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Joeski e House Music: viaje numa conversa sobre paixão, legado e inovação com este icônico artista norte-americano

Dos beats de Nova York à cena global; mergulhamos fundo na jornada musical de Joeski, líder da tradicional Maya Records

  • Words: Marllon Eduardo Gauche | Main Photo: Andreas Hofweber
  • 5 January 2024

“Minha paixão pela música nunca foi impulsionada pela fama ou pelo brilho dos holofotes. Sempre foi sobre a arte e a capacidade de cativar o público, criar uma atmosfera convidativa e provocar alegria pura”. Apenas com esta frase, já é possível perceber o amor verdadeiro e profundo que o DJ e produtor norte-americano Joeski tem com a música eletrônica.

Ele é um daqueles seletos artistas que rompeu a barreira dos 30 anos de carreira e apesar de ter vivenciado muitas tendências e transformações na indústria, mantém-se fiel às suas raízes e a sua essência, o que com certeza lhe ajudou a chegar na posição de destaque que está hoje como um dos ícones da história da House Music.

Suas primeiras experiências com discotecagem remontam ao final dos anos 80, quando ele ainda fazia festas em alguns lugares do condado de Queens, em Nova York. Foi apenas por volta de 1992 que ele entrou de fato no circuito raver e consolidou seu nome no afterhours conhecido como Save the Robots.

“Foi durante esses long sets, onde o tempo deixava de existir, que aprimorei minha habilidade de guiar e envolver o público, criando uma experiência musical que transcendeu a mera diversão”, lembra.

No final dos anos 90, ele começou a se aventurar na produção musical e logo abriu-se o caminho para fundar a lendária Maya Records, em atividade até hoje e que inclusive ganhou um mix exclusivo tocado por Carl Cox apenas com faixas da gravadora. “Ter Carl Cox dedicando um programa inteiro ao meu selo foi verdadeiramente uma honra”.

Atualmente trabalhando em um novo álbum bastante diverso sonoramente, que será lançado pela Crosstown Rebels, Joeski apenas espera que sua música possa continuar fazendo as pessoas dançarem com rostos sorridentes, inspirando as próximas gerações - assim como essa entrevista, nossa primeira de 2024, também deve inspirá-lo, seja você um artista ou um fã.

Curta o bate-papo abaixo:

Olá, Joeski. É um prazer recebê-lo. Você entrou em cena no início dos anos 90 como membro fundador do coletivo de DJs The Chocolate Factory, mas não encontramos muitas informações sobre isso. Pode nos contar mais detalhes sobre quem formava este coletivo e qual era a filosofia por trás dele?

Primeiramente, obrigado por me receberem. Estou ansioso por essa conversa.

Sobre o The Chocolate Factory, não tínhamos a tecnologia de hoje para documentar adequadamente o que aconteceu naquela época. A Chocolate Factory foi originada de um coletivo que fundei com minha namorada, Heather Summerfield, e mais tarde passou a ser gerenciado por Carlos Da Fonseca. Contava com artistas talentosos como Onionz, Sameer e Ryde. Nossa visão era formar um grupo de DJs que se apresentasse juntos e criasse uma experiência musical única.

A inspiração para esse conceito veio da equipe Wicked de San Francisco, que se estabeleceu como um coletivo proeminente na Costa Oeste. Motivado pelo sucesso deles, comecei a organizar eventos em Nova York que rapidamente ganharam força e ressoaram no público. A recepção positiva e a energia nesses eventos eram contagiantes, levando a uma base de fãs em crescimento.

À medida que nossa popularidade aumentava, embarcamos em uma jornada juntos, viajando pelos Estados Unidos e mergulhando na cena rave. Foi uma época emocionante, repleta de performances memoráveis e experiências compartilhadas que moldaram nossas identidades musicais. Embora esses dias não tenham sido extensivamente documentados, o impacto e a influência que tivemos na cultura rave durante essa era continuam sendo uma parte querida de nossa história coletiva.

