Kaz James: conheça o prolífico produtor australiano por trás do Another Record Label
Artista de ascendência grega e italiana, Kaz toca algumas das mais famosas club residencies em Mykonos
Kaz James é um produtor australiano de ascendência grega e italiana. Entre suas produções estão sucessos como Paradise, Through Your Love, Stronger e Not in Love, que o colocaram numa posição de destaque entre os maiores DJs e produtores do mundo.
Em 2021, lançou sua própria gravadora, a Another Record Label. Seu single mais recente, Footprints, saiu em abril de 2022 e teve support de nomes como Pete Tong, Danny Howard, Laurent Garnier, Black Coffee, Guy Gerber, Claptone, Nora En Pure e Dennis Ferrer.
Conversamos com ele semanas antes de sua turnê no Brasil. Em outubro, ele vem ao país e toca em São Paulo e Santa Catarina (Warung).
Olá Kaz! Conte um pouco de sua história aos brasileiros que talvez ainda não conheçam você
Eu diria que minha primeira introdução à dance music começou assistindo a videoclipes quando era criança na TV nos anos 80. Lembro-me de acordar religiosamente cedo nas manhãs de sábado para assistir a um programa de música chamado ‘Rage’, que era a versão australiana da MTV.
Lembro de assistir bandas como KLF, Blackbox e C&C Music Factory e achei que eram a coisa mais legal que eu já tinha visto. Eu praticava copiando todos os movimentos de dança o tempo todo na frente da TV. Além disso, na época, minha tia ia a todas as boates de Melbourne e tocava muita discoteca e dance music pela casa. Eu me lembro dela tocando Patrick Hernandez “Born to Be Alive” e correndo pela casa cantando a letra em voz alta com ela.
Quando fiz 14 anos, comecei a frequentar baladas de menores e fiquei instantaneamente hipnotizado pelo DJ. Na época, o único lugar que eu já tinha visto um DJ de verdade era em videoclipes. Eu pensei que ser DJ era super legal. Eu voltava toda semana e passava horas sentado atrás dos DJs assistindo-os tocar vinil, totalmente fascinado pelo que estavam fazendo.
Meu padrasto era músico de jazz, então o jazz foi uma grande parte da minha infância. Sempre havia música jazz sendo tocada na casa. Eu aprendi o trompete crescendo, mas eu realmente não conseguia me relacionar com a música que estava sendo ensinada. Eu simplesmente não tinha nenhuma conexão com isso. Principalmente por causa do ambiente em que eu estava crescendo, nos anos 90 eu não conseguia me conectar com aquilo liricamente.
Eu aprecio agora que aprendi música, mas na época, detestava e achava muito chato. Tudo o que eu queria ouvir era dance music. Porque era isso que todos os meus amigos e todas as crianças do meu bairro ouviam. Eu cresci em um subúrbio muito étnico em Melbourne cheio de famílias de imigrantes italianos e gregos. A influência européia realmente contribuiu para a música que ouvíamos. Sempre havia um parente de alguém indo para a Europa e voltando com o novo disco dance mais quente ou a música disco Italo mais legal.
Quando eu tinha 16 anos, finalmente juntei grana suficiente para comprar um toca-discos. Eu andava praticando e mexendo no equipamento do um amigo, mas quando finalmente consegui meus próprios equipo e um mixer, a parada ficou mais séria. Eu ficava no meu quarto dia e noite praticando como um maníaco. Estava obcecado! Eu ia ao club e assistia aos truques e movimentos dos outros DJs, depois voltava para casa e praticava o que tinha visto na noite anterior. Não demorou muito para eu começar a tocar em todas as festas locais para menores de idade.
Cresci em uma família da classe trabalhadora. Minha mãe trabalhou duro para eu poder ir para uma boa escola. Então, quando finalmente terminei a escola e disse a ela que queria ser DJ, ela ficou de coração partido. Ela esperava outra coisa. Você tem que lembrar que naquela época os DJs eram meio que considerados perdedores. Não era visto como um trabalho real, era mais como um hobby. Você basicamente tocava no aniversário de amigos na garagem deles.
