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Entrevista: Carlo Dall Anese

Um papo com um dos maiores nomes da dance music nacional

  • Mixmag Brazil Staff
  • 15 August 2015
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Na sua opinião, qual a importância da 'residência' na carreira de um DJ? Vale a pena?

Olha, eu acho que DJ residente já teve um significado diferente do que é hoje.

Tive algumas residências antes do Sirena, como a Sunshine e Overnight, por um curto período de tempo, tambem em São Caetano, e não existia DJ convidado, era só DJ residente, que era o cara que chegava lá uma hora antes de abrir o club, testava o som, se necessário tambem trocava algum alto falante queimado, revisava tudo e tocava a noite inteira até o final, por isso digo que era outro significado.

Era muito importante naquela época você ser residente - e lembro que tudo isso eu fiz no Sirena, tá? chegava às 10h da noite para abrir o club e saía de lá as 8h da manhã.

Quando tinha DJ convidado eu ficava, ouvia os caras tocando e entrava depois, quer dizer, foi uma coisa muito importante naquela época porque rolava aquela identidade forte do club com o residente e os DJs acabavam ficando muito famosos por causa do club, como foi o caso do saudoso Ricardo Guedes, na Contramão, o Vadão na Toco, o DJ Badinha na Overnight, enfim, foram coisas muito emblemáticas.

Hoje acho que perdeu um pouco o sentido, residência hoje virou mais uma coisa de convidado frequente. Perdeu aquele significado todo.

É importante ainda quando o DJ carrega essa bandeira, por exemplo o Green Valley, que é um superclub, e o Sirena tambem, o DJ carrega essa bandeira de ser residente do club.

Isso ajuda ele a vender gigs fora, mas eu acho que não tem mais o mesmo significado que já teve não. Na minha opinião hoje residente não é mais o residente, ele é o convidado frequente, vamos dizer assim.

Você já trabalhou com grandes nomes da cena eletrônica nacional e internacional. Conta alguma experência legal pra gente.

A melhor experiência que se tem é sempre ter reconhecimento.

Aconteceram muitas coisas. Num show com David Guetta ele me falou "cara então você que é o produtor de 'Monday' e de 'Bring Me The Down', adoro essas músicas e toco direto, obrigado, parabéns" e me deu um abraço. Foi uma experiência incrível.

Durante um bom tempo eu me especializei em warm ups para os DJs gringos, como o Fatboy Slim por exemplo.

O Norman até me chamou para uma turnê onde eu abria todas as gigs, porque eu fazia um "warm up impecável", quer dizer, eu deixava a pista quente mas sem bombar.

Isso eu fiz tambem com o John Digweed e foi muito legal, então, a parte mais legal é o reconhecimento.

Não me lembro de coisas ruins que eu tenha passado na minha carreira, foi tudo tão legal, tudo tão orgânico e natural.

Claro que a gente encontra caras que são meio arrogantes e tal, normalmente o que acaba acontecendo é que quanto maior o DJ, quanto maior o artista, mais gente boa ele é.

Eu passei por algumas experiências ruins com artistas nacionais que se achavam, se acham grandes nomes. E você não precisa ter esse topete todo, né? Enfim, tudo foi sempre muito legal.

Sobre produção musical, como vê sua evolução nesses quase 30 anos de trajeto?

Sobre a experiência musical, de estúdio, é algo bem interessante porque cada vez que entramos em estúdio, sabemos mais onde queremos chegar.

Isso não significa que quando a gente entra já tem a música na cabeça, não é isso mas, com a experiência que acabei adquirindo nesses anos todos, é muito legal para saber o que funciona e o que não funciona.

Então passamos a direcionar tudo muito melhor e o trabalho acaba ficando mais suave e orgânico. Ficou muito mais simples produzir.

Antigamente era necessário entrar num estúdio, hoje dá pra produzir sentado na cama da minha casa, os softwares estão muito avançados e ficou mais simples começar a produzir.

Com que frequência produz música? Produz muito?

Tenho feito muita coisa, muito experimental, muita coisa que a gente não lança porque a partir do momento em que se disponibiliza algo, aquilo fica lá pra sempre, então não dá pra brincar de colocar coisa ruim no mercado.

Estou sempre produzindo, tem temporada que é mais intensa e passo tres ou quatro dias em estúdio direto, tem temporada que rola um hiato de até quinze dias sem mexer.

Mas não é que a gente pára de produzir, estamos sempre produzindo, é que quando não estamos construindo o tijolinho, com a mão na massa, estamos arquitetando coisas. É um processo meio non-stop.

Produzir gera grana pra você?

Não. Produzir em sí não é uma coisa que gera lucro mas ao mesmo tempo é imprescindível e absolutamente indispensável.

Não se ganha mais dinheiro com vendagem de disco, claro, a não ser que você seja um big big name e venda centenas de milhares de cópias de downloads legalizados, isso é outra situação.

Mas produzir em si não é uma coisa lucrativa. O ECAD, eu acredito, até que faz um trabalho legal porque realmente há distribuição de lucro.

Eu recebo mensalmente pouco, mas recebo sobre as músicas e é importante saber que de alguma maneira essa máquina funciona, mas ao mesmo tempo se você não produz, não é conhecido e não tem gigs.

Então você precisa produzir para ter gigs, para seu nome ficar em evidência. A essência da produção em si não é lucrativa mas é imprescindível para que você mantenha uma carreira, por isso tem que produzir.

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