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Mandragora relata a experiência de ter 4 de suas 5 gigs interrompidas pela polícia na Índia

Além de sets parados ao meio, alguns estabelecimentos foram fechados permanentemente. Vem entender essa história!

  • Maria Angélica Parmigiani
  • 20 September 2022
Mandragora relata a experiência de ter 4 de suas 5 gigs interrompidas pela polícia na Índia

Por mais irreal que possa soar, a música eletrônica e o momento de integração promovido por ela ainda são vistos como um problema para muitos governos espalhados pelo mundo.

Aliás, não só governos, mas há muito preconceito com o assunto. Desde sempre, governos mais autoritários e/ou mais conservadores buscam barrar eventos de música eletrônica em suas diversas formas.

Grandes festivais de renome já tiveram seus eventos embargados poucos dias antes de seu acontecimento por simples implicância dos órgãos públicos com o gênero, mas o que mais causa dores de cabeça ainda são as festas raves.

E os motivos são variados: uso de substâncias ilícitas, o estilo de som, questões religiosas, os grupos que frequentam e por aí vai. Se aprofundar nem parece mais ser um caminho interessante, porque a conclusão disso tudo é uma só: mentalidade atrasada. Proibir nunca será um caminho saudável.

Um caso recente bem complexo, aconteceu com o artista mexicano Mandragora, que em sua turnê pela Índia teve quatro, de cinco gigs, interrompidas pela polícia local.

A terra do Goa Trance não parece ser um local onde eventos como “festas raves” são malquistos, mas estamos falando de uma realidade completamente diferente da nossa. Nós falamos diretamente com Mandragora para entender todos os detalhes dessa história.

Começando pelo começo…

Uma tour de 5 datas: Delhi, Mumbai, Chennai, Bangalore e Hyderabad. O que pode dar errado? Chegando na primeira festa, em Delhi, um hotel 5 estrelas, onde tem uma boate muito famosa da Índia. A equipe foi super bem recebida e segundo o próprio, se divertiram “pra cara$#@” e completou: “Nossa, se começou assim, o resto também vai ser f#da, bora!”.

Gigs internacionais tem seu quê de emoção, vamos combinar. Aqui cabe bem aquela expressão usada quando conseguimos nos safar de um sufoco que poderia ter dado muito errado: “Quer com emoção ou sem emoção?”. E quando alguém fala isso, você sabe que a resposta é: com emoção.

Chegando em Mumbai, mesmo esquema. Uma boate luxuosa dentro de um hotel 5 estrelas. Foi aí que as coisas começaram a dar errado… Chegou a hora de tocar, e depois de alguns minutos de set, alguém abordou o artista pedindo para que abaixasse o som, o que não é comum para casas de shows, que estão acostumadas ao som relativamente alto. Quando Mandragora não abaixou, ele voltou com a notícia de que a polícia já estava no local e teria que encerrar o evento.

“Peguei o microfone, abaixei o volume e falei: ‘Ó galera, a polícia bateu aqui, vão fechar a festa’, e como lá falam muito em inglês, eles começaram a cantar: ‘Fuck the police, fuck the police’”, guarde essa informação, pois vai ser importante. No fim das contas, não se sabe o que foi resolvido, mas ele conseguiu terminar o set e voltar pro hotel.

A loucura mesmo começa a partir da terceira data, em Chennai

Depois do artista ter repostado despretensiosamente stories do público entoando: “Fuck the police”. Ele relata: “Em Chennai fomos pro hotel, comemos e fomos pra festa. Lá era um open air irado, um palco num shopping bonito, era pra tudo ser legal, bem no meio da cidade, não era muito underground, tudo com alvará etc., a festa estava bombando, mais de 3 mil pessoas. Eu subi no palco e a galera foi a loucura, mas acho que só toquei uns 10 minutos, quando do nada alguém parou meu som.”

“Eu estava na frente do palco com o microfone na mão quando alguém falou que a polícia apareceu, chegou o promotor e tudo mais, e fomos embora super rápido. Sentimos como se estivéssemos fugindo, mas a gente não sabia que estávamos fugindo. Quando chegamos no hotel, os caras falaram que se ficássemos ali, iam prender a gente, o equipamento, a equipe, e ia dar um B.O. Aí a polícia realmente chegou, fechando tudo.”

A última festa… essa vai! Será?

“Fomos dormir, no outro dia fomos para Bangalore, que era pra ser a última festa. Chegamos lá, na boate, local lotado, aí comecei a tocar e não tinha nem 20 minutos, chegou a polícia e desligou o som, na hora, sem avisar, de novo! Aí eu falei: ‘cara&$@, como assim? por que isso?’, e de novo fomos correndo pro hotel. Quando acordamos, vimos no jornal que tinham várias matérias falando que a gente tinha desrespeitado a polícia porque demos repost naquele stories.”

“Achamos que eles iam até a justiça com a gente por isso, estávamos assustados pensando: ‘nossa, será que quando sairmos do país vamos ser parados? rolar algum B.O?’. Mas conseguimos voltar pra Europa, deu tudo certo, mas a gente não sabe quando vai voltar pra Índia, é um dos maiores mercados, todos os eventos eram sold out, e ficamos sabendo que a polícia já tava de olho na nossa tour, então a primeira vez que aconteceu já tinha na cabeça que eles iam fechar todas as outras festas, eles conseguiram fechar ainda vários estabelecimentos permanentemente. A gente acha que a polícia estava esperando justamente isso, pra fechar os eventos e mostrar o trabalho deles. No meu ponto de vista fecharam a festa simplesmente por fechar, pra que rolasse uma ‘má imprensa’ para falar: ‘isso que dá quando você contrata DJ, música eletrônica, só álcool, droga’. É isso.”

No meio dessa loucura, o público reagiu muito bem: “A galera tava indo a loucura e curtindo muito, dá uma dó de parar o set no meio. A maioria dos feedbacks foram positivos, do pessoal também lamentando que a polícia chegou e teve que parar o set. Deu pra sentir o carinho da galera, mas foi uma pena a gente não poder fazer nosso trabalho direito, mostrar as músicas…”, conta Neto.

E o aprendizado que fica?

Mas de toda situação, sai uma lição. Ele dividiu com a gente o que aprendeu com essa experiência: “A arte é muito forte, cultura é muito f#da, é uma coisa que faz o pessoal ter uma convivência, ser mais unido uns com os outros, é uma liberdade, um luxo… a arte é um luxo quando você tá numa situação como essa, consegue ver quão bom é nos outros lugares onde temos liberdade.

A lição final é que posso agradecer que cresci num lugar que não tem um preconceito tão forte como lá. Gratidão de onde eu moro ter a oportunidade de aprender e me expressar. E saudades da comida da Índia! Saudades! Obrigado, é nois!”, finaliza.

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