GIOLÌ & ASSIA: A nova sensação do underground mundial
Confira uma entrevista exclusiva com o duo Italiano de DJs & Producers
Giolì & Assia é um duo italiano formado por DJs & Producers que vem ganhando cada vez mais espaço na cena de música eletrônica internacional com diversos lançamentos de peso em labels importantes, além de suas apresentações LIVE com instrumentos orgânicos, colecionando inúmeros videos no YouTube com paisagens de tirar o fôlego.
Criando uma música que transcende não apenas as fronteiras musicais, mas também as políticas e as culturais, a dupla lançou no começo do mês uma colaboração icônica com a cantora, compositora e drag queen brasileira Pabllo Vittar.
“Quedate” apresenta uma paisagem sonora de inspiração mediterrânea, uma assinatura de Giolì & Assia, com a mistura dos vocais sensuais de Assia e de Pabllo, que complementam-se perfeitamente para criar uma fusão de sons, numa oferta musical sublime e descontraída.
A dupla está na mais recente capa da Mixmag Brazil. Entrevistamos as italianas na véspera do lançamento de “Quedate”. Confira a seguir!
Em primeiro lugar, é um prazer conversar com vocês nessa entrevista incrível. Essa é uma oportunidade para os fãs de música eletrônica do Brasil conhecerem vocês melhor.
Queremos saber como vocês se conheceram… já tinham experiência com música eletrônica ou foi algo que criaram juntas?
Nos conhecemos há seis anos pelo Facebook: Assia viu um video musical meu e decidiu escrever para mim, dizendo que amava o que eu fazia e precisava de minhas músicas em sua playlist.
Naquela época eu morava em Cambridge, para melhorar meu inglês, e ela estava se formando em russo em uma universidade siciliana.
Depois de nossas primeiras mensagens, nos sentimos conectadas imediatamente, falamos sobre objetivos de vida, sonhos, paixões, música, fotografia e nunca paramos desde então.
Eu (Giolì) não tinha formação adequada em música eletrônica, vinha dos meus estudos de piano clássico.
Eu também toquei em algumas bandas de rock, mas nunca fiz uma mixagem ou trabalhei como DJ antes. Assim como Assia: ela gostava de bandas indie rock como Alt-J, Mumford & Sons, The XX.
Não sabíamos o que estávamos fazendo no início, apenas sabíamos que queríamos projetar nosso trabalho juntas e atingir todos os objetivos com os quais sempre sonhamos.
Então, lentamente criamos nosso som, música após música, começamos a saber o que gostávamos e o que queríamos expressar através dela..
Quais foram as principais lutas para desenvolver seu projeto na Itália? Temos visto um aumento de artistas vindos de seu país, mas estamos cientes do quão fraca é a cena da música eletrônica é por lá. Como foi esse processo para vocês?
Não sentimos que tivemos lutas na Itália, simplesmente sabemos que nosso público mora em outros países, e nunca reclamamos disso.
Amamos viajar, e viajar por diferentes partes do mundo era o nosso objetivo de vida. Graças às redes sociais, hoje em dia é possível morar em um país e ter fãs morando a quilômetros e quilômetros de você.
Essa é a razão pela qual nunca escrevemos músicas em italiano, porque não queríamos ter limites de linguagem, queríamos alcançar o maior número de pessoas possível com nossas letras.
O público italiano provavelmente tem um gosto musical diferente, apóia mais o pop italiano, ou trap ao invés do eletrônico, mas temos forte representação de produtores eletrônicos italianos, como Meduza, Tale of Us, entre outros.
De onde vocês tiram inspiração? Existe um artista ou gênero específico?
Recebemos inspiração de diferentes artistas de diferentes gêneros. Amamos Stromae tanto quanto amamos Billie Eilish, Paul Kalkbrenner ou Rosalia.
Nós realmente acreditamos que uma boa música é uma boa música, e nunca quisemos colocar limites em nossa criatividade quando se trata do lado da produção.
Recentemente, começamos a escrever canções em espanhol, como “Bebe” e “Quedate”, porque amamos espanhol, e dissemos a nós mesmas “por que não?”.
Como italianas, nossa língua tem muito em comum com o espanhol, e Assia fala fluentemente.
Frequentemente ouvimos as canções de Rosalia e Bad Bunny, e pensamos que existem alguns tipos de emoções e sentimentos que só a língua espanhola pode atingir.
Achamos que os idiomas são como instrumentos, como guitarras, piano ou bateria, você pode usá-los corretamente se as conhecerem.
Elas são instrumentos para alcançar as pessoas e expressar coisas como emoções, tentando se conectar com pessoas que sentem o mesmo e precisam dessas letras para se sentirem melhor ou até compreendidas.
No entanto, falando sobre inspiração, não ouvimos apenas cantores. Ouvimos Yann Tiersen e Einaudi, e é por isso que para nós a parte musical de nossas produções é tão importante quanto as letras.
É fácil ver a ótima conexão que vocês têm quando se apresentam. Como separam a vida de casal da vida da dupla de DJs? Ou não há separação?
Podemos facilmente dizer que não há separação entre as duas vidas, e provavelmente essa é a melhor parte do nosso relacionamento e de onde vem a química.
Poderíamos conversar sobre música, trabalho, turnê ou conseguir um sofá novo, no mesmo dia. Estamos crescendo juntas, desenhando nosso trabalho no dia a dia, curtindo os momentos mais simples e cuidando dos mais estressantes.
Claro que às vezes pode ser difícil, como qualquer outro casal, mas agradecemos a oportunidade de sempre viajarmos juntas e trabalharmos juntas, isso nos permitiu crescer na mesma direção e nunca nos sentirmos desprezadas pela outra.
