Conversamos com André Moret sobre a versatilidade necessária entre o trabalho como DJ e produtor
Apaixonado pelas linhas melódicas, o artista sabe como poucos como conduzir um set enérgico, mas que se alinhe a sua identidade sonora
Provocar sentimentos intensos enquanto faz o público dançar incessantemente é o que motivou André Moret a iniciar sua jornada na música eletrônica e, nesta trajetória, ele percebeu que nenhuma outra sonoridade se alinharia tão bem com o seu propósito quanto o Progressive House.
Afinal, as linhas mais melódicas do House possuem um efeito hipnótico e cativante, capazes de proporcionar emoções e sensações singulares. Desde então, o artista vem desenvolvendo uma identidade poderosa dentro dessas sonoridades, que o destacaram como um dos principais artistas dessa nova geração.
Com essa visão diferenciada no mundo da música, Moret tem construído uma trajetória brilhante. Nos estúdios, seu trabalho como produtor e engenheiro de áudio tem chamado a atenção de grandes labels, colecionando lançamentos por selos como Onedotsixtow, Clubsonica Records, Massive Harmony, Deepwibe Undergroundd, One Of A Kind, Transensations Records e outras, além de conquistar suportes de alguns do principais nomes da cena mundial, como Nick Warren, Guy Mantzur, Khen, John Digweed e seu maior ídolo, Hernan Cattaneo, uma das razões para investir em melodias poderosas.
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Paralelamente, sua atuação como DJ não fica para trás, já que André tem envolvido pistas pelos mais diferentes locais do Brasil, passando por clubes importantes como D-EDGE, CAOS e mais, e até mesmo, outras partes da América do Sul, com gigs pela Argentina, Colômbia e Uruguai.
Isso porque o artista é dono de um repertório refinado, que envolve não só o Progressive House, mas passeia pelas linhas do Organic, Afro House e Techno, comprovando o impacto que as vertentes melódicas causam nas pistas, indo além do warm up, e sendo protagonistas das noites.
Com essas facetas tão presentes, se diferenciando e se complementando, o artista mostra como é possível encontrar o equilíbrio de ambas as atuações, mantendo sua identidade sonora consistente e ainda sim, movimentando o público pelas pistas. Para contar um pouco mais dessa dualidade e versatilidade, convidamos André Moret para uma entrevista. Confira:
André! Obrigada por topar conversar conosco. Para começar conta um pouco dessa sua paixão pelas linhas mais melódicas e progressivas do House, como surgiu essa identificação e o que te leva a focar nesta área?
Olá! Antes de tudo, gostaria de agradecer pelo espaço e oportunidade, é uma honra estar presente aqui com vocês.
Sobre a pergunta, desde que comecei a frequentar clubes e festas eletrônicas, as melodias me faziam o coração bater mais rápido, sentia que as harmonias me ajudavam a elevar o meu estado de espírito e a progressão rítmica silenciava a minha mente, como uma hipnose, auxiliando para que eu focasse nas emoções e sentimentos internos.
Logo que compreendi isso, não tive dúvidas que seguiria por esse caminho dentro da minha carreira.
Muita gente coloca o Progressive House e outros subgêneros melódicos como sonoridades de warm up, né?! Mas há um efeito muito sublime desses estilos nas pistas e que se bem trabalhados podem gerar sets intensos e super envolventes e a gente vê que é essa linha que você busca trabalhar como DJ. Como você trabalha o seu repertório e o que você vê como essencial na hora de analisar quais faixas entram em seu set?
O House Porgressivo é uma música pouco ansiosa, tempo é importante para que a pista seja tomada e promova a abertura dos ouvintes para as sensações que a progressividade tem a propor. A partir disso, sempre é possível desenvolver um set com a intensidade necessária!
O ímpeto dessa linha de som não advém de BPMs elevados e sons agressivos, mas sim da perspicácia com que se pode conduzir uma pista de dança. Portanto, sempre analiso as faixas capazes de criar sensações, desenvolver profundidade e apresentar potencial para fazer parte de uma história.
Como você se prepara para uma gig? Quais fatores são importantes serem levados em consideração na hora de montar o repertório e até durante a apresentação?
Dentro de um lineup, gosto de tomar consciência de qual é o meu papel, ver quais são os DJs próximos ao meu horário e, a partir disso, procuro fazer uma seleção de músicas que conecte a minha linha de som ao ecossistema da festa, de forma que existam vários caminhos a serem seguidos. Para isso, é imprescindível manter o meu repertório sempre rico, flexível e atualizado.
Também tem uma grande variação na performance dependendo do momento da pista, né?! Como saber e o que tocar em cada horário? Como você faz essa leitura do público?
