A artista turca Elif está em ascensão meteórica e você não pode perdê-la de vista
Novo lar, novo selo, novas collabs e muito mais nesta entrevista exclusiva!
Talvez nem em seus sonhos mais loucos, quando ainda trabalhava como escritora cobrindo festivais de música ao redor do mundo, Elif imaginaria que se tornaria uma artista muito procurada em tão pouco tempo.
Nascida e criada em Istambul, Turquia, mas hoje morando em Barcelona, seu nome vem rapidamente conquistando um lugar muito merecido entre as estrelas da música eletrônica, a ponto de ter se apresentado no Coachella e, mais recentemente, no Tomorrowland, totalizando 13 apresentações apenas em junho.
“O calendário está cheio este ano por muitos motivos, mas estou acostumada com o DJ lifestyle em ritmo acelerado de viajar. É claro que é um desafio, mas acho que estou fazendo o trabalho extra para manter um bom equilíbrio entre minha vida pessoal e profissional. Não há uma receita, é mais como tentativa e erro. Você tenta e vê o que funciona para você e o que precisa mudar”, comenta ela.
E sua jornada como produtora tem sido tão impressionante quanto na carreira de DJ, já que sua estreia rolou na Anjunadeep, em 2019, e meses depois ela seria apresentada em outros catálogos impressionantes, como Stil Vor Talent, Abracadabra Music, A Tribe Called Kotori e Kindisch.
Como praticante de yoga, ao olhar para Elif, provavelmente você verá uma pessoa calma e sempre alegre, mas por trás disso há uma mulher poderosa que consegue causar frenesi nas pistas com sons curiosos e intensos que fluem entre linhas melódicas, padrões hipnóticos e basslines robustos.
Ela também é uma artista que tem forte senso de comunidade e está sempre pensando em ajudar os outros, a ponto de em breve abrir a própria gravadora, Marginalia, recebendo vários produtores que participam de sua jornada como DJ.
“Acho que há uma distribuição injusta e errada de recursos na indústria da música. Sinto que os colaboradores mais importantes desse ecossistema, os produtores que passam horas e dias em estúdio, são os menos recompensados. Eu queria começar uma gravadora para dar um lar a esses produtores incríveis para lançar música e compartilhar um pouco do holofote com eles”, diz.
Aprofundamos nesses e em outros temas para que você possa entrar no maravilhoso mundo de Elif e conhecer essa artista indiscutivelmente talentosa.
Olá, Elif! É um prazer recebê-la na Mixmag Brazil. Você é de Istambul, na Turquia, um lugar com uma força cultural bem grande. Apesar disso, seu som não traz referências diretas da região, certo? Como vem moldando sua identidade ao longo dos anos?
Olá! Estou super feliz por essa conexão também. Sim, nasci e cresci em Istambul e sim, é uma grande mistura de culturas europeias e do Oriente Médio, muitas vezes comparada a um caldeirão :)
E sim, como você disse, sempre evitei usar sons e referências do Oriente Médio em minhas músicas. Para mim, culturalmente, eles representam coisas que realmente não pertencem a um clube.
Talvez para os ocidentais alguns desses sons e referências possam soar legais e interessantes, mas eles me lembram funerais ou casamentos, então sempre evitei conscientemente as referências regionais e também nunca segui a tendência quando estava mais forte, há um tempo atrás.
Soubemos que você se mudou no final do ano passado para Barcelona por conta de uma crise financeira que atingiu Istambul. Nestes meses o que de melhor você pôde absorver da cidade? O que te levou a escolher a Espanha/Barcelona como seu novo lar?
Sim, me mudei para Barcelona, mas não apenas por conta da crise financeira. Ter que deixar meu apartamento devido à inflação e desvalorização da nossa moeda foi definitivamente um dos catalisadores dessa mudança, mas acho que a crise na Turquia é um pouco maior do que apenas financeira.
Eu estava enfrentando o risco de não conseguir vistos para minhas viagens, restrições injustificadas na indústria do entretenimento e a vibração geral de raiva/decepção geral da juventude e meus traumas me fizeram tomar essa decisão.