“A felicidade só é real quando compartilhada”! Sabemos que nunca poderíamos fazer isso sem a outra, mas, principalmente, nunca poderíamos aproveitar esta vida sem ter uma a outra.
Vocês acham que o fato de vocês serem um casal LGBTQIA+ atrapalha sua carreira artística? Já sentiram alguma discriminação dentro da indústria da música eletrônica?
Não, nunca nos sentimos discriminadas por sermos um casal. Apenas um único episódio há alguns anos. Deveríamos nos apresentar na Malásia, mas eles negaram nossa viagem.
Foi chocante para nós, porque foi a primeira vez que nos sentimos diferentes ou erradas em alguns aspectos. Foi a única vez em anos. Em vez disso, sempre nos sentimos valorizadas e apoiadas.
Tivemos o prazer de receber muitas mensagens de fãs vindos da comunidade LGBTQIA+ dizendo que fomos uma inspiração para eles se apresentarem ou começarem sua carreira musical.
Sentimo-nos muito sortudas por termos nascido nesta época, há menos de cem anos atrás as mulheres nem sequer podiam votar no nosso país.
No entanto, o caminho para a igualdade ainda é longo para as mulheres e a comunidade LGBTQIA+.
Recentemente, a política italiana negou uma lei contra a discriminação, chamada DDL Zan.
Ficamos decepcionadas e com raiva, porque amamos nosso país, mas não podemos acreditar que os políticos não se importam e lutam pela segurança de seus cidadãos.
Hoje sentimos que o cenário da música eletrônica é um lugar seguro para artistas LGBTQIA+. Vocês também sentem isso?
Sim, a música é o melhor lugar para se estar, o ambiente mais seguro.
Música eletrônica, pop, RnB, cada gênero tem seu ícone LGBTQIA+ e isso é tão importante para os fãs mais jovens que precisam de inspirações diárias, exemplos vivos de pessoas que perseguem seus sonhos, sendo o seu verdadeiro eu.
Como vocês se sentem sendo duas mulheres e LGBTQIA+ em um mercado muito voltado para os homens?
Sentimos que nosso gênero não é tão relevante, nunca nos sentimos discriminadas por sermos mulheres.
Falando agora em “Quedate”, como vocês se relacionaram com a super estrela brasileira Pabllo Vittar? Houve uma razão específica para isso?
Amamos e ouvimos a música de Pabllo por muitos anos, então é claro que estávamos seguindo o perfil do IG dela.
Um dia, percebemos que fomos mencionados em uma de suas histórias e ficamos muito surpresos ao ver que ela estava ouvindo nossa música “Emptiness”!
Começamos a conversar e algumas semanas depois propomos a ela que colaborasse em uma de nossas canções chamada “Quedate”.
Ela amou a letra e a música em si, e disse que estava feliz por fazer isso acontecer.
Ficamos honradas em receber seus elogios, porque a amamos em primeiro lugar e ela é definitivamente um ícone para todos os músicos e artistas LGBTQIIA+ de todo o mundo.
Sempre ficamos maravilhadas com ela e a energia que ela coloca em cada música.
A faixa tem sua assinatura, inspirada na paisagem sonora mediterrânea. Como vocês trabalharam nisso?
Com a “Quedate” queríamos seguir a vibe de “Habibi” e de “Bebe”.
Gostamos de misturar nossas influências e como mencionamos antes, amamos tantos artistas e gêneros musicais, que precisamos sempre combiná-los e fazer alguns experimentos.
Amamos a “Quedate” porque é diferente.
É mais lenta do que nosso intervalo de BPM normal, mas você não pode defini-la como Reggeaton porque você ainda pode encontrar alguns sons eletrônicos nela.
Os vocais são incríveis, misturando a voz poderosa de Assia e a voz sensual de Pabllo, que se complementam perfeitamente, criando uma faixa sublime e descontraída. Como foi o processo criativo de “Quedate”?
“Quedate” é definitivamente uma das nossas produções favoritas até agora.
Começamos a instrumental em fevereiro de 2020, durante o primeiro lockdown, e depois de alguns dias escrevemos a primeira parte da letra.
Nossa ideia era criar uma música diferente das outras, mais lenta, melódica e romântica.
Nós sabíamos que queríamos encontrar o artista certo para colaborar, alguém que pudesse corresponder à vibe que queríamos para essa música, e Pabllo era definitivamente a artista que estávamos procurando.
Como vocês tiveram a ideia de usar vários instrumentos orgânicos em suas produções e shows ao vivo?
Tudo o que criamos começa a partir de um instrumento que pode ser o piano, o violão ou o handpan.
É por isso que, mesmo que a maioria das músicas que compomos tenha sons eletrônicos, costumamos deixar no projeto musical alguns instrumentos que também podem ser tocados ao vivo.
Giorgia toca diferentes instrumentos, então é ótimo vê-la se apresentando durante um show ao vivo!
Há alguma novidade que podemos esperar para 2022? Vocês vêm tocar no Brasil?
A maior novidade é definitivamente o lançamento do nosso álbum!
Mal podemos esperar para compartilhar com nossos fãs todas as músicas em que estivemos trabalhando desde o primeiro lockdown até agora.
Também estamos curiosas para saber a reação deles, esperamos que eles gostem tanto quanto nós!
A melhor parte de criar uma nova música é tocá-la ao vivo, então você pode esperar uma grande turnê mundial em 2022, que passará pelo Brasil e pela América do Sul com certeza!
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