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Kaligo Records: 3 anos, 50 releases e o topo das vendas de techno

Conversamos com o label head Melgazzo sobre o que há por trás do sucesso de sua gravadora

  • Lau Ferreira
  • 14 September 2021

Fundada em agosto de 2019 pelo mineiro Vitor Melgaço — mais conhecido como Melgazzo —, a Kaligo Records aproveitou o período de incertezas e limitações da pandemia para focar em crescimento.

Com o intuito de fomentar a cultura eletrônica underground no mundo todo e uma identidade conceitual muito sólida — seu nome e proposta visual são inspirados nas caligos, borboletas-coruja típicas do Brasil, que trazem nas desenhos de olhos semelhantes a corujas —, passou a mirar exclusivamente no techno, colecionando ótimos resultados.

No último ano, todos os seus lançamentos entraram para os charts do gênero no Beatport, tornando-se o selo brasileiro de techno que mais vende pela plataforma.

Nos seus 50 discos (marca que será atingida nesta sexta-feira, 17, com o EP "Plus8", do duo argentino NP-Rio), já passaram nomes como Greg Notill, David Sellers, Andre Gazolla, Kleber, Touchtalk, 2Stroke, LuizFribs, Stéfano TT, Tony Romanello, Copini, Ortus e Bervon.

O EP "Absent", do turco Danny Wabbit, chegou a pegar o segundo lugar no Top 100 de "Techno (Raw / Deep / Hypnotic)", e recebeu suporte de Christian Smith e Testpilot (projeto paralelo do deadmau5).

Em face do aniversário de três anos da label — celebrado com o EP "Dark Sky", do novíssimo duo New Old Technology (formado por tarter e Bervon) — e do alcance da marca de 50 lançamentos, conversamos com Melgazzo sobre o sucesso da sua criatura.

Vitor, já são três anos de Kaligo Records. Olhando em retrospectiva, desde o primeiro esboço até esse 48º EP, como você avalia esse período de atuação? Qual o principal sentimento? As expectativas eram maiores ou menores, em relação ao que você conquistou até aqui?

Melgazzo: Olhando pra trás, parece que já percorri muita coisa, pois o tempo passa muito rápido e quando pisquei, já estou completando três anos de gravadora. Porém, ainda falta muito o que conquistar, estamos apenas começando uma longa jornada. Confesso que quando a criei, não imaginava que ela iria se tornar o que é hoje em tão pouco tempo. Hoje somos a label de techno número um em vendas do Brasil.

Meu principal sentimento é de gratidão. Trabalho muito duro, dedico inúmeras horas diárias para ela, deixando até, às vezes, o meu próprio projeto de lado, pois minha maior paixão que tenho na vida é a Kaligo Records.

As expectativas em relação ao que eu conquistei até aqui eram menores, e foram, de longe, superadas, e os objetivos cumpridos. De agora pra frente, meu foco é crescer cada vez mais, para poder entrar na concorrência com as big labels.

Você diria que a Kaligo Records saiu com a identidade sonora que você imaginava e planejava, ou ela acabou de certa forma sendo uma construção coletiva, a partir das entregas dos seus artistas?

No início, o foco era lançar música eletrônica underground, abrangendo do house ao techno, passando pelo tech house e melodic techno. Não tínhamos um gênero específico, igual temos hoje, que é o techno. Essa identidade sonora foi moldada com o tempo, à medida que mais artistas foram lançando.

Claro que eu também fui guiando a label aos poucos para o techno, quando, no final de 2019, decidi que não iríamos lançar nenhum outro gênero. Assim, começamos o ano de 2020 com uma nova identidade, que é seguida e, às vezes, modificada, até hoje.

A Kaligo Records tem todo um conceito bem estruturado e amarrado, envolvendo as borboletas-coruja, que também se conectam com a premissa da escuridão. Como você bolou essa ideia, e o quanto você acredita que ela tenha sido importante para o sucesso da gravadora?

Para falar a verdade, o nome surgiu primeiramente de "caliginous", que é um sinônimo de escuridão, em inglês, que depois se tornou "caligo", que é a tradução para latim, a língua que originou nosso idioma. Após pesquisar um pouco mais a fundo sobre o significado da palavra, me deparei com as borboletas-coruja, e achei bem interessante a história por trás delas.

Depois disso, decidi mudar de "caligo" para "Kaligo", simplesmente para ser um nome melhor de se ler. E aí veio o desafio de criar a logo da gravadora. Decidi fazer um logotipo que possuísse duas letras k, de costas um para o outro, formando as asas de uma borboleta, e na parte inferior de suas asas, dois círculos, simbolizando os olhos da coruja.

Desde então, todas as artes dos lançamentos da gravadora são a logo com um fundo diferente dentro e fora dela.

A label é cem por cento Vitor Melgaço, ou você tem equipe para definir, estratégias, planos de ação, burocracias e as outras atividades necessárias?

A gravadora sempre foi, desde o início, cem por cento eu. Porém, eu possuo um designer para todas as artes, um videomaker para os vídeos animados de cada lançamento e um masterizador, para fazer as masters das demos que são enviadas para mim. Fora isso, tudo é administrado por mim.

É comum que as labels, em suas datas ou marcos especiais, lancem compilações comemorativas. No caso da Kaligo, isso aconteceu apenas no release inaugural, com o V.A. "Imago". Depois, os aniversários foram celebrados com o seu primeiro álbum, um EP do Stéfano TT e, agora, um outro do novíssimo duo New Old Technology. Por quê? E por que a escolha por esses artistas para essas datas especiais?