Morei em Barcelona há 15 anos por um semestre, quando estudava arquitetura. Passando muito tempo na maioria das grandes cidades europeias, por seu tamanho, cultura, comida e, mais importante, pelo maravilhoso aeroporto, escolhi Barcelona como minha nova base e não poderia estar mais feliz.
Eu amo a cultura mediterrânea que nós turcos compartilhamos com os latinos. O que eu gosto na Espanha é que ela tem aquela cultura mediterrânea calorosa e sincera, com um toque de lei e ordem da União Europeia no topo, então as coisas funcionam bem, mas ninguém fica obcecado com regras desnecessárias.
Há um bom equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, uma vida vibrante nas ruas, um incrível centro cultural das pessoas mais legais da América Latina e da Europa, e tudo isso me faz sentir em casa em Barcelona, mesmo sendo muito nova na cidade.
Você acabou de se apresentar no Fusion Festival e em outras grandes gigs como Tomorrowland e Hi Ibiza… wow! É uma agenda realmente incrível e apertada, com mais de 10 datas num único mês. Como mantem o equilíbrio entre a vida pessoal e artística? Em algum momento isso é um desafio?
Tocar no Fusion foi um sonho que se tornou realidade para mim, juntamente com alguns shows incríveis da ‘lista de desejos’ deste ano, como tocar no Coachella e no Tomorrowland. Hi Ibiza foi eleito o melhor clube do mundo por um bom motivo. São lugares incríveis para compartilhar música.
Minha agenda está lotada este ano por vários motivos, mas estou bastante acostumada com o ritmo acelerado das viagens. Claro que é um desafio, mas acho que estou fazendo uma força extra para manter um bom equilíbrio entre minha vida pessoal e profissional. Não tem receita, é mais tentativa e erro. Você tenta ver o que funciona para você pessoalmente e o que precisa mudar.
“Nasci e fui criada em Istambul e sim, é uma grande mistura de culturas europeias e do Oriente Médio, frequentemente comparada a um caldeirão.”
Em meio a essa rotina agitada, você ainda está arquitetando uma nova label, Marginalia, que irá apoiar, nutrir e desenvolver principalmente artistas emergentes e estabelecidos, certo? Nos conte mais sobre essa iniciativa e o principal objetivo por trás dela?
Nos últimos anos, tenho viajado e me apresentado em todos os lugares do mundo, mas eu não seria capaz de fazer isso sem as promos incríveis que alguns amigos produtores têm me enviado.
Acho que há uma distribuição injusta e errada de recursos na indústria da música. Sinto que os contribuidores mais importantes desse ecossistema — os produtores que passam horas e dias em seus estúdios — são os menos recompensados.
A ideia de abrir uma gravadora foi para dar um lar a esses produtores incríveis e compartilhar um pouco dos holofotes com eles. Para a maioria desses artistas talentosos é muito difícil chegar a grandes selos — que quase nunca ouvem novas músicas de nomes desconhecidos e, principalmente, ‘investem’ em perfis de artistas já construídos. Como estou crescendo de certa forma com a música dos meus amigos, quero que cresçamos juntos como uma comunidade.
Um dos pilares da gravadora é a absoluta liberdade sonora que os artistas terão. Por que você acredita que é importante este espaço criativo totalmente aberto? Você passou por dificuldades nesse sentido?
Eu vejo que sempre há alguns tipos de sons “do momento” de certas gravadoras, e eu não quero que meus artistas tentem seguir essas tendências para conseguir um lançamento ou reconhecimento.
Eu sei que muitos produtores tentam se encaixar em um certo estilo ou vibe para conseguir lançar nessas grandes gravadoras, mas o resultado é que eles se conformam a um certo som apenas por fazer e dão ctrl c+v em produções que soam como as outras, sem nada novo ou interessante.
Eu quero que meus artistas experimentem e criem o que eles querem, não o que eles acham que as grandes gravadoras ou a maioria do público quer. Também sou muito grata que esses jovens produtores tenham depositado sua confiança em mim com sua música.
