionamento com Dixon e Âme?

Como todo produtor que deseja abordar gravadoras e DJs, através de emails. As primeiras demos/promos que enviei para eles foram em 2018.

Eles começaram a tocar minha música com muita frequência e então meu primeiro lançamento com Innervisions foi "Transmoderna" em 2020, com “Dreamers” depois dessa, "Secret Weapons", "Exit Strategy"... enfim, como eu disse, 2018 foi a primeira abordagem a eles com a minha música.

Inclusive, há algumas semanas você voltou a lançar na Innervisions com “Burn Through”, uma collab com Solique, na compilação Secret Weapons 15. O que essa faixa mais difere em relação ao que você apresentou em Feelin’?

Honestamente? Não acho que essa colaboração com Solique soe tão diferente do que mostrei no álbum.

Eu diria que quis colaborar com eles porque senti a primeira versão da faixa muito próxima da atmosfera de minhas últimas produções, então trabalhamos juntos e adicionei meu toque pessoal à já incrível faixa deles.

Ok, agora saindo da Innervisions, mas ainda falando sobre produção musical… você é um artista que lança bastante remixes, tanto que seus últimos três lançamentos foram nesse formato: “Send Return”, do Magit Cacoon, “The Hi”, de Lazarusman e Hyenah, e “Brine”, de EdOne. O que é mais desafiador pra você, produzir um bom remix sem perder a essência original ou criar uma faixa do zero?

Em primeiro lugar quero dizer que não estou nem um pouco preocupado em perder a essência original da faixa, rs.

Geralmente mantenho alguns elementos da versão original e então gosto muito de dar uma reviravolta, porque às vezes o objetivo é realmente fazer algo totalmente diferente.

De qualquer forma, voltando à questão, remixar pode ser menos difícil do que começar algo do zero, porque quando você já tem alguns elementos para trabalhar, o fluxo de trabalho, muitas vezes, mas nem sempre, é mais rápido.

Em “Send Return Ivory Re-phone”, você deu uma roupagem bem inesperada no remix, com vários sons de telefones/celulares tocando ao fundo, uma espécie de “provocação” e reflexão sobre todos aqueles celulares que ficam ligados na pista, ao invés das pessoas estarem aproveitando a música de fato. Você se sente realmente incomodado com isso quando está tocando?

Eu não me importo muito com isso porque, para ser sincero, essa coisa de gravar vídeos durante os sets é uma espécie de divulgação do seu trabalho. As mídias sociais são hoje em dia uma parte importante do nosso trabalho, gostemos ou não.

As pessoas descobrem sua música mais pelas redes sociais do que por outras fontes. Isso é bom? É triste? Não quero julgar isso. Mas, na música e nas artes criativas em geral, é muito importante estar sempre bem conectado com o novo, ficar para trás não ajuda.

Mas como você disse, sim, foi uma provocação, como artista você pode transmitir uma mensagem com sua arte e sim, por que não, eu queria adicionar ao remix esse intervalo alto cheio de toques de telefone para prender a atenção nessa nova maneira de fazer sets.

Às vezes, quando chega o drop, você espera que as pessoas enlouqueçam, mas você vê um monte de gente parada gravando vídeos. Isso realmente mata a vibe, eu quero gritar para eles: vamos, divirta-se, balance seu corpo! (risos).

Algo que vem dando muito certo é a sua série “How It’s Made”, com vídeos muito bem produzidos mostrando um pouco do processo criativo por trás de algumas produções. É algo que você gosta de fazer?

Sim, totalmente, eu amo isso. É também uma forma de aproximar as pessoas do seu trabalho.

As pessoas estão muito interessadas em descobrir, encontrar coisas que estão escondidas aos seus olhos, então pensei que seria uma boa ideia dar a elas uma parte oculta da minha vida no estúdio, a gênese de uma faixa do começo ao fim, quantos atos criativos e truques estão por trás de fazer música.

E quais são os seus equipamentos de estúdio mais “queridinhos” do momento?

Não tenho um equipamento de estúdio favorito, mas adoro samples.

Olhando seu instagram, vi que recentemente você postou uma série de fotos no Canadá, aproveitando o país enquanto estava em turnê. Passear e conhecer novos lugares é algo que você busca fazer em cada país que visita? Algum em especial te chamou mais atenção?

Na maioria das vezes fico numa cidade por no máximo 12 horas. Por isso, quando tenho mais tempo para aproveitar, visitar é algo especial que não quero deixar de fazer. Porém nem sempre acontece.

Não quero ser banal, mas realmente, cada país tem algo especial. Não consigo escolher um. A própria oportunidade de descobrir diferentes países e culturas é incrível.

Bom, já que estamos falando sobre países… quando o veremos novamente no Brasil? Você tem acompanhado algum artista daqui?

Espero voltar em breve, os brasileiros nas festas são muito calorosos! Vocês têm muitos produtores muito bons no Brasil. Eu gosto muito do Davis, do Zopelar. Eu também conheço Binaryh.

Por fim, gostaríamos que você deixasse uma dica aos novos produtores que se encontram travados ou que ainda estão em busca de seu espaço na cena. Na sua opinião, qual é o diferencial que é preciso ter para se destacar dentre os demais? Obrigado!

Bem, não é uma pergunta fácil, mas eu diria que não há uma dica especial ou uma maneira de fazer música ou discotecar que possa ajudá-lo a se destacar especificamente.

Eu realmente acho que a única coisa que pode fazer a diferença é trabalhar com perseverança, nunca desistir e sempre acreditar em si mesmo. Obrigado pelo papo!

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Photos: Divulgação

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