Entrevista: A origem do Luciano
Entenda como ele ajudou a trazer o eletrônico para os clubs Rock and Roll do Chile
2 Entrevista: A origem do Luciano
Como eram essas festas?
Meu Deus, às vezes eu ouço alguns DJs jovens falando sobre ‘underground’, mas eu não acho que nenhum DJ na Europa nos últimos dez anos faz ideia do que realmente é o underground.
No começo a música eletrônica não era sequer um movimento reconhecimento pela sociedade no Chile.
Nós estávamos à margem, tocando nos buracos mais horríveis e profundos da cidade.
Eu lembro de um lugar que tinha um muro entre o DJ e o público com um buraco no meio.
Adrian e eu estávamos nos apresentando e quando eu estava tocando ele ficava olhando pelo buraco pra me dizer como a música estava sendo recebida pelo público, então nós trocávamos e eu fazia isso por ele.
Uma festa aconteceu em um prédio onde eles exterminavam cães de rua, porque ninguém acreditava no que nós estávamos fazendo e ninguém nos cedia espaço.
Wow, e como as pessoas reagiam à música eletrônica que você estava tocando?
Bom, um dia eu estava me apresentando em um clube que normalmente tocava rock e as pessoas vinham apagar os cigarros delas nos nossos discos, de nojo.
Mas aquelas mesmas pessoas, dois anos depois, estavam dançando Techno.
Tudo mudou.
Nós vimos o nascimento daquela música no nosso país.
Naquela época, não havia dinheiro ou fama como motivação.
Isso é underground pra mim: um movimento que as pessoas não conhecem e que está tão escondido da sociedade que você precisa realmente procurar pra descobrir.
Hoje é só algo que é maneiro ou parece maneiro.
Mas música underground de verdade é aquela que você tem que procurar e ir até a porra de um porão no lugar mais esquisito do mundo.
Qual é a diferença entre a cultura de clube agora e quando você começou?
As coisas passam muito rápido hoje.
Muitos jovens artistas não têm sabem sobre os 15 ou 20 anos que nós tivemos que dedicar à música pra criar algo.
Existe uma obsessão com as demandas de artistas e da indústria, que tudo precisa se mover muito rápido.
Todo mundo fica ‘Qual é a próxima coisa?’.
As pessoas querem um novo gênero ou uma nova qualquer coisa, sem ter a capacidade de ver que nós estamos em uma era de música feita por máquinas e não necessariamente precisamos mudar tão rapidamente.
Tudo é pra agora.
O que você quer dizer?
Bom, 25 anos atrás [na música eletrônica] eu sinto que tinha encontrado a nave que me levaria pra Lua.
Eu sempre vou confiar naquela espaçonave.
Hoje todo mundo está na nave, mas sem saber, e ao invés de aproveitar, está todo mundo procurando pela próxima coisa.
Nós precisamos dar um passo pra trás e apreciar a incrível revolução pela qual a música passou nos últimos 50 anos.
Nós ainda estamos entendendo e aprendendo como expressar emoções incríveis através da música.
Nós temos que respeitar tudo o que vem disso.
Então você acha que as pessoas precisam desacelerar e apreciar mais?
Sim, eu acho.
Tudo passa muito rápido hoje. Se alguém peida no Japão, em cinco minutos todo mundo sabe nas redes sociais.
Antes não era assim.
Uma versão teste de um disco que saísse nos anos 90 ainda seria procurada por uns dois meses.
Nós apreciaríamos cada batida e melodia.
Mas hoje tudo passa tão rápido que não existe tempo pra apreciar.
Qual é a próxima merda? É essa merda aqui.
Você só precisa ouvir.
Existe algo único e incrível acontecendo hoje, mas ninguém tem tempo para apreciar.
Assista abaixo Luciano ao vivo numa apresentação exclusiva no Carnaval 2018, no Terraza Music Park, em Florianópolis!
Luciano Live at Terraza Music ParkEXCLUSIVE! Luciano (Official Page) Live at Terraza Music Park for #BURNResidency
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