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Milton Chuquer lança remix oficial para Gilberto Gil e nos revela detalhes num bate-papo exclusivo

Com mais de 30 anos de carreira, o artista brasileiro fala sobre sua guinada na produção musical e sobre os 20 anos da Sunday Sessions

  • Marllon Gauche
  • 13 August 2025

Milton Chuquer é um nome que poderia facilmente dispensar apresentações. Com mais de três décadas de discotecagem, o paulistano construiu uma trajetória que o levou de pistas nacionais a clubs icônicos como Cielo e Shelter em Nova York, e participação em festivais como Boiler Room e DGTL no Brasil.

Sua assinatura é uma fusão elegante entre House, Disco e as raízes da MPB - da Bossa Nova ao Samba-Jazz - que marcaram sua formação musical nos anos 70. É essa identidade que faz dele um dos poucos DJs capazes de impressionar pela versatilidade sem jamais perder a personalidade.

Fundador da festa Sunday Sessions, que completou duas décadas levando grandes nomes internacionais como Osunlade, François K e Timmy Regisford para São Paulo, Milton também consolidou sua presença como produtor nos últimos cinco anos.

Agora, aos 66 anos, ele apresenta o trabalho mais especial da carreira: um remix oficial para "Realce", clássico de Gilberto Gil de 1979.

Lançado pela Gegê Produções Artísticas, gravadora do próprio Gil, a releitura de Chuquer busca honrar a originalidade da faixa, adicionando elementos que a conectam à sonoridade atual, sem perder sua elegância atemporal.

Para entender os bastidores dessa produção e os próximos passos de sua carreira, a Mixmag conversou com Milton Chuquer. Confira a seguir.

Q+A: Milton Chuquer

Milton, muito obrigado por nos receber. Gostaríamos de começar falando, é claro, sobre este seu novo trabalho: o remix de ‘Realce’, do Gilberto Gil. Como surgiu a oportunidade de colocar suas mãos nessa música tão especial, e ainda mais com o aval da Gegê?

Eu resolvi fazer o remix inicialmente sem nenhuma pretensão de lançamento - apenas para tocar nos meus sets, distribuir para alguns DJs que curtem, e por aí vai. Sempre soube da grande dificuldade que é conseguir realizar um lançamento oficial de um artista do porte do Gil.

Mas um dia reencontrei um amigo, Claudio Silberberg, que trabalha há anos no music business e tem muito know-how nesse mundo. Conversando com ele, me disse que poderíamos iniciar um processo de aprovação. Resolvi, então, dar esse start e, depois de um bom tempo - entre idas e vindas - para minha felicidade, acabou sendo aprovado.

O que te fez escolher ‘Realce’ dentre tantos clássicos do Gil? Essa música possui algum significado especial para você?

Sou um grande fã da obra do Gil, especialmente do álbum Realce, de 1979, auge da era Disco e que me remete às festas que aconteciam lá em casa, com família e amigos. Além disso, até então não existia nenhum remix ou edit dessa música, mesmo que não oficial.

Do início até a finalização desse remix, quanto tempo levou e quais foram os principais desafios nessa releitura?

O processo de produção acabou levando aproximadamente uns 3 meses… e eu gosto desse ritmo, à medida que você vai ajustando tudo aos poucos, até alcançar a versão final que imaginou.

Os desafios foram dar uma cara mais de pista para a música, dentro de um cenário ‘Disco House’, mantendo e respeitando toda a sua base e estrutura originais. Apenas acrescentei algumas novas camadas de percussão, teclas e linha de baixo, além de uma leve mudança no arranjo – tudo feito com muita elegância e delicadeza.

Ao longo da sua carreira você já produziu outros remixes e edits para clássicos da música brasileira ou este foi o primeiro?

Sim, da mesma forma que fiz para Realce, tenho vários outros remixes ou edições ainda não lançados. Entre eles estão Cravo e Canela do Milton Nascimento, Odara do Caetano, Diariamente da Marisa Monte, Lanterna dos Afogados dos Paralamas, Ando Meio Desligado dos Mutantes, Baile de Máscara do Bala Desejo, Coqueiro Verde do Erasmo Carlos, além de mais alguns.

Você como DJ já possui mais de 30 anos de carreira, mas só se jogou de cabeça na produção musical nos últimos cinco. O que te impulsionou a explorar esse outro lado? Teve incentivo de alguém?

Eu sempre soube que isso seria inevitável em algum momento, mas confesso que o fato de não dominar as técnicas de produção funcionava como uma barreira. Beto Chuquer, meu filho, DJ e produtor, sempre me ‘cobrou’ isso… insistentemente.

