Entrevista: A origem do Luciano
Entenda como ele ajudou a trazer o eletrônico para os clubs Rock and Roll do Chile
Quando um DJ alcança a fama e se torna um ícone premiado da cultura club, é fácil esquecer que em certo ponto de suas vidas eles estiveram presos no anonimato, perseguindo um sonho e lutando para fechar as contas no fim do mês.
O DJ suíço-chileno Luciano dispensa apresentações. O mago do house minimalista tem estado à frente de tudo o que acontece de bom e excitante na house music por algum tempo, seja através de sua explosiva e intensa festa Vagabundos, que faz tours pelos melhores clubes do mundo, ou através de sua gravadora Cadenza Records, que se tornou um espaço receptivo e fértil para novos e criativos DJs.
Mas a história de como ele se tornou o artista que é hoje é uma que nunca deveria ser esquecida, porque é uma linda e universal história sobre os fundamentos do que a música significa: a disseminação de novas ideias por mentes jovens e criativas. Luciano contou para BURN como foi, para um jovem punk rocker das ruas de Santiago, se tornar um dos maiores DJs da América do Sul.
Você nasceu na suíça, mas se mudou para o Chile ainda criança. Como foi crescer na capital do país, Santiago?
Nós costumávamos viver em uma pequena vila na Suíça, só com vacas e a natureza.
Era um paraíso. Mas quando nos mudamos para Santiago, estávamos em uma vizinhança bem complicada.
Tivemos que aprender rápido o código das ruas e como nos manter seguros.
Nós sempre fomos educados sobre o Chile pela minha mãe, mas viver lá e aprender como estar naquele ambiente foi um grande choque.
Mas depois as coisas começaram a acontecer pra mim como pessoa.
Eu passei a viver, curtir e fazer muitos amigos.
Se você me perguntar hoje qual é o meu lar, eu vou responder: Chile. É lá que estão as minhas memórias.
Como você passava os seus dias?
Nos fins de semana, você vai à praia, faz um churrasco, vê um pouco da natureza.
Era um ambiente legal e saudável.
Quando eu tinha uns 12 ou 13 anos eu comecei a aprender sobre música e a tocar um instrumento.
Nós tínhamos uma banda da escola, então ensaiávamos bastante.
Tínhamos baixo, bateria e eu tocava guitarra. Estávamos fazendo uma música bem estranha.
Você teve uma criação musical?
Meu pai costumava consertar jukeboxes, então sempre tínhamos música por perto.
Era parte do meu dia a dia. Minha mãe sempre nos levava para shows também.
Eu vi Michael Jackson ao vivo, o que foi incrível.
Meus pais também costumavam receber amigos e eles tocavam muita música em casa, nas festas.
Meu pai tinha muitos discos. Eu lembro de dormir durante essas festas, e ouvir todos aqueles sons ao meu redor.
Então sim, desde muito cedo eu estava em um ambiente repleto de entretenimento.
Qual foi a sua primeira experiência em um clube?
Muito antes de eu frequentar clubes de música eletrônica, eu estava indo em clubes com shows de rock e punk. Ambientes bem pesados.
Como você começou a se envolver com dance music?
A primeira vez foi quando eu estava visitando meu pai na Suíça.
Todos os meus amigos da escola estavam frequentando clubes e ouvindo essa música eletrônica estranha, que eu odiava!
Como músico, eu pensava ‘Isso é uma merda, não tem nada de natural nisso!’.
Mas então eu comecei a me interessar por música eletrônica quando eu descobri uma banda que usava uma máquina de bateria ao invés de um baterista.
Eu achei legal porque frequentemente, quando você chega no ensaio, o baterista ou o baixista está tendo um problema com a namorada e não pode ir ou algo do tipo, ou seja, a música sempre dependia de outra pessoa.
Substituir os músicos por uma máquina era incrível, você podia se tornar uma orquestra de um homem só.
Aquele foi o ponto de virada pra mim: perceber que com máquinas eu poderia fazer qualquer coisa.
Então você começou a organizar noites em Santiago?
Sim, não existiam muitos de nós.
No total talvez umas 16 pessoas e nós estávamos organizando as primeiras festas de música eletrônica em Santiago.
Nós estivemos por trás do movimento de música eletrônica do Chile.
As primeiras festas eram em apartamentos com umas 50 pessoas que depois se tornaram uma coisa enorme.
Havia muitos chilenos vivendo em outros países, como Ricardo Villalobos e Dandy Jack na Alemanha.
Adrian (que era o irmão mais novo do Dandy Jack) era meu melhor amigo e nós estávamos nos apresentando em todos os lugares.
Adrian sempre foi ligado ao seu irmão mais velho na Alemanha, que estava mandando muita música. Foi assim que nossa conexão começou.
Então Dandy Jack conheceu Ricardo Villalobos em Frankfurt um dia.
Na próxima vez que eles foram ao Chile, foram juntos, e eu estava na casa do Adrian.
Foi assim que nós nos conhecemos.