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Levando o Hard Techno para o mundo: O explosivo show de Fatima Hajji

Uma entrevista exclusiva com a espanhola Fatima Hajji, a 'Rainha do Techno'

  • Words: Marllon Gauche | Photos: Alejandro Rutz
  • 8 May 2023

Após dar um play em um de seus sets mais recentes, não é preciso mais do que alguns minutos para sentir e entender o poder sonoro de Fatima Hajji.

Com uma personalidade eletrizante, a DJ de origem hispânica e ascendência árabe é dona de uma das apresentações mais explosivas e divertidas da atualidade, isso porque ela consegue equilibrar sua espontaneidade com aquela energia raver que tanto gostamos.

“Para mim é uma grande conquista ter cada vez mais pessoas ouvindo minha música nas diferentes plataformas e isso me dá ainda mais força para trabalhar duro e continuar fazendo o que faço, devolvendo ao público um pouco da alegria que eles me dão a cada show. Essa é a verdadeira chave para mim”.

Hajji se diverte ao mixar cada música sem deixar de executar o trabalho com maestria, apresentando uma seleção musical cuidadosa e bem construída.

Apelidada por muitos como “Rainha do Techno”, o título não é por menos; apenas no último mês de abril, ela preencheu sua agenda com 12 datas pela Europa e seu nome tem crescido especialmente nos Estados Unidos e América do Sul.

Mas segundo ela “números são apenas números, mas os sentimentos nunca serão esquecidos”.

Ela também soma mais de 120 apresentações no último ano e, para 2024, já possui mais de 20 festivais confirmados no calendário.

Essa ascensão também se reflete no digital, tanto que alcançou a marca de mais de 500k seguidores no TikTok, com apenas alguns meses de conta, além da ótima adesão de sua playlist Fatima Hajji’s Track IDs em parceria com o Spotify, com mais de 47k pessoas acompanhando.

“As redes sociais são uma ótima ferramenta, mas também podem ser uma armadilha. Só depende de como você lida com isso”, ela reforça.

Em meio a essa agenda concorrida, tivemos a oportunidade de conversar com ela para saber um pouco mais do seu passado, presente e futuro. Leia a seguir!

Olá, Fatima! Obrigado por essa entrevista. O que te motiva a continuar fazendo o que você faz? Qual é o seu combustível?

Eu cresci em uma casa onde a música estava presente o dia todo. Comecei a trabalhar aos 12 anos e a maioria dos meus amigos estava brincando enquanto eu trabalhava em uma pequena mercearia da minha mãe; então a música sempre foi a minha maneira de escapar e me sentir feliz.

Com exceção de um concurso de mixagem em vinil que você ganhou quando estava aprendendo, você se lembra da primeira grande gig de forma profissional?

Comecei a ser contratada em clubs primeiro na minha própria cidade e depois nos arredores... Eu tinha 16 anos e sentia todos os dias que isso era a minha vida e eu só queria me concentrar na música.

Não foi fácil, eu ficava muito nervosa antes de cada apresentação, sentia náuseas, mas depois de algum tempo percebi como transformar essa nervosia em adrenalina. Então, estou feliz em continuar fazendo o meu trabalho.

“Desde quando era criança, minhas lembranças se misturam com os cães que eu amava muito.”

Mas antes de entrar de cabeça na música, você teve outros empregos e um deles me chamou atenção: adestradora de cães! Muito legal e um pouco incomum… Inclusive você nomeou alguns EPs com o nome de seus cachorros, não foi?! Conte-nos um pouco mais sobre esse amor canino…

Desde que eu era criança, minhas lembranças são compartilhadas com os cachorros que eu amava muito.

Quando eu cresci e me mudei da minha cidade natal para Madrid, fiz isso com Nuska, uma Staff que era mais inteligente do que a maioria dos humanos que eu conheço, hahaha.

Os primeiros anos em Madrid foram difíceis e ela era meu pilar, mais do que amor. Uma relação incrível com uma alma durante 16 anos da minha vida. Agora, ela vai comigo para todo lado, pois está tatuada no meu braço.

Ela me deu a confiança para explorar mais sobre o comportamento dos cães e eu decidi aprender sobre treinamento positivo de cães.

Comecei com cães de abrigo, preparando-os para serem adotados, e depois trabalhei ajudando famílias com questões de comunicação com seus cães por algum tempo.

Foi uma ótima experiência. Agora, tenho 2 cães de abrigo e 2 gatos vira-latas (que agora têm um lar) e que são minha família.

Também soubemos que você curte cozinhar - algo que deve ter feito muito durante a pandemia. Em quais momentos você consegue trocar os jogs por panelas e temperos? Algum prato preferido, que você mais gosta de preparar?

Eu quero esquecer a época da pandemia, hahaha. Eu cozinhei muitas cheesecakes e foi uma grande batalha para queimar todas as calorias extras.