Essa era a visão estereotipada de um DJ no ano 2000. Isso tudo era pré-internet, então havia apenas um punhado de DJs que estavam realmente ganhando a vida tocando que eu só conhecia pelas revistas. Lembro-me de sentar com meu padrasto conversando sobre as preocupações de minha mãe sobre minha escolha de carreira de querer me tornar um DJ. Lembro-me de dizer a ele. “Quero muito me tornar um DJ internacional e produzir música”
Ele me disse: “o que você tem que fazer para fazer isso rolar?” Eu disse, “ir para Londres”. Ele disse: “então o que você está esperando? Vai nessa!” Ele na real achava que eu estaria de volta em um mês, desistiria e partiria para um emprego normal. Depois de Londres, acabei indo para Ibiza, onde consegui me virar em alguns shows aqui e lá e acabei tocando no terraço do Pacha. Lá conheci muitas pessoas da indústria que me ajudaram a conseguir mais e mais shows pela Europa.
Eu basicamente voltaria para Melbourne depois do verão na Europa, economizaria o máximo de dinheiro possível, depois voltaria para a Europa e tentaria tocar e obter o máximo de exposição possível.
Eventualmente, tudo valeu a pena em novembro de 2003, quando assinei um contrato com a Universal Records e tive um disco número 1 mundial chamado “I Like the Way (You Move)” sob o nome Bodyrockers.
Quais foram as primeiras influências na época em que você começou na música eletrônica?
Como DJ fui influenciado por muitos nomes por diferentes razões. Crescendo eu amava Erick Morillo. A maneira como ele tocava três discos ao mesmo tempo e deixava o público em frenesi era muito inspirador.
Eu também curtia como Frankie Knuckles tocava. A maneira como ele costumava mixar os discos sem tocar no vinil e só usava o controle de pitch para acelerar e desacelerar os discos era algo a se aspirar.
Laurent Garnier foi e ainda é uma verdadeira influência para mim. Seu estilo técnico impecável de misturar vários gêneros sem perder a energia da pista é algo que eu realmente nunca vi ninguém mais fazer.
Aprendi muito assistindo Derrick Carter. Ele toca discos que parecem um trem a vapor está vindo em sua direção... mas de uma forma sexy. Um groove único, enérgico, suave.
Também fui fortemente influenciado por DJs locais com quem toquei em Melbourne. Eu era o mais novo de todos na época e por algum motivo eles gostavam de mim e me apoiavam, então eu realmente ouvia e anotava o que eles estavam dizendo e tocando, os labels, como Soulfuric, Subliminal, Classic, etc. E o Steve e Rob, de uma loja de discos local, Rhythm and Soul, tinham um gosto musical incrível e cuidavam de mim, me ensinavam sobre discos quando jovem. Muito obrigado a John Course, Mark John e DJ Jorj pela orientação musical.
Além disso, Pete Tong sempre foi uma grande influência na minha carreira. Ao longo dos anos, ele sempre me apoiou e me guiou na direção certa musicalmente e como DJ. Para ser honesto também na vida em geral. Ele sempre apareceu para me dar aquele necessário chute na bunda.
Como residente no Fteliá Pacha Mykonos, após 6 anos de residência no Scorpios Mykonos, você pode explicar pra galera a importância de uma residência para artistas?
Eu acho que uma residência é importante porque te mantém alerta. Você precisa estar em constante evolução e isso te ajuda a definir seu som e seu público. Uma residência pode realmente te definir como artista.
Você precisa estar preparado para entregar bom desempenho semana após semana. Um que seja diferente ou melhor do que a semana anterior, porque muitas vezes você tem as mesmas pessoas vindo para te ver e elas esperam algo novo e excitante a cada semana. Uma residência te faz alcançar seu potencial mais alto.
Como anda indo a residência no Fteliá Pacha Mykonos?
A nova residência na Ftelia Pacha vem melhorando semana após semana. O público é predominantemente de amantes da música que estão definitivamente focados em ouvir música de qualidade, o que é um verdadeiro bônus para mim.
Como imaginei meu label ‘Another’ veio para trazer música e DJs que você não necessariamente ouviria em Mykonos. Tive convidados como Marvin and Guy, Laolu e DJ Holographic para citar alguns. Também temos residentes realmente bons como Maglia e Nick Morgan, que assinou contrato com a gravadora Another Record.