“Minha paixão pela música nunca foi impulsionada pelo fascínio pela fama. Sempre foi sobre a arte e a habilidade de conquistar o público”

Vimos que uma de suas primeiras e principais influências foi Louie Vega e suas apresentações no icônico Sound Factory Bar. Em que momento então você percebeu que poderia ser o próximo grande astro da House Music? Alguma residência em específico teve papel fundamental nessa virada de chave?

Para ser honesto, minha paixão pela música nunca foi impulsionada pela fama ou pelo brilho dos holofotes. Sempre foi sobre a arte e a capacidade de cativar o público, criar uma atmosfera convidativa e provocar alegria pura.

Toda quarta-feira, como um discípulo devoto, eu me encontrava no Sound Factory Bar, onde o lendário Louie comandava os decks com autoridade inabalável. Sua habilidade de comandar a multidão através do robusto sistema de som era nada menos que inspiradora.

No entanto, foi minha participação nas festas Save the Robots que realmente teve um impacto profundo na minha jornada. Como DJ residente, Keoki me convidou para mostrar minhas habilidades no warm up.

Essas festas tinham uma aura quase mística, começando às 3h da manhã e continuando até a tarde. Inicialmente eu fazia sets de três horas, das 3h às 6h, mas a fluidez orgânica da noite muitas vezes me levava a estender minha performance além do tempo previsto.

Outra residência de destaque foi nas festas "Together" de Tom Mello na The Roxy, em Nova York, onde muitas memórias especiais foram criadas ao tocar com os melhores, incluindo Louie Vega e Danny Tenaglia. Encerrar a noite após esses grandes artistas sempre foi um privilégio.

Essas experiências tornaram-se minha academia pessoal, uma espécie de escola. Elas me dotaram de lições inestimáveis na arte de comandar uma pista de dança e levar a multidão a uma expedição sonora prolongada.

Foi durante esses long sets, onde o tempo deixava de existir, que aprimorei minha habilidade de guiar e envolver o público, criando uma experiência musical que transcendeu a mera diversão.

“Aventurar-me na produção foi uma experiência incrivelmente gratificante. Ver a resposta do público a uma faixa que eu tinha acabado de criar é imensamente satisfatório”

Já no final dos anos 90, você começou a experimentar a produção musical. Como foi esse processo de adição ao seu repertório e como isso impactou sua visão da música eletrônica? Existe alguma faixa do início dessa jornada que você guarda com um carinho especial?

Durante meados dos anos 90, houve uma mudança perceptível na indústria da música, onde os produtores começaram a ganhar destaque como DJs.

Consequentemente, os shows de DJ tornaram-se menos disponíveis, o que me levou a considerar o próximo passo necessário para minha carreira musical. Era evidente que avançar significava mergulhar no mundo da produção musical.

No entanto, naquela época, montar um estúdio e criar música era um empreendimento caro. Mesmo assim, eu estava determinado a seguir meus sonhos, então economizei diligentemente dinheiro com meus shows e recebi o apoio da minha maravilhosamente solidária mãe.

Com isso, consegui montar um modesto estúdio. Entrar na produção provou ser uma experiência incrivelmente gratificante. Testemunhar a resposta da multidão a uma faixa que eu havia criado recentemente era imensamente satisfatório.

Entre as inúmeras faixas que ocupam um lugar especial em meu coração, uma que ainda ressoa comigo após décadas é "When We Used To Play", de Blake Baxter, lançada no respeitado selo Transmat de Detroit.

Esta faixa em particular resistiu ao teste do tempo e permanece como parte integrante dos meus sets, evocando memórias nostálgicas e capturando o espírito daquela época inicial com seu som atemporal.

“Ser incluído no Hall da Fama de Pete Tong é inegavelmente uma tremenda honra”

Não demorou muito tempo para que surgisse a Maya Records, em 2001, hoje uma gravadora lendária do cenário. Como foi a experiência de fundar o selo naquela época e como você percebe o papel dele na propagação da House Music dos EUA a nível global?