Sim, eu gosto de cozinhar às vezes. Quando consigo me concentrar em coisas como jardinagem, culinária ou qualquer trabalho com minhas próprias mãos, consigo relaxar minha mente; é como uma meditação, colocando para fora todos os pensamentos e ficando somente com o trabalho. Mas, para ser honesta, mais do que cozinhar, eu amo mesmo é comer bem :)

Nas vezes em que estive no Brasil me apaixonei pelo Pão de Queijo!

Existe algum outro hobbie que você curte no durante seu tempo livre?

Tempo livre? O que é isso? Haha! Quando estou em casa, gosto de passear com meus pets pela floresta. Além disso, pratico meditação, o que me ajuda a manter o equilíbrio e me conhecer melhor.

Voltando à sua carreira: no Instagram você tem quase 500 mil followers; no TikTok, já ultrapassou essa marca em poucos meses. Como lida com estes números? Pelo que vemos, a interação online com o público é importante pra você. Apesar de muitos artistas não gostarem disso… qual é a sua opinião?

As redes sociais são uma ótima ferramenta, mas também podem ser uma armadilha. Depende de como você lida com elas.

Eu estava feliz com o meu Myspace, pois tinha um lugar para mostrar meu trabalho para o mundo, o que ajudou bastante na época. Mas a cada dia ficava mais complicado.

No meu caso, uso a maioria das redes sociais mais conhecidas desde o início (como a maioria da minha geração) e desenvolvi algumas habilidades para distinguir o que é real do que é falso.

Isso não é fácil nos dias de hoje, mas acho que é importante, já que grande parte do que vemos não reflete a realidade. Também sobre os números, com essa nova moda de comprar seguidores e curtidas, mas as pessoas estão aprendendo a distinguir isso.

Claro que entendo por que alguns DJs não gostam de redes sociais, mas ainda sim é uma ótima ferramenta para mostrar seu trabalho para o mundo, descobrir novos artistas e músicas e também uma ferramenta que permitiu que a cena eletrônica se tornasse uma coisa global em poucas décadas.

“As redes sociais são uma ótima ferramenta, mas também podem ser uma armadilha. Depende de como você lida com elas.”

Falando em números, algumas de suas faixas ultrapassaram a expressiva marca de 1M de plays no Spotify, como “Violines”, lançada há cerca de 10 anos, e as mais recentes “Ykn” e “Mother Earth”. Acha que alguma delas que virou a chave na sua carreira como produtora?

Violines foi meu hino de Hardtechno. A música original é uma canção popular cantada por 3 cantores argelinos com Cheb Khaled como líder. Ele era um dos meus favoritos quando eu era criança, porque meu pai o ouvia muito, especialmente essa música.

Então decidi fazer esse remix e costumava fechar (às vezes também iniciava) meus sets com ela, ainda faço isso de vez em quando (especialmente e poucas vezes). Fico feliz em ver que ela tem uma boa quantidade de plays no Spotify e no YouTube.

Nos últimos anos, comecei a produzir com muito mais fluência, e a pandemia me deu mais tempo para dedicar às minhas produções e obter uma qualidade de som cada vez melhor a cada dia.

Algumas das últimas faixas têm funcionado muito bem. Para mim, é uma grande conquista ter cada vez mais pessoas ouvindo minhas faixas nas diferentes plataformas, e isso me dá ainda mais força para trabalhar duro e continuar fazendo meu próprio trabalho, e devolver às pessoas um pouco da felicidade que elas me dão todos os fins de semana. Essa é a verdadeira chave para mim.

Além dessas faixas que comentamos, seu sucesso também é muito por conta da sua performance como DJ. Enquanto escrevia essa entrevista, ouvi seu set All Night Long na Fabrik, que vendeu mais de 10 mil ingressos - outro número impressionante. Como foi essa experiência? Afinal, você estava tocando em casa para uma multidão apaixonada pelo seu som…

Números são apenas números, mas os sentimentos nunca são esquecidos. Recebi um feedback incrível nas redes sociais, muitas pessoas de lugares diferentes disseram que estiveram lá, meu empresário me disse que tudo estava indo bem, mas sem ser tão específico... mas a Fabrik é realmente muito grande e isso significa muita pressão.

Quando estava chegando na balada, comecei a ver muitos carros, mas pensei que havia outro motivo, pois ainda era cedo, eram apenas 23h30. Pouco depois, percebi porque quando cheguei na cabine de DJ, estava tão lotado que eu nunca havia visto antes, e ainda era antes da meia-noite.

Não consegui conter as lágrimas. Então foi como um sonho, o tempo parecia passar muito mais rápido do que o normal, as faixas pareciam se mixar sem minha ajuda, mesmo eu nunca usando sync em meus sets :D.