Foi um verão realmente inspirador, eu realmente gostei de tocar todas as semanas que tocamos lá.
Agora gostaríamos de saber um pouco sobre o Another Record Label. O que você nos conta?
O label é relativamente novo e lançado em novembro de 2021. O primeiro lançamento foi uma colaboração de Nick Morgan e eu chamada ‘Not in Love’. O disco foi super bem sucedido especialmente para um primeiro lançamento.
O segundo lançamento foi “Footprints”, que também vem fazendo bonito. Acabou sendo um sucesso para o label, e atualmente é um dos maiores hit dos clubes na temporada. Footprints está sendo tocado por todos, desde Black Coffee, Keinemusik, Hotsince82, Laurent Garnier, DJ Tennis, Pete Tong a Carl Cox, para citar alguns. Eu ainda não consigo acreditar o quão bem está indo! Era apenas para ser um disco discreto e bom para clubs underground, mas acabou se tornou um monstro.
O próximo lançamento da Another Record Label será lançado no final de outubro. Se chama “In Your Head” de Nick Morgan. É um som club incrível que realmente explode sua cabeça quando cai na pista. É definitivamente um disco que todos os DJs precisam em seus sets.
E sobre sua carreira como produtor, o que pode nos contar sobre próximos lançamentos?
Meu próximo lançamento se chama “White Rabbit”. É um lançamento oficial de uma collab com o Jefferson Airplane, com o qual estou muito empolgado. Obviamente, eles são uma das maiores bandas do século. Eu gravei o disco com Nick Morgan há mais de dois anos e nunca pensamos que a banda concordaria em nos deixar lançar. Mas aqui estamos agora! O álbum será lançado em outubro pela gravadora de Pete Tong, a Sony, “Three Six Zero”. Mal posso esperar!
Eu tenho tocado em todos os meus sets há dois anos e as pessoas sempre perguntam como obter uma cópia, então estou empolgado para finalmente lançar essa! Também estou perto de terminar meu álbum no qual venho trabalhando há alguns anos. Ele será lançado no início do ano que vem, então fique atento! Estou feliz com o resultado. Ansioso para compartilhar este com todos vocês. Faz muito tempo!
Como foi o lockdown para você, qual é a vibe de voltar a tocar ao vivo depois de 2 anos sem eventos?
Para ser honesto, eu gostei do lockdown. Eu fiquei preso em LA, que na verdade era um ótimo lugar para se estar naquela época. Então tive sorte. Pude experimentar e fazer coisas que eu nunca seria capaz de fazer.
A real é que quando a gente opta pela indústria do entretenimento e quando você se torna bem sucedido, você basicamente desiste da normalidade. Então, foi super legal ficar parado em um lugar por um longo tempo e apenas relaxar e ter algum tipo de rotina, seja cozinhando todas as noites ou fazendo caminhadas. Foi realmente bom!
De volta à sua carreira como DJ e produtor, como está a programação? Vem ao Brasil quando?
Estou voltando ao Brasil em outubro, estou super feliz. Toco em São Paulo e também num dos meus clubs favoritos, o Warung Beach Club em Floriapa. Amo tocar no Brasil, um lugar especial no meu coração. As pessoas, a vibe, a energia é algo que você não encontra em nenhum outro lugar do mundo. Realmente é um lugar extremamente especial. Fui abençoado por ter tocado aí antes. Não vejo a hora de voltar!
Última: sempre pedimos dicas para os novos talentos que estão na luta. Algum insight que você possa compartilhar com eles?
Não se prenda às besteiras ao seu redor. Você faz você. Há tantos DJs por aí se elogiando sem motivo. DEIXE A MÚSICA FALAR! Seja humilde! Concentre-se em você e esteja pronto para aprender. Quanto mais você trabalha, mais você aprende. No estúdio e no palco.
Seja positivo e acredite em si mesmo. Mais fácil falar do que fazer, mas é assim que as carreiras funcionam, leva tempo. Às vezes eles estão em alta e às vezes eles estão em baixo. Carreira é isso.
Soube que Nelson Mandela disse uma vez, “Eu nunca perco. Ou eu ganho ou aprendo.” Nunca me esqueço disso.
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