Concordo que muitas gravadoras costumam lançar compilações para comemorar seus aniversários. Porém, como decidi mudar o meu nome artístico para Melgazzo em 2019, vi que poderia ser uma boa oportunidade de comemorar essa nova etapa, junto com a comemoração de um ano da gravadora.

Com isso, mudei o VA da Kaligo de 2019 para dezembro, e tive um retorno bem bacana, então decidi manter assim. Mas confesso que é uma ideia que já está na minha cabeça, de voltar o V.A. para agosto, a fim de sempre marcar a comemoração do aniversário da label.

A escolha do Stéfano TT para a comemoração do segundo ano foi pelo fato de ele ser um artista e uma pessoa extremamente importante para todo o cenário underground do Brasil. Na época, quando ainda trabalhava no grupo D-EDGE, ele já havia trazido inúmeros DJs/produtores do mundo todo para cá, fomentando bastante a nossa cultura eletrônica.

Escolhi o New Old Technology para a comemoração do terceiro ano da Kaligo porque, primeiramente, o Bervon é um artista novo e muito talentoso, que estou "apadrinhando" na gravadora (gosto de brincar ele que é pra Kaligo o que o Enrico Sangiuliano é pra Drumcode, rsrs). Ele já lançou três vezes na label até agora, e tem mais dois lançamentos já marcados para o futuro.

Além disso, o tarter também é um artista e pessoa admirável, que já construiu uma grande história no país, tocando e ajudando diversos outros a crescer — além do fato de que ele foi uma das pessoas por trás de trazer o mixer Model1 para o Brasil, o que pôde revolucionar bastante nosso mercado.

A Kaligo é uma das gravadoras de techno brasileiras que mais vêm se destacando nos charts do Beatport. Se não me engano, a grande maioria dos lançamentos pegou ao menos um Top 100, certo? Qual o segredo?

Correto. Desde que focamos no techno, entramos nos rankings do Beatport com quase todos os lançamentos, sendo que em 2020 foram, de fato, todos.

O segredo é trabalhar bastante, procurar sempre aprender, principalmente com os erros, arriscar, investir e jamais se fechar para oportunidades. Lembro que quando começou a pandemia, muitas pessoas foram desanimando do mercado e ficaram perdidas, sem saber muito o que fazer.

No meu caso, vi a pandemia como uma grande oportunidade para crescer o nome da label. Aproveitei que todos os DJs do mundo estavam em suas casas e comecei a entrar em contato com diversos produtores do mundo todo. Além disso, fui atrás de diversos nomes, para pedir seus e-mails para adicionar à nossa promo list.

Assim, aproveitei a grande onda de lives do ano passado para conseguir diversos vídeos de suportes que a Kaligo recebeu, como o suporte do Christian Smith e do deadmau5, com seu projeto Testpilot — vídeos que talvez nunca conseguiria se não estivéssemos em uma pandemia.

Portanto, o segredo é nunca desistir e sempre procurar encontrar oportunidades em meio às dificuldades.

E a pandemia não chegou a afetar os planos e as ações da Kaligo e do Melgazzo?

A pandemia foi devastadora para o setor de entretenimento como um todo, mas, como disse, para a Kaligo Records foi um momento bem importante para o crescimento. Já na Kaligo Events [produtora de eventos lançada no começo de 2020] e no Melgazzo, foi bem frustrante.

Tínhamos inúmeros planos para 2020 e 2021, como nosso primeiro evento cancelado, Ladies Room, com Eli Iwasa, além do [festival] UP Club, que faríamos em junho do ano passado, e diversos outros grandes eventos que estavam marcados no calendário e tivemos que adiar ou cancelar.

A Kaligo Events, iniciativa junto com sua namorada, a DJ Daniella Alcântara, foi anunciada logo antes da pandemia eclodir, não é mesmo? O projeto segue de pé?

Eu e a Daniella fazemos eventos juntos desde 2018 em Uberlândia-MG, trazendo inúmeros artistas para a cidade, fomentando bastante a cultura underground da região. Porém, nunca assinamos os eventos com algum nome por trás, por mais que todos sabiam que eram nossos.

No entanto, logo após nossa última festa, o D-EDGE Tour Uberlândia — que, a propósito, foi um sucesso —, decidimos que era hora de criar um nome para assinar tudo o que fôssemos fazer a partir daquele momento.

A empresa segue de pé, com muitos projetos já marcados para o futuro, que serão divulgados em breve.

O que pode nos adiantar de planos futuros para o selo? Algo especial para o 50º release? Quantos lançamentos você já tem fechados?

Quero ir em busca de maiores nomes. Acredito que já estamos atingindo artistas conhecidos mundialmente dentro do techno, porém acho que está na hora de crescermos um pouco mais.

Com isso em mente, convidei um produtor que admiro muito, e que atualmente está no Top 50 entre os DJs de techno que mais venderam nos últimos 12 meses — Chris Veron.

Inicialmente, havia o convidado para comemorar o lançamento de número 050 da label, mas ele não conseguiria fazer na data programada, então ficou para o 052, que sairá em outubro. Portanto, infelizmente não tenho um lançamento especial para o 50º.

Tenho releases fechados até março do ano que vem, e como disse antes, agora minha meta é ir atrás de grandes nomes da cena mundial, para aumentar ainda mais a audiência da gravadora.

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Photos: Divulgação

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