Outro grande amigo e parceiro, DJ Meme, idem… até que eu acabei entrando nesse mundo sem volta. Ainda continuo sem domínio total da técnica, mas as ideias não param, e para colocá-las em prática, trabalho em conjunto com o Estúdio Drumagick, numa parceria que vem dando certo desde então, onde eles conseguem captar e realizar minhas demandas, seja nos arranjos, nos timbres, no formato, etc.

Seus lançamentos em selos internacionais como Shelter Records, Groove Culture, Unquantize, Jardineira, e agora esse remix do Gil, mostram que você tem evoluído como produtor. Como tem sido essa jornada?

Eu desenvolvi uma extensa e grande rede de conexões ao longo desse período, principalmente fora do Brasil, com muitos DJs, produtores, selos e festas, nas minhas inúmeras viagens, seja para tocar ou para participar de um festival.

Então, na medida em que você tem uma boa produção em mãos, basta saber onde levar, onde e para quem mostrar, e as coisas vão acontecendo naturalmente.

Você comentou que seu estilo é sempre ligado a "tudo que tem Soul, que tem groove", com influências fortes de Jazz, Soul, Funk, Disco e House. E a MPB dos anos 70 como sua primeira grande paixão. Como esses elementos se misturam e aparecem nas suas produções e nos seus sets agora?

Uma vez, em 2013, fui tocar em Montreal no Club People a convite de Jojo Flores, com Louie Vega na sua festa Dance Ritual. Lá, conversamos bastante após a festa, e foi quando ele me disse que, para ele, havia uma única exigência para gostar de uma música: que era ter ‘Soul’.

Eu penso, e sempre pensei, exatamente dessa forma, e adotei esse jeito para resumir o enorme universo musical que eu curto - que vai desde Bossa Nova/Samba Jazz, Soul, Funk, Disco House até Techno. Acho que todos esses elementos acabam entrando espontânea e incidentalmente nas minhas produções, somados à minha experiência de pista… não tem como ser diferente.

[Entrevista de Milton Chuquer junto com Louie Vega para a Rádio Montreal]

Ficamos sabendo até que você foi surpreendido por um suporte de Laurent Garnier para sua faixa Eh Hup. Foi a primeira vez? O que isso significa pra você?

Fiquei e estou extremamente feliz, honrado e cheio de tudo que você possa imaginar. Laurent, além de ser um dos maiores de todos os tempos, é conhecido por sua profunda pesquisa e conhecimento.

Nos seus sets, você nunca vai ver algo se repetindo; tudo ali é decidido na hora, conforme ele está enxergando e sentindo a pista, contando a sua história e levando a galera na sua viagem.

Quando imaginei ‘Eh Hup’, já sabia que era uma track de nicho, que ficaria longe do top 10, para DJs que querem e buscam algo que soe diferente, mais intimista e que não seja mais uma boa produção com as mesmas fórmulas e estruturas.

Então, sabendo como é o Laurent Garnier, vi que ele enxergou exatamente isso na música, que sei que é o que ele busca sempre. Isso foi o famoso ‘acertar a música certa para a pessoa certa’! (E de um modo totalmente espontâneo.)

Recentemente a sua festa Sunday Sessions completou 20 anos. Como foi essa edição realizada no início de agosto? Quais artistas estão na sua bucketlist para virem ao país nas próximas? Quem você ainda sonha em trazer?

Foi uma festa linda! Tivemos o Cleber Port abrindo o baile com seu desfile de 7”, lavando a alma com muito Soul, Disco, Funk e Boogie.

Em seguida, os DJs do Sunday Sessions (eu, Rafael Moraes, & Roger Weekes) assumiram o som, e finalizando a noite, o Tomba Trio - com Marcio S, Mimi e Tuca.

A festa foi sold out, com muitos amigos e a família Sunday Sessions, que vem crescendo ao longo desses anos todos.

Já recebemos convidados internacionais como Osunlade, Timmy Regisford, François K, Joe Claussell, Natasha Diggs, Rich Medina, Jojo Flores, Benji B, Aroop Roy, entre outros.

No próximo dia 03 de outubro, teremos uma edição especial no Matiz, trazendo diretamente do Canadá o nosso amigo Jojo Flores.

Poderia dizer que um sonho que gostaríamos de realizar seria trazer a dupla Louie Vega & Kenny Dope!

Considerando este novo capítulo na sua carreira, quais são os próximos passos para Milton Chuquer? Podemos esperar mais lançamentos e remixes em breve? Obrigado!

Como disse no início, o caminho da produção é um caminho sem volta… você vai evoluindo e melhorando a cada passo, e as ideias não param de surgir.

Sempre tem algo novo rolando, e você sempre quer mais e mais… a barra vai subindo e os desafios também. Novos lançamentos acabam surgindo naturalmente.

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Imagens: Divulgação

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