Na verdade, a noite foi muito curta para mim, curta, mas incrivelmente mágica. Não apenas por ter essa quantidade de pessoas nesta balada gigantesca para o ANL; mas também por causa da energia incrível que todos experimentamos lá.

Eu sei que essa conexão especial pode ser usada quando um DJ fala sobre seu público ou uma festa, mas aqueles que estiveram lá sentiram a mesma coisa.

Literalmente, passei uma semana inteira respondendo mensagens no Instagram, e lágrimas de alegria e felicidade ainda apareciam em várias ocasiões...

“É uma grande conquista ter cada vez mais gente ouvindo minhas faixas nas diferentes plataformas. Isso me dá ainda mais força para seguir trabalhando duro.”

Agora falando do Brasil, você já esteve aqui duas vezes, se não me engano: a primeira em 2014 e, depois, em 2020, na mov.E Wonder. Alguma ideia de quando poderemos vê-la novamente?

Boas lembranças nas duas vezes. Os clubbers brasileiros são calorosos e enérgicos e eu amo isso. Por alguma razão, há outros países em que eu toco muito mais.

O techno e o hard estão crescendo a cada ano na América, então espero que a hora de visitar seu lindo país com mais frequência esteja próximo para mim.

Sabemos que você tem dado suporte para a música ‘Dawn Of A New Age’ de um artista brasileiro chamado LuizFribs, que é um nome em ascensão no Hard Techno por aqui. Além dele, você acompanha algum outro nome do nosso país? Você busca dar oportunidade a artistas mais novatos nos seus sets?

Amo a faixa do Luis, é uma bomba! Eu toco o que gosto, com foco apenas na música e isso me faz tocar muitas coisas de novos artistas, especialmente agora que muita música e gente nova aparece todos os dias. Na minha opinião, isso acontece porque a cena (Techno) está saudável e em crescimento.

Você tem uma agenda muito lotada e muitos festivais confirmados para os próximos meses, certo? Incluindo uma temporada em Ibiza com shows exclusivos no Amnesia e no DC-10. Como equilibra essa agenda com a vida pessoal?

O que é vida pessoal? Hahaha de novo :D

Brincadeiras à parte, essa piada tem um grande traço de realidade, estou realmente feliz por isso. Este ano está sendo grande e sinto que estou vivendo um dos melhores momentos da minha vida. Cada artista tem seu próprio caminho e o meu (do meu ponto de vista) evoluiu lentamente, passo a passo, nas últimas duas décadas.

Por exemplo, eu comecei a tocar em Ibiza há uns 10 anos, com poucas e pequenas festas no início, e a cada ano as coisas foram melhorando um pouco mais. Claro, às vezes eu gostaria de ter sucesso mais rapidamente, mas aprendi que as coisas que chegam devagar costumam durar muito mais do que as conquistas fáceis e rápidas.

“A Silver M é onde lanço minha música e onde lanço novos nomes. Ouço cada demo que recebo e o que lançamos é uma escolha totalmente minha. Se eu gostar, lançamos. Simples assim.”

Além disso, tem sua label Silver M, que segue lançando novos singles e EPs quase que mensalmente. Qual é o objetivo da gravadora? Você participa da curadoria quando envolve outros artistas?

A Silver M é o lugar onde eu lanço regularmente minha música, mas também é onde posso lançar novos nomes. Além das minhas faixas, 90% dos lançamentos do selo são de demos enviadas por produtores para nosso e-mail.

Eu sabia que não é fácil conseguir ser lançado quando se é um novato e administrar seu próprio selo também é algo que requer tempo e alguma experiência. Por isso, decidi abrir essa porta.

Eu ouço cada demo que recebemos e é apenas minha escolha o que está sendo lançado, não importa se conheço ou não o nome do produtor ou as previsões de vendas. Se eu gostar, eu lanço. Simples assim.

Pra finalizar a entrevista, não há como negar que você é uma verdadeira batalhadora e que alcançou todo esse sucesso graças ao seu trabalho duro. Para finalizar, qual dica daria para os artistas que estão ingressando na cena agora? Obrigado!!

O melhor conselho é fazer o que você ama e fazê-lo apenas porque ama. O caminho não é fácil e às vezes fica complicado, sendo necessário a paixão para continuar no seu caminho, não importa o que aconteça.

Também faça o seu próprio trabalho, não copie ou imite ninguém, cada um de nós tem um potencial único e maravilhoso, apenas descubra e expanda o seu. Todos os grandes artistas são únicos e provavelmente é isso que mais amamos neles.

Por último, mas não menos importante, para todos os novos DJs, por favor, aprendam a mixar de verdade sem o SYNC, para sentir a magia da arte de mixagem, mesmo quando a mixagem não é perfeita, é uma coisa maravilhosa saber consertar depois.

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