Durante esse período, eu me vi imerso no processo criativo, produzindo muita música. Em busca de um meio para compartilhar e apresentar meu trabalho, a ideia da Maya Records ganhou vida.

Formei parceria com meu grande amigo Chris Anastasi, que por acaso era dono de uma proeminente empresa de distribuição de discos em Nova York chamada Syntax. Essa parceria se mostrou perfeita, pois nos proporcionou uma rede sólida e estabelecida de distribuição.

Com a Syntax cuidando da distribuição, pudemos prensar e distribuir discos de vinil em quantidades significativas. Isso foi uma posição vantajosa para mim, pois permitiu que minha música alcançasse um público global.

Foi através da Maya Records que pude efetivamente estabelecer meu nome na indústria musical, ganhando reconhecimento e expandindo meu alcance.

Há alguns anos até mesmo Carl Cox dedicou um mix de duas horas exclusivamente com faixas da Maya Records. Como isso aconteceu? Você tem uma proximidade com ele?

Ter Carl Cox dedicando um programa ao meu selo foi verdadeiramente uma honra e um momento significativo. Foi um testemunho do reconhecimento e respeito que a Maya Records havia conquistado dentro da indústria.

Como aconteceu? A equipe de Carl Cox entrou em contato conosco com essa ideia e, naturalmente, concordamos sem hesitar. Foi uma oportunidade maravilhosa para o selo mostrar sua música a um público mais amplo.

O próprio Carl Cox não é apenas um artista incrível, mas também uma pessoa notavelmente humilde. Embora eu não descreva nossa relação como próxima, nós mantemos contato de tempos em tempos.

Vemos que você realmente dá muita importância para a gravadora, como se fosse sua filha pequena. Essa é uma analogia justa? Após mais de 20 anos cuidando disso, qual é o seu grande objetivo com ela?

Eu realmente mantenho a gravadora perto do meu coração. A analogia da pergunta é engraçada porque o selo é de fato nomeado em homenagem à minha filha, Maya. O objetivo da Maya Records era e sempre será fornecer uma plataforma para música de alta qualidade.

Estamos trabalhando para expandir o impacto do selo com outros artistas no cronograma de lançamentos e, em 2024, iremos hospedar as ‘Maya Sessions’ ao redor do mundo com line-ups inclusivos de artistas que compartilham a visão artística.

Bem, agora falando um pouco mais sobre novidades… há algum tempo atrás você foi introduzido no Hall da Fama de Pete Tong. O que isso representa para você? O sentimento é de que você chegou ao seu auge ou de que ainda pode alcançar coisas ainda maiores?

Ser introduzido no Hall da Fama de Pete Tong é indiscutivelmente uma tremenda honra, especialmente considerando a presença de inúmeros DJs e produtores talentosos que eu respeito profundamente.

Prêmios não foram um foco significativo para mim no passado, mas é gratificante ser reconhecido pela paixão e pela busca da excelência. Eu sempre vou me esforçar para avançar e compartilhar minha música com os outros. Sempre é possível melhorar e buscar metas maiores e mais brilhantes.

Soubemos também que você tem se mantido ocupado trabalhando ao lado de vários músicos instrumentistas que compartilham o mesmo estúdio em Brooklyn… o que está saindo disso? É uma forma de propor um novo desafio a si mesmo? Quais são os desafios (e benefícios) ao trabalhar dessa forma?

Atualmente, estou morando em Bushwick, no Brooklyn, e tenho meu estúdio em um prédio do outro lado da rua, que é cheio de estúdios de gravação e músicos incríveis, o que tem sido sem dúvida uma experiência transformadora nas minhas produções. A vibrante comunidade criativa que me cerca oferece uma oportunidade valiosa para colaboração e crescimento.

