Coluna Mister Jam: a produção nacional
Mister Jam fala sobre a produção de música eletrônica brasileira
Coluna Mister Jam: Parte 2
Iniciei minha vida na música eletrônica compondo para esse álbum. Nada mal para um cara que pegava o ônibus de terno e gravata e passava os dias "trabalhando" como trainee de marketing na extinta Bolsa de Valores do Rio.
A tarde quando o expediente terminava, interrompia o itinerário do busão que me levava de volta para casa, para descer na World Music e buscar os lançamentos que ouvia na rádio no programa Dancidade, comandado pelo André Werneck (personagem que foi fundamental para o sucesso e difusão das produções nacionais).
Com apenas um teclado SK-1 Casio e fones de ouvido, compus duas das faixas, no intervalo de almoço, no banheiro masculino!
As faixas foram sucesso no álbum e tornaram-se singles mas, o mais importante foi abrirem portas para a gravação da primeira faixa de trabalho da minha banda Mr. Jam – Shining Light, praticamente um Ace of Base brazuca.
O ano de 1995 ainda me deu duas surpresas boas: duas de minhas composições tornaram-se hits da época, varrendo rádios e pistas: Claudja – Brand New Day e Karina – Vidas Nuevas.
Do outro lado da Via Dutra, aqui em Sampa, o trio dance 'Sect' ganhava cada vez mais notoriedade. Sob o comando de Gui, seu irmão Tchorta e vocais de Patrícia Coelho, a faixa 'Follow You' despontava nos charts.
Por muitas vezes Sect e Mr. Jam cruzaram caminhos, dividindo gigs e camarins no interior de São Paulo.
Em muitas cidades, era comum o contratante solicitar que fizéssemos o show falando com o público em inglês. O público de 1995 era outro e estranhava o fato de cantarmos em inglês e por outro lado sermos brasileiros. Rolava até uma certa decepção de sua parte, quando entre as músicas interagíamos em bom português.
Os tempos mudaram e dez anos depois, em 2005, o mercado evoluiu e muito.
Nessa época, sabe lá por que, eu tentava me afastar com todas as forças do mercado eletrônico, quando uma das produções mais recentes entrou em uma trilha sonora de novela e estourou: 'Can't Get Over – Kasino' simplesmente tomou de assalto mais uma vez o mercado.
Os sintomas, senti logo em uma semana de execução: pedidos de shows, DJs solicitando a 'extended' (atual 'club mix'). Um dos maiores incentivadores da "dance brasileira"nessa época (e até hoje) foi o DJ Ronaldinho através do programa 'Lunch Break' pela Rádio 97FM.
Outro nome de destaque foi Paulo Pringles, comandando o Planeta DJ pela Jovem Pan.
Foi inevitável: acabei sendo tragado de volta ao mercado "dance" e pude ver algo incrível: o mercado havia se reinventado.
A gravadora da vez era a Building Records e através dela, diversos projetos nacionais tiveram destaque: Dalimas (da vocalista Giselle Abramoff), Daytona, House Boulevard (Tom Hopkins, outro nome que merece um destaque pela contribuição e formação da cena) e até o ítalo-brasileiro Double You ressurgia, nessa geração que mais uma vez dominava as programações das rádios.
O público já aceitava sem problemas, brasileiros cantando em inglês e comparecia em peso aos "Planet Pops" – festivais de música eletrônica comercial, que em muitas edições lotou o Via Funchal (SP). DJs dividiam o palco com os artistas dance do momento.
Estamos de volta a 2015 e encontramos um mercado vertiginosamente transformado e em constante evolução: um mundo sem igual, fronteiras e distâncias já não existem e em fração de segundos uma track recém mixada é enviada de um estúdio para o case de diversos DJs.
A promo-divulgação é feita em um clique pelas redes sociais, com alcances talvez jamais sonhados no, agora longínquo, ano de 1995.
Esse é um outro mundo: a EDM das pistas fundiu-se de vez com o pop e as tracks de colaboração entre artistas internacionais consagrados e DJs 'superstars' já não são novidade: são lançados frequentemente.
A música eletrônica comercial resumiu sua estrutura e já não comporta a sequencia convencional "verso-pré refrão-refrão". A cultura do "drop" tomou parte na briga e fez linhas melódicas e "hooks" ganharem tanta importância ou mais que um refrão em uma track.
A produção não depende mais de equipamentos caríssimos e hoje, as plataformas estão muito mais intuitivas e os synths virtuais despejam centenas de soundbanks incríveis a cada dia.
Tudo está mais acessível. Lógico que talento, noções musicais e técnicas são fundamentais, mas o que nota é o nascimento de diversos "producers" por minuto.
As majors parecem ter vislumbrado o poder comercial do segmento.
A Universal, Sony e Som Livre são as que mais vem investindo e voltando seus olhos para o segmento. DJs tem espaço em seus casts e o futuro é promissor para o mercado da produção eletrônica nacional.
Salve a turma de 1995!
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Fotos: Divulgação / Arquivo
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