Há alguma previsão do release de estreia? Você poderia nos adiantar alguns nomes que estão confirmados nos primeiros passos da Marginalia?
Estou planejando o lançamento de estreia para ser um EP meu em colaboração com alguns amigos. As collabs são a melhor maneira de me expressar artisticamente hoje em dia com minha agenda maluca de turnês. São mais rápidas e fáceis do que tentar terminar uma faixa sozinha e também representam a ideia que quero lançar com o Marginalia.
O próprio conceito da gravadora remonta ao século 11 e faz referência às notas, marcações, rabiscos e esboços extremamente inventivos feitos nas margens de livros e escrituras medievais - um lugar onde a imaginação humana estava livre para correr solta.
Uma das maneiras fundamentais que todos experimentamos é absorver os pensamentos, reflexões e fragmentos quebrados dos outros. São esses mesmos fragmentos que nos ajudam a conectar ideias e estimular a criatividade, e representam perfeitamente o tipo de diálogo criativo que procuro alcançar com a Marginalia.
Nos próximos meses, tenho alguns EPs incríveis de amigos cujas músicas tenho tocado pelo mundo. Do canadense Tenvin, que mora em Miami, do persa MANTi, de LA, e até de amigos brasileiros super especiais, o Althoff, que mora em Barcelona, e também meus dois “irmãos” que ainda não conheço pessoalmente, MRQZ e Tito Azevedo. Estes são os primeiros EPs confirmados. Estamos em contato com alguns remixers incríveis e mal posso esperar para compartilhar esses trabalhos incríveis muito em breve!
“A agenda está lotada este ano por muitos motivos, mas já estou acostumada com o ritmo acelerado de viagens de uma DJ.”
Ainda sobre lançamentos, mas agora sobre os seus. Você já lançou por Anjunadeep, Stil Vor Talent, Abracadabra Music, A Tribe Called Kotori, Kindisch, mas parece não ter uma preocupação tão grande em lançar músicas novas a todo momento, algo que a indústria tem “exigido” cada vez mais dos artistas. Você se sente pressionada de alguma forma com isso?
Não é uma realidade para mim lançar música nova o tempo todo com minha agenda de turnês. Fiz 5 shows nesta última semana e às vezes mal encontro tempo para dormir…
Também recentemente me mudei de Istambul para Barcelona, tenho reestruturado toda a minha equipe, trocado de agência, descoberto novas formas de trabalhar com pessoas que têm me apoiado desde o início, iniciando a gravadora etc. Então este ano é um ano de transição para mim, onde eu não queria me estressar com a pressão de lançar música o tempo todo.
A produção musical, como qualquer produção criativa, deve ocorrer naturalmente. Claro que faz parte do nosso trabalho e é claro que faço algumas colaborações e remixes de vez em quando.
Tenho que trabalhar com prazos - a propósito, acho que são um bom impulso criativo - mas espero passar mais tempo em casa assim que tiver minha autorização de residência.
Além disso, quando meu perfil estiver um pouco mais estabelecido, espero poder moldar minha agenda de turnês para poder ter um estúdio mais relaxado e um tempo pessoal em casa :)
Apesar disso, há novas faixas sendo finalizadas, inclusive com os artistas brasileiros que mencionou acima. Qual a sua relação com nosso país? Você acompanha mais de perto algum artista em especial? Como se conectou com Althoff, MRQZ e Tito Azevedo para estes próximos trabalhos?
É engraçado porque eu nunca estive no Brasil, apesar de já ter visitado muitas vezes e até morado na América Latina.
Está no topo da minha lista de desejos visitar o país incrível de vocês — é um dos poucos lugares onde não preciso de visto como cidadã turca (risos).
Também acho que turcos e latino-americanos se dão super bem. Temos uma cultura muito parecida, formas semelhantes de se conectar e se relacionar.
Ale (Althoff) mora em Barcelona. Eu toco o som dele em todos os lugares há algum tempo, então ele foi um dos primeiros artistas que pedi música quando decidi começar o selo e, eventualmente, também começamos algumas colaborações juntos.
