Entrevista: Julia Govor
Inspire-se nesta autêntica e sensível artista da música eletrônica
Se o nome Julia Govor ainda não faz parte do leque de artistas que você tem acompanhado ultimamente, é hora de abri-lo mais um pouco e receber essa incrível e talentosa DJ e produtora.
Natural da Rússia, Julia se mudou para Nova Iorque, cidade que lhe fez muito bem pessoalmente e profissionalmente, onde se encontrou de forma mais precisa no cenário musical.
Recentemente, ela fundou seu próprio selo: Jujuka. Sua proposta vai além de lançar músicas, é uma forma de expressão muito original da artista através de histórias ilustradas realizadas em parceria com Le.BLUE.
Neste fim de semana, a DJ desembarca no Brasil para uma tour de três datas passando pelo D-EDGE na quinta-feira (16), Club Vibe na sexta (17) e finalizando no Warung Beach Club, no sábado (18).
Mas antes de qualquer apresentação pelas pistas brasileiras, batemos um papo super bacana com a artista que permitiu conhecermos um pouco mais seu perfil sensível e inspirador.
Confira!
Olá, Julia! Tudo bem com você? Primeiramente muito obrigado por nos atender, é um prazer falar com você!
No início da sua carreira você deixou sua terra natal para partir rumo à Nova Iorque. Por quê exatamente essa cidade?
Eu sonhava em encontrar um músico para amar, apoiar e trabalhar lado a lado.
Em 2011, em um festival de música na Ucrânia, conheci Kamran.
Nos apaixonamos imediatamente e começamos a planejar o nosso futuro juntos.
Naquela época, Kamran morava e trabalhava em Nova York e eu em Moscou.
Tentamos Berlim, era o meio, mas nosso visto foi negado.
Moscou também não era uma opção.
Nova York era o único lugar para ficarmos juntos.
E sair da sua “zona de conforto” fez bem para você? Pessoalmente e profissionalmente? Como foram os primeiros meses longe de casa?
Não há zona de conforto para um verdadeiro músico ou artista. Você não é um criador se ficar no mesmo lugar e parar de crescer.
Quanto aos primeiros anos, foi a época mais bonita da minha vida, eu ainda sou apaixonada por esse lugar. Quando eu não tinha nada a perder, bati em todas as portas. Ouvi minha intuição, vi pessoas e suas ações, eu aprendi.
Conheci alguns amigos verdadeiros, que não me davam conselhos, mas defendiam suas ideias e me ensinavam.
Nova York me ensinou a fazer as coisas sem ter medo se não der certo. Em NY aprendi a deixar pra lá.
Sabemos que você procura sempre passar muita emoção em suas apresentações, certo? Você costuma preparar algo especial antes de tocar ou deixa seu set fluir mais naturalmente?
Sou mais sensitiva do que emotiva. Desde cedo, aprendi a sentir as pessoas e carregar suas dores e sentimentos em meu corpo.
Foi fácil não só pegar essa energia, como também encontrar pessoas com quem eu pudesse compartilhá-la. A música ajuda a me livrar das informações que acumulei.
Se você acompanha meu trabalho, pode ver a evolução. Costumava ser mais profundo, pois eu via o mundo assim.
Hoje minha música é cheia de caos, pois é assim que vejo o nosso mundo. O processo de busca por música é padrão, mas a forma de expressá-la é baseada em uma situação.
Você fundou seu próprio selo no final do ano passado e, apesar dos poucos lançamentos até o momento, ele possui uma proposta bem interessante. Quais são seus planos futuros com Jujuka?
Meu objetivo é muito simples - conseguir manter minhas ideias em pé, continuar chamando a atenção das pessoas, não usar ferramentas sexuais ou políticas, permanecer criativa, generosa, independente e livre.
Convido a todos para seguirem o projeto no Instagram @jujuka.music
Falando mais de seu lado como produtora, quem são suas maiores referências na música? O som de Julia Govor se aproxima de algum outro artista, na sua própria visão?
Eu quero que a música e os sons evoluam, que se integrem em novas formas de arte que as pessoas possam sentir e experimentar, mais do que apenas entretenimento.
Como criadora, é muito importante que eu não me concentre na mesma coisa ou em busca de visão, porque a visão vem com o tempo, conquistas, erros e rejeições.
Gosto de experimentar instrumentos, colaborar com diferentes artistas e músicos. Tento não pensar com quem me identifico.
Especialmente hoje em dia, é muito difícil entender quem é real e quem não é.
Mas eu admiro artistas como o meu marido, Kamran Sadeghi, seu ofício e motivação interminável que me impulsiona, adoro o fato de ele ouvir música de forma única.
Adoro me inspirar nos livros de John Cage. Gosto de ouvir discos do Atom TM e todos os seus projetos.
Gosto de colaborar no estúdio com minha banda No Summer e nossa vocalista Neda aka Kamalata, ela tem a voz e o espírito mais incrível que conheço.
Aprendi durante o nosso projeto por Jeroen Search que “menos é mais”.
Adoro ouvir composições clássicas de Galina Ustvolskaya e adormecer com sets de Abdulla Rashim.
Você teve uma passagem recente pelo Brasil há alguns meses. Quais são suas melhores lembranças daqui? Existe algum artista do nosso país que você tem acompanhado?
Minha amiga e colega, Amanda Mussi, me levou para um passeio ao redor de São Paulo: gostei muito da ideia de ver pessoas caminhando e correndo.
Gosto do graffiti, através deles você consegue entender os problemas, o que as pessoas estão sofrendo ou comemorando.
Adoro as plantas em volta dos prédios. Amanda me disse que essas plantas absorvem muita água e a cidade não pode arcar, principalmente em épocas de seca.
Infelizmente, as pessoas precisam destruí-las.
Mas o meu pico emocional aconteceu após ver os moradores de rua: quando caminhávamos pela Catedral da Sé e havia um culto, uma mulher cantando maravilhosamente, comecei a chorar, sua voz revirou tudo na minha cabeça, coração… Fechei os olhos e comecei a pedir misericórdia ao universo.
Desta vez, você retorna para tocar em três dos principais clubs do Brasil, D-EDGE, Club Vibe e Warung Beach Club.
O friozinho na barriga ainda existe antes de uma tour como essa? Como costumam ser seus últimos momentos antes de subir no palco? Muito obrigado por conversar com a gente!
Gosto de passar 30 minutos antes do meu set em uma pista de dança, pegar o humor certo para o meu set e observar os movimentos das pessoas.
Quando o clube está cheio, é fácil analisar a qualidade do som, falo com engenheiros do som e iluminação.