Uma boa festa tem sempre começo, meio e fim. Cada momento exige um grau de energia a ser aplicado. Para construir isso, eu projeto um cenário futuro e determino onde quero chegar com meu set; a partir disso, basta me manter atento para ver se a pista está caminhando comigo. Olhos fechados, ouvidos atentos, atos de afeto e movimentos sincronizados à música são os melhores sinais que a pista pode me passar.
Dito isso, você é um artista bem versátil, né? Quais as influências e referências de seu trabalho, tanto como DJ e/ou como produtor?
Algo interessante sobre o termo progressividade é que não se trata de uma palavra que diz respeito somente a vertentes, mas também de um termo que pode caracterizar comportamentos sonoros e arranjos. Dentro das minhas referências, busco encontrar pontos de expressões que se sobressaiam e sejam possíveis de serem apresentados de forma progressiva.
Um exemplo foi quando passei a colocar The Martinez Brother e Priku na minha seleção, pois nos show que presenciei, ambos os projetos desenvolveram mixagens progressivas e loops constantes, criando uma atmosfera progressiva mesmo que sem grandes melodias. O mesmo se passou com Facundo Mohrr e Frankey & Sandrino, mas nesses casos as harmonias e instrumentos são mais aparentes.
Dentro do house progressivo, não posso negar, Hernan Cattaneo, Guy J, Sasha, John Digweed, Khen e Nick Warren, são meus ídolos. Mas em outras vertentes nunca deixei de acompanhar Patrice Baumel, David August, Stimming, &Me, Nicolas Jaar, Dixon, Bedouin, Phaxe, Morten Granau, Einmusik, Eagles & Butterflies, Kris Davis, entre outros grandes nomes.
Quais as principais diferenças entre o seu processo de trabalho como DJ e como produtor?
Gosto de levar ambos como um momento de contemplação. A diferença está no ponto em que a minha produção advém de mensagens internas que gosto de transcrever em música. É como um tempo meditativo, de um olhar em profundidade para a auto-expressão. Dessa forma, minha criatividade pode assumir diversas formas.
Entretanto, quando vou tocar, entendo que faço parte de um conjunto de fatores com os quais devo entrar em comunhão. Tais fatores se tratam de: ambientação, vertentes dentro da festa e lineup. Com isso, a minha flexibilidade como DJ é importante para que esse pontos se alinhem e tenhamos um compartilhar harmônico.
Como você analisa a cena do Progressive House nacional? O que você acredita que é necessário para ela se desenvolver ainda mais?
No Brasil, temos produtores de grande qualidade. Para mim, os que se destacam são: Luciano Scheffer, RIGOONI, Yudi Watanabe, Tonaco e Gorkiz. Além desses, há DJs com ótima consciência musical, como: Gui Milani, PK Live, Alec Araujo, Carla Cimino, Marcelo Strega, Turra, Thiago D’Jesus e outros. Com certeza temos uma boa base de artistas, mas sinto que é necessária uma maior predisposição dos clubes e festas para que a cena crescesse.
Algo muito interessante que acontece em minhas apresentações, é o feedback positivo do público apresentando um interesse por entender melhor sobre o tipo de sonoridade. Isso mostra que temos potencial para que o público escute e se interesse pelas vertentes progressivas.
Outro ponto significativo é que grandes artistas de sucesso nacional como D-Nox, Albuquerque e Zac, além de estarem na minha lista de suportes, cada vez incluem o house progressivo em seus sets, tocando músicas que os DJs nacionais que merecem mais espaço já tocam há tempos.
Recentemente, você também realizou turnês internacionais, passando por alguns países latinos. Quais foram os lugares mais legais dessas viagens? O público é muito diferente? Como foi ter esse contato com a cena desses locais e quais aprendizados você trouxe na bagagem? Obrigada pelo papo!
Foram 2 meses de viagem entre Argentina, Colômbia e Uruguai. Nesse período acumulei as minhas melhores experiências como DJ. Um público interessado pelo novo, com vontade de ser surpreendido e pouco ansioso, pois esperam o desenrolar da noite para ter uma boa aventura sonora. O que me alegra é sentir que o público brasileiro está indo no mesmo caminho!
Durante a tour recebi muito carinho de pessoas que acompanham o meu trabalho, além de ter a oportunidade de ser headliner nas 8 festas que toquei, sempre me apresentando com long sets. A viagem me trouxe confiança e fortaleceu minha consciência em conduzir a pista para uma jornada entre melodias, ritmos fortes e harmonias com ricas mensagens. Foram dias e noites que guardarei com muito carinho!
Agradeço pelas perguntas e pelo espaço!
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Photos: Divulgação
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