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A Síndrome do Impostor na indústria musical é comum, mas não é impossível de superar

A síndrome do impostor afeta muitos que trabalham na indústria da música

  • Hamda Issa-Salwe | Illustration: Dadara
  • 19 October 2020

Não consigo nem dizer quantas vezes me vi em uma mesa de reunião com a sensação de que, de alguma forma, entrei na reunião errada.

Eu me vi tantas vezes sentado lá pensando: "Todos aqui sabem exatamente do que estão falando, exceto eu", enquanto o conhecido jargão de escritório e a "linguagem criativa" voam pela sala.

Às vezes sou o mais novo, às vezes sou a única mulher e às vezes sou a única pessoa negra. Na maioria das vezes, me sinto o único impostor.

Você pode já ter ouvido o termo "síndrome do impostor": falar sobre esse monstrinho mesquinho tem estado em toda a minha linha do tempo e nos bate-papos em grupo e se a frase acima parece verdadeira, então é provável que você tambem esteja experimentando a mesma coisa.

A síndrome do impostor é caracterizada como medo da avaliação, medo de não ser capaz de manter o sucesso e medo de não ser tão hábil quanto outros na mesma área.

Acredita-se que cerca de sete em cada 10 pessoas vivenciem isso em algum momento, e nas indústrias criativas esse número sobe para 87 por cento.

Essa pequena estatística fornece uma estranha sensação de conforto. É um lembrete de que um grande número de pessoas neste campo pensa o mesmo.

Trabalhar na indústria da música geralmente envolve muito stress, cargas horárias exigentes, grandes volumes de trabalho, ambientes competitivos e uma dependência quase que total das demandas de shows.

Além disso, artistas em turnê, DJs e as equipes por trás deles têm que lidar com a instabilidade e diversos fatores estressantes que rolam com a vida na estrada: solidão, rotinas e horários anti-sociais, tensão nos relacionamentos e a presença de álcool e outras cositas más.

Condições perfeitas para gerar mais dúvidas na cabeça da galera.

E existe muito risco quando esse medo assume o controle.

Quando isso acontece, é bem menos provável que você sonhe alto com seus projetos, argumentos de venda e posições; você pode recusar oportunidades porque não se sente qualificado ou confiante o suficiente; pode minimizar suas realizações e sucessos ou decidir não buscar ideias em um mundo onde as ideias conduzem tudo.

Mesmo sendo uma das próximas DJs mais badaladas do planeta, não é defesa, diz Sherelle, residente da Reprezent e da BBC Radio 1, cujos sets de 160BPM chamaram a atenção de todos, de Annie Mac a Virgil Abloh.

“Eu experimentei a síndrome do impostor ao extremo”, diz ela.

“Principalmente nos primeiros dias, quando tudo estava começando. [Eu me lembro de estar] em um jantar com Midland, Jane Fitz e Galcher Lustwerk e os organizadores do Concrete in Paris.

Se minha namorada não estivesse comigo, acho que teria ficado em silêncio o tempo todo”.

De acordo com Jack Williamson da Music & You - uma organização que fornece suporte de saúde mental para pessoas na indústria da música - a síndrome do impostor não é uma coisa nova, mas o destaque atual acontece devido às conversas honestas que vem rolando sobre o assunto.

“O estigma está sendo lentamente removido da saúde mental em geral”, diz ele.

“O mantra sempre foi que você tem que fingir até conseguir, e que pedir ajuda era tabu - mas, lentamente, as pessoas estão [se permitindo ser] mais vulneráveis e, como resultado, a gente está começando ver mais pessoas falando sobre isso, o que faz parecer que mais pessoas estão experimentando a síndrome do impostor agora do que antes”.

O termo foi cunhado na década de 70 para descrever mulheres de alto desempenho experimentando uma sensação secreta de que não eram tão capazes quanto outros colegas - geralmente homens brancos mais velhos.

As psicólogas Suzanne Imes e Pauline Rose Clance explicaram que, quando essas mulheres foram incapazes de internalizar e aceitar seu sucesso, elas atribuíram suas realizações à sorte, e não ao seu próprio talento, e temeram logo serem desmascaradas como uma fraude.

Desde a década de 1970, as pesquisas sobre a síndrome do impostor se expandiram.

Muitas vezes vem de mãos dadas com outros problemas, como depressão, baixa auto-estima e ansiedade, todos problemas comuns na indústria musical.

Cerca de 70 por cento das pessoas que trabalham com música relatam ansiedade e ataques de pânico, enquanto 65 por cento experimentaram depressão contra 15 por cento da população média.

“Eu trabalho com música há 18 anos e as pessoas em nossa indústria são mais propensas a ter ansiedade em comparação com a média nacional”, confirma Jack Williamson.

“Pelo menos metade das pessoas com quem trabalho - tanto artistas como profissionais da indústria - experimentam de alguma forma”.

Ele diz que a autoavaliação pode ajudar a combater as inseguranças que surgem com a síndrome do impostor - bem como não ter medo de fazer perguntas ou terceirizar as coisas que seu conjunto de habilidades não cobre.

“Pergunte a si mesmo; quais são os principais pontos fortes que tenho que podem ajudar em todas as situações, quais são as áreas de desenvolvimento que não são tão fortes, quem posso aproveitar para me elogiar e ajudar a cumprir isso?”, Williamson comentou.

Para Sherelle, praticar o autocuidado ajuda a manter a síndrome do impostor sob controle. “É sobre ter certeza de que estou dormindo e comendo direito”, diz ela. “Eu parei de beber tanto. Tento não ficar até tarde na balada.”

Devemos todos levar em conta as palavras de Williamson e Sherelle. A síndrome do Impostor não é impossível de superar mas o melhor é encará-la de frente.

Hamde Issa-Salwe é profissional residente em Londres que colabora com empresas como Universal Music Group. Visite seu website here

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