Inteligência artificial cresce na música e faz parte do futuro da indústria
O futuro é agora!
Taryn Southern é uma personalidade famosa nos Estados Unidos. Uma das youtubers de maior sucesso no país, ela tem mais de 700 milhões de visualizações nos seus vídeos e já fez vários trabalhos como cantora, modelo, atriz, escritora e produtora.
No futuro, porém, talvez Southern possa ser mais lembrada pela sua iniciativa em 2017, quando foi pioneira no primeiro álbum produzido inteiramente por um software de inteligência artificial.
Intitulado de “I AM AI” (“Eu sou a inteligência artificial”, em português), o álbum pop foi produzido por um software chamado Amper. Esse programa foi protagonista na produção das músicas, enquanto ela deu o toque final em detalhes como duração, tempo e ritmo.
O álbum foi bem recebido pela crítica geral e chamou a atenção do mundo da música para a inteligência artificial. Uma área em franca ascensão em diversos outros setores da indústria moderna, desde o lançamento de Southern essa tecnologia vem sendo muito debatida entre profissionais da música.
Southern está longe de estar sozinha na inserção da inteligência artificial na música. A gigante Google tem o projeto Magenta, que tem como objetivo principal auxiliar compositores humanos na criação de canções.
De acordo com Douglas Eck, um dos funcionários da Google Brain, o sistema está progredindo. “O objetivo é que o software possibilite que os algoritmos entendam detalhes pequenos para processar e interpretar o que as notas musicais dizem. Assim os padrões são identificados”, afirma Eck.
O projeto de inserir a inteligência artificial na música não vem de hoje. Em 2016, a gigante americana anunciou a primeira música composta pelas máquinas, uma melodia de piano com duração de 90 segundos.
Também em 2016, Benoit Carré compôs uma música no estilo dos Beatles chamada “Daddy’s Car”. Para tal, o francês utilizou algoritmos na criação da canção e foi apoiado pela Sony Computer Science Laboratories (Sony CSL) para produzir os 180 segundos de música.
Segundo Nick Collins, autor de livros sobre música e cofundador da gravadora Chord Punch, o avanço dessa tecnologia na música é uma progressão natural. Ele traça um paralelo com outras descobertas das máquinas nesse ramo, como na década de 1980 com a chegada do MIDI. “Olhe para todas as possibilidades criativas que surgiram a partir da Interface Digital de Instrumentos Musicais”, afirmou o especialista.
Para as ficções, em um futuro não tão distante, a música criada pela inteligência artificial dominará a indústria.
É o caso do jogo Detroit: Become Human, que se passa no ano de 2034. No cenário criado pelo produtor do game David Cage, da Quantic Dream, as canções criadas pelas máquinas superam a qualidade dos humanos para esse trabalho. “A inteligência artificial é uma tecnologia difícil de ser ignorada. E ela vai se espalhar para todas as áreas”, diz Cage.
Por mais que Southern tenha utilizado o software Amper para criar o álbum “I AM AI”, a produção de massa de discos inteiros como esse ainda não começou. Para Steven Jan, pesquisador de música, por mais que as máquinas possam ser inteligentes, dificilmente elas serão capazes de terem a sensibilidade humana para a criatividade nas composições.
De acordo com o especialista, a música é a última fronteira da inteligência artificial. “A música é uma das exigências mais cognitivas de todas as atividades humanas”, afirmou Jan, que também trabalha na Universidade de Huddersfield (Inglaterra).
O avanço dessa tecnologia pode ser mais rápido do que o esperado. O impacto da inteligência artificial, por exemplo, já é visível em áreas totalmente dominadas pelos humanos, como o esporte.
No início de 2017, a máquina chamada Libratus derrotou alguns profissionais do poker na modalidade No Limit Texas Hold’em, que é uma variação tradicional desse esporte. Na ocasião, a vitória foi tão larga que levantou vários debates sobre como a tecnologia pode influenciar o futuro do poker.
Casos como o da Libratus mostram que a inteligência artificial pode ser melhor que os humanos até mesmo no esporte, e coloca uma interrogação sobre qual é o real limite dessa tecnologia.
O avanço da tecnologia é fundamental para prover o aumento de qualidade em diversos setores na sociedade, e na música não é diferente. A inserção cada vez maior da inteligência artificial nesse setor é um processo que parece inevitável.
A questão em aberto é se o álbum de Southern foi apenas um ato avulso na indústria da música ou se ele vai puxar a fila para uma série de produções inteiras realizadas a partir da inteligência artificial com apelo do público.