É muito mais fácil quando você mora na mesma cidade. A namorada dele, Marina, adora peru e comida turca e às vezes cozinhamos juntas aqui em casa. Sou muito grata por chamá-los de amigos.
MRQZ e Tito eu nunca conheci na vida real. Somos ciberamigos (risos). Esses dois produtores incrivelmente talentosos sempre me mandam algumas músicas, até alguns meses atrás eles nem tinham nada lançado no Beatport.
Recentemente eles começaram a lançar em algumas gravadoras muito boas e estou muito feliz e orgulhosa de ver o crescimento deles nesse sentido. Super ansiosa pelo EP bombástico deles também.
Mal posso esperar para visitar o Brasil, tocar música por aí — inclusive recebo muitas mensagens de brasileiros — e formar um vínculo mais forte com este país incrível!
“Quero que meus artistas experimentem e criem o que gostam, não o que acham que grandes gravadoras ou a maioria do público quer.”
Mudando um pouco o foco: nós acabamos de atravessar uma pandemia e podemos dizer que estamos na era do streaming, da IA, com presença muito forte da parte audiovisual na cena eletrônica. Que oportunidades e desafios você encontrou ao longo do caminho e como tem buscado absorver/inserir essas transformações na sua carreira artística?
Quando o mundo fechou durante os lockdowns, encontrei uma maneira de tocar música e me manter conectada — e isso foi por meio de streaming. Adoro a tecnologia que nos permite conectar instantânea e remotamente. É claro que uma apresentação na Twitch não é a mesma que em um club, mas foi a melhor coisa que encontrei na época e sou grata por isso.
Hoje, a IA é um tópico muito interessante e estou super empolgada com isso, mas também espero que nós, humanos, sejamos inteligentes com relação a isso. Estou comemorando qualquer coisa que economize algum tempo, limpando algumas tarefas robóticas de nosso prato.
Espero que isso não torne as classes mais baixas da sociedade, que eram apenas uma força de trabalho para os ricos, mais irrelevantes e descartáveis. Espero que permita um melhor uso dos recursos e poupe os humanos de tarefas programáveis chatas/difíceis, ao mesmo tempo em que cria uma sociedade mais igualitária com mais tempo para o prazer e a criatividade. Espero que os humanos não estraguem tudo desta vez.
E além do que já falamos, quais são as novidades para os próximos meses que você pode compartilhar com a gente? Músicas novas, collabs, remixes ou outros projetos…
Como o lançamento do selo vem sendo meu foco principal, eu também consegui trabalhar em alguns remixes. Deve-se sair no final do verão (aqui da europa), para um artista que amo muito como ser humano e também admiro como artista.
Também tenho mais um remix para uma dupla de fábrica de bombas para uma faixa que tenho tocado em todo lugar! Ainda não há data de lançamento para esse. Também estou trabalhando em colaborações com alguns dos meus produtores favoritos e provavelmente lançarei a maioria deles na minha gravadora :)
Por último, mas não menos importante: qual conselho você daria para aqueles artistas que ainda estão na luta em busca de mais espaço e reconhecimento? Qual é a maior lição que você traz da sua jornada e gostaria de compartilhar? Obrigado!
Paciência é uma virtude muito importante nesta jornada. Também sempre digo que cada um deve abraçar suas próprias forças e fraquezas e construir uma estratégia de reconhecimento honrando-as.
Não odeie como as coisas estão hoje com as mídias sociais e tudo mais, porque é muito fácil olhar para tudo isso e ficar um pouco enojado, sendo honesta. Mas eu faço isso e também aconselho a quem me pedir: tente ver como você pode ser VOCÊ e fazer uso dessas ferramentas.
Não seja um hater mal-humorado, mas também não seja alguém que joga o jogo da popularidade perdendo a essência de si mesmo.
“O canadense Tenvin, deMiami, o persa MANTi de LA e meus super especiais brasileiros; Althoff, que vive em Barcelona, MRQZ e Tito Azeveda, do Brasil, são os primeiros EPs confirmados.”
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Producer:
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