Entrevistamos o DJ e produtor catarinense Marcelo Oriano

“Meu pai costuma dizer que hoje em dia existe vídeo no YouTube e app pra fazer qualquer coisa, mas a única coisa de que você não pode fazer download é a experiência”.

Tá aí uma palavra que não falta para Marcelo Oriano.

Claro, ainda há muito para aprender, absorver e compartilhar, mas de fato o DJ e produtor catarinense é um artista com uma rica bagagem musical, principalmente quando falamos em produção musical e suas várias etapas.

Ele já residiu um bom tempo em Amsterdam, período que viveu e aprendeu muito sobre música eletrônica, e hoje é um dos expoentes do Dark Techno no Brasil.

Hoje ele é dono live act de Techno Industrial poderoso, além de dedicar parte de seu tempo com o Fade.In Studios, uma plataforma de ensino sobre produção musical no YouTube com aulas constantes para os novatos e até aqueles mais experientes da cena.

Atualmente em uma nova tour pela Europa, Marcelo Oriano ainda encontrou um tempo durante seus dias agitados para conversar com a gente e responder essa entrevista exclusiva e inspiradora.

Falamos sobre suas iniciativas, trabalhos como post producer, segunda passagem pela Europa, experiência de mercado e arrancamos também algumas novidades.

Tudo isso você confere logo abaixo:

Fala, Marcelo. Tudo bem? Obrigado por nos atender.

Além de DJ e produtor, você tem feito muito pelo campo do ensino, compartilhando conhecimento com a galera mais nova na produção musical através da Fade In Studios.

Qual é a história que envolve essa iniciativa? O que te levou a seguir este caminho?

Marcelo Oriano: Oi! O prazer é meu em poder estar com vocês e poder falar mais um pouco sobre meu trabalho.

O projeto Fade In.Studios é o resultado da necessidade natural que surgiu de dar uma identidade e ‘endereço’ pra uma iniciativa que já acontecia informalmente há alguns anos: meu trabalho como educador.

Quando eu ainda morava na Holanda e estava formalizando minha profissionalização como produtor musical/engenheiro de som, criei um grupo no Facebook onde eu trocava informações com outros produtores e aspirantes.

Já naquele ambiente digital, algumas pessoas apontaram a minha facilidade em explicar temas complexos do áudio, elaborar tutoriais e destrinchar técnicas, ao mesmo tempo que fui descobrindo muito prazer no ato de ajudar quem precisava.

Quando voltei ao Brasil encontrei uma cena crescente em Florianópolis, com muitos DJs e poucos produtores, onde fui aos poucos incentivando colegas a baixar o Ableton e aprender a produzir, até o ponto em que recebi a primeira proposta para ser professor de modo tradicional.

Já nesta época em que aceitei os primeiros alunos em meu estúdio, também comecei a ministrar workshops pela região e colher importantes feedbacks positivos dentre os quais o que mais surgia: "você precisa fazer um canal no YouTube"

Apesar de cultivar por alguns anos essa vontade, nunca tinha tomado a iniciativa simplesmente pela total falta de tempo para me dedicar a todos os processos que envolvem se lançar na plataforma, tais como: identidade visual, edição dos vídeos, redes sociais, divulgação, etc… foi quando surgiu um colega que me fez a proposta que eu sempre quis ouvir: "Você só grava os vídeos e eu cuido de todo o resto".

Meus parceiros na iniciativa ainda estão ajustando muitas coisas a nível estético, tais como: o padrão das edições, as formas de divulgação, as thumbnails, etc…

Mas posso dizer que estou muito satisfeito com a aceitação do público e com a ideia de poder espalhar para um número sem limite de pessoas alguns ensinamentos que podem ajudar a surgir (ainda mais) música de qualidade em nosso país.

Além disso, também expandimos as dicas para o Instagram e em breve vamos soltar um curso COMPLETO de Ableton Live para venda a um preço extremamente democrático.

Além disso, você ainda encontra tempo para trabalhar como post producer em arranjos, mixagens e masterizações, certo? Como é sua rotina com essa frente profissional?

Sim! A minha principal ocupação durante as semanas hoje é o ofício como post producer.

Ainda aceito alunos particulares e obviamente reservo tempo pras criações autorais e pesquisa, mas o que me me permite viver dentro do meu estúdio e fazendo o que amo é o reconhecimento cada vez maior do meu trabalho no aprimoramento e finalização das obras de outros artistas.

Evidentemente o mais comum dessa frente profissional é receber tracks já produzidas para fazer a mixagem ou a masterização.

Porém, o que tem atraído muitos clientes até mim e que considero o maior diferencial do meu trabalho, é o fato de que também desenvolvi um serviço no qual ajudo a pessoa a finalizar tracks em desenvolvimento.

Nesses casos o cliente chega até mim com um arranjo por terminar, um loop ou algumas ideias com as quais está inseguro e, juntos no meu estúdio ou pela internet, damos um encaminhamento até a música ficar com qualidade o bastante para ser lançada.

Na sua opinião um produtor precisa entender mais a fundo sobre o assunto ou não é uma necessidade obrigatória para produzir música de alto nível?

A música eletrônica underground é o único gênero musical onde boa parte dos artistas opta por fazer (ou pelo menos se envolver ativamente em) todas as etapas técnicas do processo de criação e finalização.

Como bem sabemos, na elaboração de obras de rock, pop, country, rap, EDM... quase sempre existe, além dos artistas compositores e intérpretes, uma equipe que se divide em especialistas para cada uma das necessidades técnicas, tais como: técnico de gravação, arranjador, produtor, engenheiro de mix, engenheiro de master, etc.

Compreender isso deixa claro, portanto, que não é preciso entender a fundo estes assuntos para se lançar música de alto nível.

O que ocorre, ao meu ver, é que entre os produtores de techno, house, drum and bass e outros estilos o domínio desses conhecimentos é quase sempre consequência de uma questão financeira aliada à tradição, "cultura DIY" e orgulho (no bom sentido) dos artistas.

No seu caso, o que de melhor toda essa experiência agrega no seu perfil atualmente?

Meu pai costuma dizer que hoje em dia existe vídeo no YouTube e app pra fazer qualquer coisa, mas a única coisa de que você não pode fazer download é a experiência.

Percebo que todas essas horas fazendo pós produção me tornam cada vez mais um engenheiro assertivo e aprimoraram meus ouvidos, uma vez que diversas situações de rotina se repetem e com isso vou aprimorando as técnicas e plugins preferidos para lidar com cada uma delas.

Além disso, sinto que as horas de trabalho no estúdio me tornam um artista melhor tanto por consequência de estar constantemente imerso em projetos dos mais variados estilos e influências, quanto por me fazer apto a trocar experiência em mais alto nível com meus pares.