Trabalhar com colegas músicos e produtores, como Tariq Khan e John Young, me permitiu explorar diferentes perspectivas, habilidades e estilos artísticos. Essas empreitadas colaborativas ajudam a fomentar a inovação e me desafiam a sair da minha zona de conforto.

As influências diversas infundem a música com um sabor único e adicionam camadas de profundidade ao produto final. Sou muito grato por essas experiências e pela música que está sendo criada.

“O objetivo da Maya Records foi e sempre será proporcionar uma plataforma para música de alta qualidade”

Ainda sobre colaborações, é fascinante perceber a amplitude da sua influência na cena, já que você tem collabs com artistas muito distintos, de Diplo, passando por Green Velvet a Harry Romero. Como você vê esse impacto na sua carreira e qual é a importância, para você, de ter sua música presente no sets de artistas tão diversos como Damian Lazarus, Dixon e Seth Troxler?

Sempre escolhi cuidadosamente com quem colaborar. Geralmente, faço parceria com artistas que respeito e me inspiram, e também aqueles que fornecem diferentes perspectivas e me desafiam a crescer. Trabalhar com Harry Romero aqui em Nova York sempre flui de maneira consistente e sinérgica. Temos mais produções de HR & SKI chegando em um futuro próximo.

Além dos benefícios artísticos, as colaborações também oferecem a oportunidade de alcançar uma base de fãs maior. Ao aproveitar as redes uns dos outros, nossa música pode ressoar com um público mais amplo. É incrível e inspirador ter minha música tocada por tantos artistas e colegas que eu respeito, afinal, fazemos música para que ela seja compartilhada e estou muito grato por elas terem sido tocadas em tantos palcos.

Ficamos bem animados ao saber que um álbum pela Crosstown Rebels, pode onde você já lançou em oportunidades anteriores, está vindo por aí para este ano, correto? O que você pode nos adiantar sobre isso? Como tem sido o processo criativo deste disco e qual é o seu objetivo com ele?

Este é um projeto que estou realmente animado e já trabalhando há algum tempo. Sempre gostei da Crosstown Rebels, do Damian Lazarus. Temos uma relação de trabalho de muito tempo, então, quando Damian me convidou para fazer um álbum, fiquei feliz em aceitar.

Para este álbum, estou planejando explorar diferentes gêneros e estilos de música eletrônica e orgânica que eu amo. Desde vocais profundos até influências afro, latinas e de reggae dub, estou trabalhando para criar uma jornada musical diversificada e eclética.

Olhando para o futuro, como você gostaria de ser lembrado dentro da cena da música eletrônica?

Eu espero ser lembrado por compartilhar consistentemente música de qualidade e por permanecer fiel ao meu som de forma inabalável. Lembrado pela paixão e amor que tenho por esta música, evidenciados por um catálogo de lançamentos com milhares de músicas e uma agenda de turnês que raramente permite tempo livre. Eu amo o que faço — nunca parece trabalho, mesmo quando passo a maior parte do tempo fora da estrada no estúdio, criando.

Ao longo de mais de três décadas na indústria, você construiu uma carreira notável, deixou um legado duradouro e continua a inspirar novas gerações. Considerando toda essa jornada, qual mensagem ou conselho você gostaria de compartilhar não apenas com seus fãs, mas também com os artistas emergentes que aspiram seguir seus passos? Obrigado!

Em primeiro lugar, gostaria de agradecer a todos os fãs que apoiaram minha música nesta longa jornada. Espero que minha música possa inspirar as próximas gerações. A música é muito poderosa, então estou verdadeiramente humilde e honrado por ter a capacidade de passar minha vida amando o que faço.

Quanto ao conselho, mantenha-se fiel a quem você é como artista. A música é como a moda - há tendências que vêm e vão. Acredite em mim, vi muitas ao longo das últimas três décadas. Artistas que priorizam autenticidade muitas vezes resistem ao teste do tempo. Faça isso por amor e pelos motivos certos, trabalhe com inteligência, nunca desista e você terá sucesso.

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