Entrevista: DJ Sharam
Trocando idéias com o icônico DJ
3 Entrevista: DJ Sharam
Sharam começou a amar música quando jovem no Irã, depois da Revolução Islamita. Buscava coleções de vídeo da MTV, que achava em locadoras clandestinas, único jeito de ouvir música ocidental. Pensava: "Como posso mixar de uma faixa para outra sem parar a fita?"
Só nos EUA ele descobriu. Gravou o filme Flashdance numa fita cassete para escutar. Anos depois, Deep Dish gravou uma faixa eletrônica do mesmo nome, um sample do tema.
Saiu de sua pátria mãe aos 13, 14 anos (não lembra exatamente), em 1985. "Naquela época você ia para escola ou ia para a guerra", me disse, em 1994.
O Dubfire foi embora antes, em 1978. Os dois se conheceram quando um amigo em comum os apresentou, numa balada underground, em Washington, onde Sharam já tocava.
O Dubfire entrou nas picapes, tocou West Bam, 'Alarm Clock', e todo mundo na pista fugiu. O Sharam ficou puto. E começou a amizade.
No início do Deep Dish, na época daquela entrevista de 1994, o Sharam trabalhava como gerente de uma rede de sapatarias, indo de carro para a casa de Dubfire depois do trabalho para gravar.
Virou profissional. Convenceu os pais, que queriam que o filho virasse um advogado ou médico, que tinha a chance de fazer sucesso com música quando mostrou ao pai o cheque que ganhara de cachê para um remix de Paula Abdul.
"Ele viu que eu estava apaixonado, que estava dedicado, e ele viu que financeiramente começava a fazer sentido", Sharam disse.
Família aliviada, Deep Dish tocou no mundo inteiro, fizeram remixes para Janet Jackson, Justin Timberlake, Madonna e Coldplay e ganharam um prêmio Grammy pelo 'remake' do hit 'Thank You', de Dido. Lançaram dois mixes para a série de mixes internacionais Global Underground – de Moscou e de Toronto.
Acompanhei a viagem para Moscou em 2001, em que tocaram duas noites de dez horas cada numa balada. Na segunda noite, as 10h da manha, ainda continuavam tocando, mesmo depois de quase todos terem ido embora.
Tocavam pelo amor à música mesmo, pela forca que os dois têm para tocar. "Amo muito tudo isso, aquela parte do DJ, fazendo música, tudo que vem com aquilo", disse Sharam.
Mesmo com todo o sucesso, em 2008 o Deep Dish se separou e os dois seguiram carreiras diferentes.
A questão do que é comercial, ou underground, e qual a diferença entre os dois – e até se isso importa, ou não – está na essência do Deep Dish e também no centro dessa separação.
Se o Sharam, nas palavras dele, mistura elementos comerciais e ao mesmo tempo intransigentes, o Dubfire, nas suas próprias palavras, é o mais 'nerd', mais underground da dupla.
Dubfire, hoje com 43, falou da relação entre eles numa outra entrevista, de um hotel na Croácia, num dia de folga em meio a uma turnê na Europa, também no Skype.
"Nós gostamos de coisas diferentes. Sei que o Sharam tem uma apreciação profunda por house e techno underground e toca bastante, mas acho que ele representa mais a cena comercial", ele disse. "Por causa disso discutimos muito desde
o início, desde que nos conhecemos."
Descreveu o parceiro. "Muito engraçado. Muito frustrante. Muito barulhento. Sempre foi uma pessoa muita carinhosa, sempre cuidou muito de sua família e dos seus amigos. É muito esperto, no sentido de negócios," disse.
"Nós viramos amigos para a vida inteira e compartilhamos momentos incríveis." Sharam concordou: "Sempre fomos amigos."
Os dois são honestos sobre a separação. "Quando trabalhava com o Ali, sempre falava, 'Eu faria isso completamente diferente se estivesse sozinho. Tem que chegar num acordo", disse Sharam.
"Estávamos nos distanciando de forma criativa e também pessoalmente", Dubfire disse. "Nossa relação pessoal também foi afetada pelas diferenças criativas. Chegamos a ficar dois anos sem nos falarmos."
Cada um fez um mix individual para a Global Underground, Sharam em Dubai, e Dubfire em Taipei. Eu fui nessas duas viagens juntos com os DJs. Vi sons sutilmente diferentes, e DJs igualmente talentosos. Mas como muitos, sentia falta daquele som único de Deep Dish, aquele que ouvi em 1994, ou até em hits mais recentes, mais pesados, como 'Cocaine'.
Depois do fim do Deep Dish, Sharam lançou músicas bem mais comerciais que o antigo parceiro teria permitido. 'Party All The Time', de 2006, foi uma faixa pop total, com refrão para encher a pista de um disco de casamento, e um vídeo de kitsch 1980s.
Em 2006 lançou 'She Came Along' com o rapper Kid Cudi – um hit pipoca que pula entre hip hop e pop e que veio com um clipe cômico que o Sharam mesmo dirigiu, um pastiche de cinema 'Spaghetti Western' que sugeriu que esse grande fã de cinema era mais talentoso atrás do console que com a câmera.
Foi um dos três clipes que dirigiu, que faziam parte de um disco conceitual que se chamava 'Get Wild'. "Amei a experiência. É muito trabalho. Tenho muito mais respeito por esse universo", disse. Pensa no que teria feito se não tivesse fugido de Irã. "Teria trabalhado com televisão, comédia ou algo assim."